A atriz Carla Diaz revelou esta semana que, por conta do seu forte desejo de ser mãe, congelou os óvulos para preservar a sua fertilidade. “Tem um sonho, em especial, que eu ainda não realizei e quero muito. E é sobre ele que eu quero falar. Um dos meus desejos é ser mãe. É um sonho meu. Não sei quando e como será, mas, em busca de realizar esse desejo, eu realizei o processo de congelamento de óvulos!! E descobri um mundo nesse contato com especialistas da área”, disse a atriz de 33 anos.
Juliette também ganhou as redes sociais nos últimos dias após revelar aos seus seguidores que iniciou o processo de congelamento de óvulos. “Não sei se eu já comentei com vocês que eu vou começar o processo de congelamento de óvulos, porque a ‘gata’ já está com 34 [anos] e eu quero ter liberdade. E aí eu comecei tomando essas vitaminas, depois eu vou fazer um exame, depois dos exames, se estiver tudo certinho, ela começa a aplicar as injeções, para depois colher,” disse a cantora.
Paula Marin, sócia fundadora da clínica Venvitre, em São Paulo, clínica de Reprodução Humana, explica que o congelamento de óvulos pode ocorrer por indicação médica, e os casos mais frequentes são de pacientes com câncer, que vão ser submetidas à quimioterapia e radioterapia, que são tratamentos que depletam de forma abrupta a reserva ovariana.
“As pacientes são com urgência encaminhadas ao especialista em Reprodução Humana para que tenham seus ovários estimulados e seus óvulos aspirados e congelados, para que depois sigam com os tratamentos quimioterápicos agressivos aos ovários. Outro exemplo de preservação de fertilidade por indicação médica são os casos de pacientes que vão fazer cirurgia para endometriose, com endometriomas, já que essas pacientes têm risco de retirada de parte do tecido ovariano”, diz.
Mas não foram essas indicações de congelamento que colocaram o congelamento de óvulos debaixo de holofotes. A principal indicação nos dias de hoje é o que chamamos de congelamento de óvulos eletivo, planejado ou social. Ao longo dos anos o congelamento de óvulos foi ganhando cada vez mais espaço e se mostrou uma excelente opção para contornar o problema do relógio biológico. Os óvulos congelados hoje podem ser usados para que a mulher engravide no futuro, e eles terão a qualidade da idade do congelamento.
“A sociedade mudou. A mulher que antes ficava dentro de casa, ocupando os papéis de esposa, dona-de-casa e mãe, agora assumiu outras funções e tem novas ambições. Ela caiu no mercado de trabalho e conquistou seu espaço. Ela cresceu ouvindo que deve ter carreira, independência financeira, objetivos próprios. Ela não quer qualquer parceiro, ela quer um relacionamento ideal, ou mesmo quer aproveitar sua liberdade e não ter ninguém fixo ao seu lado. Nesse contexto, o avanço da educação sexual e da contracepção foram fundamentais. Evitar a gravidez e postergar a maternidade tem se tornado o caminho mais escolhido para a mulher que quer seguir independente, dedicando-se à carreira ou a seus interesses próprios”, avalia a médica.
Entretanto, o que pouco é falado é que essa escolha pode trazer consequências reprodutivas. A fertilidade declina com a idade. E a mulher deve estar ciente disso ao optar por postergar a maternidade. Deve estar ciente de que ela nasceu com um relógio biológico em contagem regressiva, que sua reserva ovariana vai decaindo quantitativa e qualitativamente, que as chances de gravidez vão sendo menores com o passar dos anos, principalmente após 35 anos, que ela pode precisar de ajuda médica para engravidar e que as técnicas de reprodução assistida não são capazes de resolver todos os casos de infertilidade.
“A técnica de congelamento de óvulos surge como uma alternativa para a mulher moderna fazer parar esse relógio biológico. A ideia é coletar alguns de seus óvulos hoje, congelá-los e armazená-los para que você possa usá-los para engravidar no futuro. O congelamento de óvulos permite congelar a qualidade desses óvulos no tempo. Você pode engravidar aos 45 anos com seus próprios óvulos congelados aos 33 anos, que vão ter qualidade de 33 anos e riscos de doenças cromossômicas dos 33 anos”, explica Paula.
“A queda na fertilidade feminina após os 30 anos e de forma mais acentuada após os 35 anos é decorrente do fato da mulher já nascer com todo o estoque de óvulos que será utilizado durante toda a vida reprodutiva e, ao longo do tempo, há queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos”, explica o Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.
Como funciona a técnica?
“A criopreservação é uma técnica de congelamento que pode ser feita em óvulos, tecido ovariano, espermatozoides e embriões. Na temperatura de -196ºC, esses organismos mantêm seu metabolismo completamente inativado, mas preservando um desenvolvimento potencial e viabilidade. Muitos casais precisam preservar os gametas por se depararem com a impossibilidade imediata de maternidade ou paternidade, seja por escolha ou por circunstâncias adversas”, diz Rodrigo Rosa.
“Embora o espermatozoide e os embriões sejam fáceis de congelar, o óvulo é a maior célula do corpo humano e contém uma grande quantidade de água. Quando congelados, formam-se cristais de gelo que podem destruir a célula. Com o passar dos anos, aprendemos que devemos desidratar o ovo e substituir a água por um “anticongelante” antes do congelamento para evitar a formação de cristais de gelo”, completa o médico.
Qual a idade certa para congelar óvulos?
Em geral, qualquer mulher que atualmente tenha pelo menos alguns óvulos saudáveis e ainda não esteja pronta para ter um bebê é uma boa candidata ao congelamento de óvulos. “Se você estiver chegando perto dos 30-35 anos e não vislumbra gravidez nos próximos um ou dois anos, agende uma avaliação com um especialista em Reprodução Humana, é altamente recomendado que você se informe. O congelamento de óvulos realizado até os 35 anos traz excelentes taxas de sucesso no futuro. Mas e se você tiver mais de 35 anos, não pode fazer? Você pode fazer sim, sabendo de algumas considerações”, explica Paula.
Segundo ela, até os 37-38 anos, o tratamento pode trazer ótimas chances de bebê no futuro, mas talvez você tenha que congelar um número maior de óvulos para compensar a pequena queda na qualidade deles e, portanto, maior a chance de você ter que fazer mais de um ciclo de congelamento para conseguir esse número alvo de óvulos. Após os 40 anos o tratamento de congelamento traz menores taxas de sucesso.
Como é o passo a passo do congelamento de óvulos?
Quem pensa que o congelamento de óvulos é um bicho de sete cabeças se engana. “Muito ainda precisamos desmitificar em relação ao congelamento. As mulheres precisam conhecê-lo melhor e ter mais acesso a ele”, diz Paula.
São três as etapas do tratamento: estimulação ovariana, aspiração folicular e congelamento de óvulos propriamente dito. A primeira etapa do tratamento de congelamento de óvulos é a estimulação ovariana, que se inicia geralmente nos primeiros quatro dias do fluxo menstrual ou após a ovulação. A mulher vai usar hormônios subcutâneos por meio de agulha fina (a mesma agulha de aplicação de insulina), que vão estimular seus ovários a desenvolverem múltiplos folículos, diferente do que acontece todo mês, em que apenas um cresce.
A estimulação ovariana é feita por meio de medicamentos subcutâneos aplicados diariamente, associados ou não a medicamentos por via oral. Há diferentes protocolos na literaura, mas basicamente temos que usar nessa fase os medicamentos que fazem o crescimento dos folículos, o estímulo propriamente duto, e outros que fazem o bloqueio da ovulação, que impedem a ovulação.
“Vamos monitorando o crescimento desses folículos ovarianos por meio de ultrassonografias transvaginais (cerca de 2-3 nesse período de estímulo). Quando eles atingem o tamanho ideal, o que geralmente após 10-12 dias de estímulo, administramos um último medicamento para a maturação final dos óvulos, e agendamos a aspiração folicular, que acontece cerca de 34-36 horas após essa última medicação”, esclarece a médica.
A aspiração ou captação folicular é um procedimento feito no centro cirúrgico do laboratório de embriologia, onde a paciente recebe uma sedação, uma anestesia geral leve. A aspiração trata-se de um procedimento relativamente simples para quem tem experiência na área e boa habilidade. Em geral, em menos de 20 minutos a aspiração folicular já terminou.
“Fazemos um ultrassom transvaginal semelhante àquele realizado em consulta, mas acoplamos ao probe um guia e uma agulha comprida, que vai perfurar o fundo de saco vaginal e chegar nos ovários. Lá, cada folículo que se desenvolveu é perfurado por essa agulha e aspirado. O líquido presente dentro de cada folículo vai sendo coletado em tubos e entregue ao embriologista, que vai naquele mesmo momento olhar no microscópio e contar quantos foram recuperados, aspirados”, explica.
Após poucas horas, os embriologistas limpam as células ao redor dos óvulos e os congelam pela técnica de vitrificação, a técnica de congelamento rápido. Eles são levados em tanques de nitrogênio líquido e lá podem permanecer por anos.
“É rápido e mais simples do que a maior parte das mulheres imagina! São geralmente 10 a 12 dias de estimulação ovariana, de uso de medicamentos para os folículos ovarianos crescerem, e essa aplicação é feita pela própria mulher em casa. Ela continua sua rotina nesse período, segue trabalhando, e encaixa 2 ou 3 visitas à clínica para ultrassonografias rápidas. A aspiração dos folículos ocorre normalmente no 12º a 14º dia do ciclo de estímulo. Esse é o único dia em que a mulher deve realmente ficar em repouso e se afastar do trabalho. Poucas horas depois da coleta, os óvulos são analisados e então congelados. Ou seja, o ciclo completo dura cerca de 12-14 dias”, detalha Paula.
Por quanto tempo os óvulos podem permanecer congelados?
“Com base em evidências científicas em engravidar com embriões congelados – em um caso o embrião foi congelado por 27anos – estamos confiantes de que o armazenamento de longo prazo de óvulos congelados não resulta em nenhuma diminuição da qualidade”, explica Rodrigo Rosa.
Qual a taxa de sucesso após o descongelamento para conseguir uma gravidez?
“Taxas de descongelamento de óvulos de 75% e taxas de fertilização de 75% são esperadas em mulheres de até 38 anos de idade. Dessa forma, para 10 óvulos congelados, espera-se que sete sobrevivam ao degelo e cinco ou seis fertilizem e se tornem embriões. Normalmente, de três a quatro embriões são transferidos em mulheres de até 38 anos de idade. Portanto, recomendamos que 10 ovos sejam armazenados para cada tentativa de gravidez. A maioria das mulheres com 38 anos de idade ou menos pode esperar colher de 10 a 20 óvulos por ciclo”, destaca Rodrigo.
“Se a paciente está na dúvida se o congelamento de óvulos é para ela, não hesite, vá procurar informação com um especialista. Provavelmente ela ainda não detém toda a informação sobre o tema e é isso que está gerando a dúvida. Ela deve ter a sua reserva ovariana acessada e deve receber informações sobre essa técnica e, munida de informação, aí sim vai decidir se esse é um tratamento que faz sentido para ela”, recomenda Paula.
Congelar não é garantia de gravidez no futuro, mas muitas vezes pode ser o melhor possível a ser feito naquele momento da vida, em que a gravidez realmente não é possível. Ele deve ser encarado com um plano B. É uma oportunidade que a mulher tem para gerenciar de forma pró-ativa sua fertilidade e não só esperar e observar passivamente sua reserva ovariana declinar.
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Fonte: Mulher