Na última terça-feira (14), o Partido dos Trabalhadores (PT) reuniu importantes e históricos nomes de sua história para celebrar os 43 anos de fundação da sigla. O evento para 700 pessoas em Brasília foi marcado pela presença de José Dirceu. Desde 2005, quando deixou o último cargo público, são raras as aparições públicas do ex-ministro da Casa Civil.
O político, de papel importante na história do partido, ficou em um canto do palco, mas não passou despercebido. Foi citado durante os discursos de Gleisi Hoffmann, atual comandante petista, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva . Em ambas as vezes, foi reverenciado pela militância com aplausos entusiasmados.
Em entrevista à CNN Brasil, o chefe do executivo enalteceu a presença do aliado. “Casualmente, eu vi o Zé Dirceu lá sentado, até meio escondidinho. Eu acho que não tem de andar escondido. Tem de colocar a cara para fora”, disse o presidente na quinta-feira (16). Lula ainda mencionou que o político tem voltado a participar de eventos do partido. “Ninguém pode ser penalizado a vida inteira. Ninguém pode ser na política criminalizado de forma perpétua.”
A defesa do ex-deputado não é de graça. Se o partido hoje tem o que comemorar nesses 43 anos, incluindo a vitória de cinco campanhas presidenciais, parte disso se deve ao histórico militante. Oriundo do movimento estudantil paulista, Dirceu adotou no fim dos anos 60 uma postura de enfrentamento direto ao regime militar.
Em 1968, foi preso durante o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna (SP). Foi solto no ano seguinte como moeda de troca para a libertação do embaixador norte-americano Charles Elbrick, sequestrado por guerrilheiros do MR-8.
Exilou-se em Cuba, voltou ao Brasil de forma clandestina nos anos 70 e foi recomeçar a vida como comerciante no interior do Paraná. De lá, foi reconstruindo a rede de contatos, mudou-se novamente para São Paulo e foi apresentado a Lula, que se destacava naquele momento como liderança sindical no ABC paulista.
Também saiu de Dirceu a ideia de que o partido fizesse um programa de governo. Até então, o PT atuava como uma “frente de esquerda” e não havia garantia que as pessoas que lá estavam se comprometeriam com a sigla após a derrota do governo militar. Político hábil, logo percebeu que o período de lutas tinha mudado. Naquele momento, dialogar, falar para as massas e articular eram as melhores armas para combater o regime autoritário.
Desde então, destacou-se como um dos principais nomes da política brasileira e, como liderança, ganhou o respeito da maioria de sindicalistas e católicos que haviam fundado o PT. Presidiu o partido por sete anos, entre 1995 e 2002, período de importante crescimento da sigla no cenário nacional. Em 2003, assumiu o cargo de ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula.
Dirceu era um dos nomes mais poderosos da Esplanada dos Ministérios e candidato natural à sucessão de Lula. Embora não seja correto trabalhar com o que não aconteceu, não é difícil de imaginar que o político não teria dificuldades para chegar ao Planalto em 2010. Um dos fatos que comprovam essa percepção está justamente no nome escolhido para substituir o advogado na pasta em 2005: Dilma Rousseff.
O ex-ministro saiu de cena quando foi acusado por Roberto Jefferson de ser o mentor do esquema do Mensalão. Também chegou a ser alvo da Operação Lava-Jato, que perseguiu vários nomes da alta cúpula petista. As condenações fizeram com que o político fosse cassado, preso, ficasse inelegível e perdesse o registro da Ordem dos Advogados do Brasil. Nesse período, foi um dos únicos que não pleiteou redução de pena em troca de acusações contra antigos aliados, as chamadas delações premiadas. Hoje, várias dessas denúncias foram desconsideradas pelo Supremo Tribunal Federal e a isenção de promotores da Lava Jato e do então juiz Sérgio Moro são questionadas publicamente.
Quando Lula joga holofote sobre José Dirceu, em pleno 2023, ele não está só massageando o ego de um velho amigo, mas reescrevendo os desfechos das trajetórias de nomes que, assim como o dele mesmo, foram pisados e declarados como extirpados da vida pública. “A gente tem de brigar para construir outra narrativa na sociedade brasileira. Nenhum partido foi mais massacrado que o PT”, disse o presidente, ainda na entrevista à CNN. Mais do que uma fala, Lula está empenhado em seguir com essa luta.
Fonte: IG Política