A ameaça de uma incursão israelense em Rafah, sul da Faixa de Gaza, persiste neste domingo (11), depois de Benjamin Netanyahu ter prometido “passagem segura” para os civis deslocados para lá. Em uma entrevista que será divulgada neste domingo, ele reafirmou a sua intenção de estender a operação militar israelense a Rafah, cidade que faz fronteira com o Egito. Apesar do alerta internacional sobre a possibilidade de um massacre na cidade que abriga metade dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza, Netanyahu disse à ABC News: “Vamos fazê-lo”.
Ele disse concordar “com os americanos” que a operação precisará primeiro planejar o impacto sobre os civis. “Faremos isso enquanto damos passagem segura à população civil, para que possam partir”, declarou Netanyahu, segundo trechos da entrevista divulgados pela ABC.
Não está claro, no entanto, para onde poderiam ir tantas pessoas aglomeradas na fronteira com o Egito em tendas improvisadas. A este respeito, Netanyahu limitou-se a dizer que “estamos a trabalhar num plano detalhado”. Rafah é a única cidade de Gaza onde as forças israelenses não entraram, apesar de a bombardearem diariamente.
“Eles disseram que Rafah era segura, mas não é. Todos os lugares são atacados”, disse o palestino Mohamed Saydam após um ataque israelense que destruiu um veículo da polícia no sábado em Rafah.
Netanyahu, que garantiu que a “vitória” sobre o Hamas só pode ser alcançada com a entrada de tropas em Rafah, ordenou na sexta-feira às suas forças que se preparassem para a operação. O anúncio gerou um coro de preocupação por parte de líderes mundiais e grupos de ajuda humanitária.
“O povo de Gaza não pode desaparecer no ar”, escreveu a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, na rede social X (antigo Twitter).
O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita alertou no sábado sobre “repercussões muito graves de um ataque em Rafah e convocou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU”. O chefe da diplomacia britânica, David Cameron, declarou-se “profundamente preocupado” com a ofensiva e expressou que “a prioridade deve ser uma pausa imediata nos combates e o envio de ajuda e a retirada dos reféns”.
Resposta dura dos EUA
O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas mataram mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma campanha incansável de bombardeamentos e operações terrestres contra Gaza, onde 28.064 pessoas foram mortas até agora, principalmente mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. Netanyahu anunciou o plano de invasão terrestre em Rafah logo após uma visita a Israel do secretário de Estado americano, Antony Blinken.
O líder israelense rejeitou a proposta de trégua depois de descrever as exigências do Hamas como “bizarras”. Mas os Estados Unidos, principal aliado e apoio militar de Israel, alertaram que os planos para invadir Rafah poderiam causar um “desastre”.
O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou na quinta-feira a campanha militar israelense de “excessiva”. As autoridades do Hamas em Gaza alertaram no sábado que uma invasão israelense em Rafah poderia causar “dezenas de milhares” de mortes. O gabinete do presidente palestino, Mahmoud Abbas, alertou que a ação “ameaça a segurança e a paz na região e no mundo”.
Os militares israelenses anunciaram que mataram “dois importantes agentes do Hamas” no sábado em um ataque a Rafah.
UNRWA sob pressão
No norte da cidade de Gaza, as forças israelenses disseram ter encontrado um túnel do Hamas sob a sede evacuada da agência da ONU para refugiados (UNRWA). O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, pediu a renúncia de seu chefe, Philippe Lazzarini.
Lazzarini garantiu que a UNRWA não opera na sua sede desde 12 de outubro, quando pessoas foram evacuadas por ordem das forças israelenses. Sob pressão sobre a alegação israelense de que 12 funcionários da UNRWA participaram dos ataques de 7 de Outubro, Lazzarini apelou a uma investigação independente às alegações israelitas.
As instalações da ONU são consideradas “invioláveis” segundo o direito internacional. O Hamas negou as acusações israelenses de que os seus combatentes cavaram uma rede de túneis sob escolas, hospitais e outras infraestruturas civis para ocultar as suas atividades.
Raiva em Israel
A guerra de cinco meses gerou uma raiva crescente na população israelense. Uma multidão manifestou-se no sábado à noite em Tel Aviv para exigir a libertação dos reféns, a demissão de Netanyahu e a convocação de novas eleições.
“É evidente que Netanyahu está prolongando a guerra, ele não tem ideia do que fazer quando ela acabar”, disse o manifestante Gil Gordon.
A guerra também repercutiu para além de Israel e de Gaza, com atos de violência perpetrados por grupos aliados ao Hamas apoiados pelo Irã em todo o Oriente Médio. Um alto funcionário do Hamas sobreviveu a uma tentativa de assassinato israelense no Líbano, disseram fontes de segurança palestinas e libanesas à AFP. Na Síria, os ataques israelenses perto de Damasco deixaram três mortos em um ataque a residências de autoridades militares e civis, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Fonte: Internacional