Nos últimos três meses o Brasil recebeu a visita de pelo menos cinco representantes de alto nível no cenário internacional do meio ambiente.
Vieram checar de perto as promessas feitas pelo presidente Lula de que o Brasil estava de volta pronto para reforçar as fileiras em favor do ambiente, feitas antes da posse, na COP 27 no Egito.
O mais recente levantamento do painel internacional de mudanças climáticas e os episódios da crise dos Yanomamis, das enchentes, além do aumento do desmatamento mostram que há muito por fazer no nosso país.
Já em janeiro último o vice-presidente executivo da comissão europeia o holandês Frans Timmermans veio ao Brasil ouvir os planos do governo Lula para conter o desmatamento, visitar a Amazônia e discutir o programa da COP 28 que acontecerá em dezembro nos Emirados Árabes Unidos.
A pauta ambiental se cruza com a econômica uma vez que a União Europeia elabora duas legislações que afetam o Brasil: brecar a importação de commodities vinculadas ao desmatamento e adotar um mecanismo que vai taxar a importação de produtos conforme a sua pegada de carbono.
O enviado especial para o clima dos Estados Unidos John Kerry também esteve no Brasil para reafirmar a promessa do seu governo de contribuir para o fundo Amazônia.
O aporte inicial pode ser de 50 milhões de dólares, mas Kerry não confirmou o valor cogitado quando Lula esteve em Washington.
Falou em quantias maiores, mas a liberação dos recursos depende das complicadas articulações políticas domésticas e não descartou a necessidade de apelar a bancos de desenvolvimento e ao mercado de carbono.
Em março último o vice primeiro-ministro da Alemanha e ministro da Economia e do Clima Robert Habeck veio discutir o avanço do acordo União Europeia e Mercosul, mas com um olho nos compromissos ambientais e no hidrogênio verde.
Na mesma época chegou o ministro do Clima da Noruega Espen Eide para conversar sobre o desmatamento e destravar o Fundo Amazônia, do qual o país nórdico e o principal doador.
O Fundo que tem hoje cerca de três bilhões de dólares ficou paralisado durante o governo anterior.
Há 15 projetos já aprovados para receber recursos importantes.
Eide também discutiu o aproveitamento racional e responsável dos oceanos e o hidrogênio verde.
Essas mudanças ocorreram em um momentos em que o painel internacional de mudanças climáticas divulgou um novo relatório em que a evolução das mudanças climáticas confirmam os piores temores tornando mais frequentes inundações, tempestades e incêndios florestais.
Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis. A temperatura global já aumentou 1,1 graus centígrados muito perto dos limites ficados no Acordo do Clima de Paris, assinado em 2015, quando se prometeu limitar o aumento da temperatura global a menos de dois graus centígrados idealmente em 1,5 graus centígrados.
Mas 80 por cento da energia mundial ainda vem de fontes fósseis e a guerra na Ucrânia complicou a missão.
Na próxima reunião global sobre o tema, a COP 28, os países deverão atualizar os seus compromissos para questões como a emissão de gases de efeito estufa, a substituição de combustíveis fósseis e o combate ao desmatamento.
Nessas frentes os números do novo governo são ainda preocupantes.
O sistema deter que faz monitoramento por satélite para reunir informações em tempo real registrou aumento de 62 por cento no desmatamento da Amazônia em fevereiro em comparação com o mesmo mês de 2022 e de 97 por cento no cerrado em comparação com 2020 ano do recorde anterior.
Há uma discussão se a presença de nuvens nesses meses de período chuvoso nas duas regiões afetou ou não a comparação.
De toda a forma o novo governo não pode demorar mais a atuar.
A grave questão indígena, outro ponto que deverá ser alvo de esclarecimentos na COP 28 tem concentrado a atenção de Brasília.
Será ainda a oportunidade para o atual governo colocar em pratos limpos as informações distorcidas pela equipe de meio ambiente do anterior governo que apelou para artimanhas e truques como mudar a base de comparação para dizer que estava se esforçando para atingir as metas de desmatamento e facilitar os compromissos futuros e recuperar a credibilidade dessas estatísticas manipuladas para justificar o interesse global.
Fonte: Nacional