Preta Gil postou desabafo sobre traição do ex-marido em seu instagram na madrugada desta quinta-feira (29), nele a cantora relata que vem enfrentando um ano difícil desde o diagnóstico de câncer no intestino em janeiro. Além do árduo tratamento, os meses de 2023 foram marcados pela dissolução de seu casamento com Rodrigo Godoy.
Nos stories, ela compartilhou uma “ reflexão da madrugada ”, segundo ela, a traição começou em sua própria casa, Preta também diz ter sido cegada por seu “empoderamento” e sua “construção construção de sororidade”, que a fizeram ignorar seu “sexto sentido e intuição” em nome de ser uma mulher que não sente ciúmes.
Para Mayra Cardozo, advogada com perspectiva de gênero, especialista em Direitos Humanos e Penal, também mentora de Feminismo e Inclusão e líder de empoderamento, infelizmente há uma falsa noção daquilo que é empoderamento, porque até o empoderamento feminino é construído a partir de uma ótica de poder masculino, ou seja o conceito de empoderamento feminino é construído a partir de ideais da própria sociedade patriarcal.
“A gente entende o empoderamento feminino como: mulheres que passam imagens de fortaleza no sentido de não demonstrar sentimentos, mulheres que não sentem ciúmes, mulheres que não choram, que são fortes, que estão em reuniões e colocam o pau na mesa. É entendido pela sociedade, hoje, infelizmente um conceito de que empoderamento é algo que vem do poder masculino, como se uma mulher empoderada por padrão tenha que se comportar como homem, pois as que agem dessa maneira estão em posição de poder, claro, o poder é constituído na sociedade patriarcal como eminentemente masculino.”
Para a advogada, faz muito sentido o que a Preta Gil fala, porque o empoderamento feminino hoje é construído sobre o prisma de uma sociedade patriarcal, onde a mulher se masculiniza, e não estou falando de aparência, estou falando de postura de padrões. Basicamente como as frases ‘Ah eu pego e não me envolvo’ ou até mesmo ‘Faço isso, mas não vou chorar’ levando as mulheres a essa falsa ideia de empoderamento, achando que seriam mais confiantes ao agir como homem, não demonstrando sentimentos, não levando em conta responsabilidades afetivas e minando qualquer forma de vulnerabilidade, isso traduz muito o que a Preta quis dizer.
“Ou seja deixamos de demonstrar por que entendemos que isso é uma fraqueza, a gente acaba não ouvindo nossa intuição, que mulher empoderada não pode levar em conta esse tipo de besteira, logo a gente não se envolve nos relacionamentos sexuais como se isso nos tornasse pessoas mais fortes”, diz Mayra.
E isso tudo vem muito da problemática de não conceber o feminino, de não ver que o poder pode ser eminentemente feminino, quando deixamos de ver o poder que traga como principal valor a expressão na vulnerabilidade, porque esta mesma vulnerabilidade é capaz de gerar conexão, ela é o verdadeiro instrumento é capaz de empoderar as mulheres através da conexão, através de consolidar com valores.
“O que acontece hoje é que essa falsa ideia de empoderamento feminino ela é nada mais é do que reproduzir os homens, e reproduzir aquilo que os homens fazem, para estar no poder. Portanto a gente tem que remodelar essa essa maneira de ver o poder, precisamos trazer as nossas características, a gente tem que falar sim que nos importarmos, a gente tem que ouvir sim a nossa intuição, e a gente tem que fazer isso como o nosso mecanismo de poder, porque a sociedade patriarcal faz com que essas características são que independentemente femininas sejam vistas como fraqueza, e a partir disso trabalha ele jogando com essa ótica patriarcal pegando que nós mulheres temos de melhor, como gerar conexão, demonstrar vulnerabilidade, e de demonstrar empatia, de falar sinceramente, argumentar, de ter responsabilidade afetiva e joga isso tudo para fora porque é entendido que ser igual o homem é uma forma de ter empoderamento feminino.”
Vanessa Gebrim, psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC de São Paulo, acredita que a sociedade vê a traição masculina como uma consequência biológica. “Já quando é a mulher que trai, os outros veem com indignação e desrespeito; os números de feminicídio estão aí para provar. Isso causa uma divergência muito grande, culpa do machismo estrutural que acaba normalizando a situação. Como se para o homem o peso fosse menor em virtude de ser homem.”
Segundo ela, a traição acaba afetando muito o emocional da pessoa que foi traída. “Sensação de baixa autoestima, insegurança e incapacidade; Sentimento de tristeza e depressão, principalmente quando há falta de esperança em relacionamentos no futuro; Problemas relacionados à ansiedade, traumas ou TEPT (transtorno de estresse pós traumático) estão muito presentes. É muito importante o acompanhamento psicológico nesse processo”, defende.
Preta Gil acabou optando por deletar o post de desabafo . “Apaguei o post, porque os pombinhos me imploraram e eu realmente não tenho saúde para isso. Eles querem me silenciar, não entendem que não é sobre eles e, sim, sobre a minha vida. [Sobre] as consequências das atitudes deles no meu tratamento, meus sentimentos e minhas dores!”
Fonte: Mulher