Luciano Muñoz comenta os possíveis frutos da visita do atual governo ao poder americano
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu, na última sexta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Branca, em Washington. O primeiro encontro entre os dois chefes de Estado foi pautado na Guerra entre Rússia e Ucrânia, no combate à desigualdade racial e na parceria entre os dois países para combater as mudanças climáticas. Na visão do professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Luciano Munõz, o Brasil esperava mais dos Estados Unidos, e os Estados Unidos mais do Brasil.
No comunicado conjunto feito após o encontro, os presidentes conferiram “urgente prioridade à crise climática, ao desenvolvimento sustentável e à transição energética”. Entretanto, os negociadores brasileiros consideraram baixa a cifra de U$ 50 milhões oferecida por Joe Biden para a cooperação ambiental, já incluído o Fundo Amazônia. “Há no momento apenas uma promessa, pois o presidente norte-americano precisa obter apoio do Congresso para liberar os recursos. Hoje Biden não tem mais a maioria na Câmara. Em um jogo de dois níveis, sua oferta indica boa vontade. Contudo, será sempre possível culpar o Congresso se ficar de mãos atadas,”, considera do docente.
Quando questionado sobre a Guerra da Ucrânia, Lula afirmou em entrevista à CNN Internacional antes do encontro: “não quero entrar na guerra, eu quero acabar com a guerra”. Munõz acredita que o mandatário brasileiro fez uma fala pretensiosa. Para exemplificar o contexto, o especialista aponta que, em 2010, o Brasil foi ignorado pelas potências quando se articulou à Turquia para resolver o problema nuclear iraniano. “Que grupo de países amantes da paz Lula almeja liderar? Dentro do BRICS apenas a China teria cacife para pressionar a Rússia pelo fim do conflito”, supõe.
Munoz explica que, por um lado, a guerra perturbou o crescimento econômico chinês, pois desorganizou o comércio internacional. Por outro, a China observa atentamente até onde a Rússia é capaz de levar o Ocidente, de olho em suas pretensões expansionistas sobre Taiwan. Nesse sentido, o especialista indaga se seria o momento ideal do Brasil pressionar a China sobre as consequências da guerra.
O comunicado conjunto também menciona a importância da cooperação bilateral para garantir a “resiliência das cadeias de suprimentos”. Há a possibilidade de o Brasil vir a participar da cadeia de suprimentos de semicondutores produzidos nos Estados Unidos – isso ocorreria em detrimento da China. Segundo o especialista em Relações Internacionais, a posição equidistante do Brasil agora é adequada, porém difícil de manter. O melhor a fazer é mantê-la e direcionar energia para a agenda ambiental. “No momento, é tudo que temos. O país já fará muito se for capaz de cuidar de seus interesses e honrar seus compromissos”, completa.
Sobre o autor: Professor de Relações Internacionais no Centro Universitário de Brasília (CEUB). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília