Este artigo examina como suas políticas e ações reverberaram além das fronteiras nacionais, gerando condenações internacionais e legados que ainda desafiam a reconstrução do país
Foto: Arquivo/PR
O governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) deixou marcas profundas no Brasil, caracterizadas por ataques à democracia, retrocessos ambientais, uma gestão caótica da pandemia de COVID-19 e a promoção de discursos hostis contra minorias, especialmente mulheres. Este artigo examina como suas políticas e ações reverberaram além das fronteiras nacionais, gerando condenações internacionais e legados que ainda desafiam a reconstrução do país.
Ameaças à Democracia: Do Negacionismo Eleitoral ao Golpe de 8 de Janeiro
Bolsonaro consolidou uma narrativa de desconfiança nas instituições democráticas. Mesmo após a derrota para Lula em 2022, recusou-se a reconhecer os resultados, semeando dúvidas sobre urnas eletrônicas e alimentando teorias conspiratórias. O ápice foi o motim de 8 de janeiro de 2023, quando cerca de 5.000 apoiadores invadiram o Congresso, o STF e o Planalto, em um ato comparado à invasão do Capitólio nos EUA. 84 feridos, R$ 16 milhões em danos e mais de 1.400 prisões, com 265 condenações até 2024.
Investigado por incitação ao golpe, teve o passaporte confiscado em 2024. Um rascunho de decreto para instaurar um “estado de defesa” foi encontrado na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, sugerindo planejamento antidemocrático.
“Bolsonaro não estava em Brasília no dia, mas sua retórica inflamada foi o estopim”, afirma relatório parlamentar. Em fevereiro de 2024, ele pediu anistia aos condenados, reafirmando apoio aos extremistas.
Amazônia em Chamas: Desmonte Ambiental e Negacionismo Climático
Sob Bolsonaro, o Brasil tornou-se pária global em questões ambientais. Seu governo cortou 30% do orçamento do IBAMA (2019-2020), enfraquecendo a fiscalização, enquanto o desmatamento na Amazônia atingiu níveis alarmantes: 75,5% de aumento médio anual em comparação com a década anterior. Entre 2019 e 2021, 33.800 km² de floresta foram devastados — área maior que a Bélgica.
– Impactos globais: A destruição liberou 13,2 bilhões de toneladas de CO₂, agravando a crise climática.
– Povos indígenas sob ameaça: Em 2021, uma coalizão internacional pediu à Corte Penal Internacional que investigasse Bolsonaro por genocídio indígena, devido à invasão de terras protegidas para mineração e agricultura.
“Ele tratou a Amazônia como mercadoria, não como patrimônio da humanidade”, criticou o líder indígena Ailton Krenak. A negação das mudanças climáticas por Bolsonaro isolou o Brasil em fóruns internacionais, como a COP26.
COVID-19: Negacionismo que Custou Vidas
A gestão da pandemia foi marcada por desinformação e negligência. Bolsonaro chamou o vírus de “gripezinha”, boicotou lockdowns, promoveu a hidroxicloroquina e atrasou a compra de vacinas. O resultado: **mais de 600.000 mortes**, a segunda maior taxa do mundo.
– “Efeito Bolsonaro”: Estudos mostraram que regiões pró-Bolsonaro tiveram maior mortalidade devido à resistência a medidas sanitárias.
– Relatório do Senado (2021): Recomendou acusações por crimes contra a humanidade, homicídio e genocídio. “Sua gestão foi um experimento de morte”, declarou o relator Renan Calheiros.
Enquanto países adotavam auxílio emergencial, o governo brasileiro priorizou debates ideológicos, como a defesa do “tratamento precoce”, sem respaldo científico.
Guerra Contra as Mulheres e Minorias: Discurso de Ódio Institucionalizado
Bolsonaro normalizou a misoginia e a violência de gênero. Suas declarações — como dizer à deputada Maria do Rosário que “não a estupraria porque ela não merece” (2003) — ecoaram em políticas que reduziram proteções a mulheres.
– Feminicídios: Aumentaram 7,2% em 2019.
– Cortes orçamentários: Verbas para políticas de mulheres caíram, enquanto o Ministério da Mulher priorizou uma agenda conservadora, ignorando desigualdades estruturais.
– Violência política: Em 2018, mais de 50 casos de ataques online foram registrados contra mulheres, negros e LGBTQI+.
“Bolsonaro transformou o ódio em plataforma política”, denunciou a antropóloga Debora Diniz.
Um Legado de Caos e Divisão
O governo Bolsonaro foi marcado por crises sobrepostas: institucional, sanitária, ambiental e social. Seu projeto político, alinhado a setores radicais, deixou um país mais polarizado, com instituições fragilizadas e desafios urgentes, como a reconstrução da Amazônia e a reparação às vítimas da COVID-19. Enquanto processos judiciais avançam — incluindo investigações por golpe e crimes ambientais —, o Brasil enfrenta o desafio de curar feridas abertas por quatro anos de governança conflituosa.
Por José Américo Silva