A passagem de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito, foi aberta para pessoas nesta quarta-feira (1º) pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e Hamas. Ao todo, 490 pessoas foram autorizadas a deixar a área que vem sendo bombardeada pelas forças israelenses.
Essa primeira lista não conta com cidadãos do Brasil . Um grupo de cerca de 30 brasileiros ainda aguarda nas cidades de Khan Yunis e Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, para cruzarem a fronteira com o Egito. Um avião da Presidência da República aguarda no Cairo, capital do Egito, para realizar a repatriação dos brasileiros em Gaza assim que for possível.
A passagem de Rafah se tornou a única rota possível de saída para as pessoas na Faixa de Gaza desde que a guerra teve início, no dia 7 de outubro, já que é a única que não é controlada por Israel. Depois dos ataques surpresas do Hamas (que controla Gaza) a Israel, o país judeu promoveu um cerco total a Gaza, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos, combustível, energia elétrica e outros itens básicos, além de impedir a saída de pessoas.
Ao impor o cerco, as forças israelenses também exigiram que os palestinos se deslocassem para o sul de Gaza, já que o exército faria uma incursão ao norte – o que está em andamento . Segundo Israel, o sul (onde fica a passagem de Rafah) é uma zona humanitária segura, embora bombardeios tenham atingido a região diversas vezes.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que cerca de 1,4 milhão de palestinos tenham deixado suas casas desde o início da guerra – o número representa mais da metade da população de Gaza.
Com abrigos lotados, sistema de saúde em colapso e falta de itens básicos, Gaza vive uma crise humanitária sem precedentes, de acordo com agentes humanitários que atuam na região. Isso faz com que a única esperança para estrangeiros e feridos seja a saída pela passagem de Rafah, que também é a única alternativa para a entrada de alimentos e medicamentos para locais.
Controle da passagem de Rafah
A passagem de Rafah é controlada pelo Egito desde 2007, depois de um acordo com Israel. Na ocasião, o Hamas passou a controlar Gaza, expulsando o grupo palestino Fatah para a Cisjordânia.
Mesmo que a passagem seja controlada pelo Egito, Israel ainda exerce forte influência sobre a fronteira. Mesmo em períodos nos quais não há conflitos armados em andamento, é muito difícil entrar ou sair de Gaza, assim como qualquer passagem de suprimentos por Rafah precisa da autorização israelense.
Desde o início da guerra, portanto, Israel e Egito passaram a negociar, com o auxílio de atores terceiros, como os Estados Unidos, a abertura da passagem de Rafah. A negociação para a entrada de ajuda humanitária, que foi liberada quase duas semanas antes da saída de pessoas – ainda que de forma bastante restrita -, já tinha sido especialmente complicada.
Quando Israel e Egito pareciam ter chegado a um acordo, o governo egípcio denunciou que bombardeios israelenses direcionados a estradas da passagem impediam que os caminhões com ajuda humanitária entrassem em Gaza.
Na ocasião, o embaixador Ahmed Abu Zeid, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, criticou as acusações de que o Egito travava a entrada dos caminhões em Gaza. Segundo ele, era errado “responsabilizar o Egito pelo fechamento da travessia apesar de Israel promover ataques direcionados” à passagem. “A passagem de Rafah está aberta e o Egito não é o responsável por obstruir a saída de nacionais de países terceiros”, afirmou ele.
A saída de pessoas, porém, tem elementos que tornam as negociações ainda mais delicadas. Do lado egípcio, o país teme absorver uma crise se permitir a entrada de refugiados palestinos. É por isso que, embora feridos e estrangeiros estejam sendo liberados a deixarem o território gradualmente, a saída de palestinos está fora de cogitação.
Segundo o presidente do Egito, Abdel Fattah El-Sisi, o país recusa a ideia de Israel de “resolver a causa palestina às custas de seus vizinhos”. Nesta semana, um documento do Ministério da Inteligência de Israel vazado pela imprensa local aponta que o país pretende forçar a saída dos cerca de 2,2 milhões de palestinos em Gaza para o Egito.
A Faixa de Gaza, inclusive, já esteve sob controle do Egito no passado. O país deteve o enclave de 1949 a 1967, quando perdeu o território para Israel na conhecida Guerra dos Seis Dias.
Brasileiros de fora da lista
Até o momento, cidadãos de oito países e membros de organizações humanitárias internacionais foram autorizados a deixar a Faixa de Gaza pela passagem de Rafah.
O Brasil, porém, não foi contemplado até o momento. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirma que “confia” que os brasileiros que estão no enclave poderão sair “em breve”. Ao todo, são “34 brasileiros e familiares próximos cujos nomes foram informados desde 9 de outubro às chancelarias egípcia e israelense e às autoridades responsáveis na Faixa de Gaza”, diz o comunicado.
“Tanto o Presidente Lula quanto o Ministro Mauro Vieira têm realizado gestões em favor da saída dos brasileiros junto a diversas altas autoridades de Egito, Israel, Catar, Autoridade Palestina e de outros países da região. As gestões continuarão a ser feitas até que se concretize a saída dos brasileiros retidos em Gaza”, afirma o Itamaraty.
“Veículos contratados pelo Itamaraty seguem de prontidão, à espera da autorização para o trânsito do grupo pelo terminal de Rafah e, na sequência, por território egípcio até o aeroporto do Cairo, onde aeronave da FAB aguarda para o voo de repatriação”, completa.
Fonte: Internacional