Os relacionamentos tóxicos são formados por um ciclo que precisa ser reconhecido e interrompido. De acordo com o Dr. Alexandre Valverde, psiquiatra, neurodivergente e fundador da plataforma SOFCA – Survivors of Child Abuse & Neglected, esse ciclo se dá em fases, começando pelo ‘Bombardeio de Amor’, onde o abusador cria um enredo de entusiasmo, proximidade, sedução e conquista, alçando a experiência de convívio ao limite superior do que poderia ser essa relação, seja ela conjugal, de amizade, trabalho ou parental.
A próxima fase é o ‘Gaslighting’, um ataque à autoconfiança da vítima, levando-a a duvidar de sua sanidade. “Você está louca!”, “que exagero, não foi isso o que eu disse”, “estava só brincando. Você leva tudo a sério”, “deixa de drama!”. Essas e outras frases são o arsenal com que o abusador vai minando, dia a dia, a moral da pessoa, a ponto de ela duvidar de si mesma.
Valverde destaca que pessoas neurodivergentes são especialmente vulneráveis a esses abusos devido à dificuldade em entender nuances sociais. “Os abusadores geralmente escolhem indivíduos potentes para parasitar, reduzindo-os a meros provedores de suas necessidades”, explica.
O ciclo de abuso persiste até que a vítima se esgote, podendo levar ao ‘Descarte’, onde o abusador pode culpar a vítima. “Esse descarte pode se dar como Descarte Reverso, em que, após uma fase de abusos e desvalorização intensos e frequentes, a pessoa abusada acaba por decidir pôr fim à relação, porém, desse modo, oferecendo material para que o abusador possa se vitimizar e dizer que foi descartado pela pessoa abusada”. O Instituto Maria da Penha aponta que cerca de 70% das mulheres que sofrem violência doméstica no Brasil enfrentam também violência psicológica.
E por fim a Repescagem, momento em que os abusadores apostam na capacidade de resiliência e ansiedade de separação da pessoa abusada e jogam a isca da falsa mea culpa: “Agora eu amadureci”, “tudo vai ser diferente”, “foi só um deslize”, “você me ensinou a mudar”. Valverde enfatiza a importância de reconhecer esses padrões e buscar apoio para sair dessas relações. Confira quatro dicas do psiquiatra:
1. Se você reconhece alguma das fases desse ciclo, continue seus esforços para deixar cada uma dessas fases cada vez mais claras para você. Junte forças, íntimas de suas redes de apoio, além de preparação financeira, pois será necessário se fortalecer para atingir a autonomia.
2. Se você puder, termine essa relação. Não há saúde e harmonia no convívio com uma pessoa abusadora. Se não puder exercer o contato zero com essa pessoa, mantenha a atitude da pedra cinza. Não aprofunde essa relação (don’t deep em inglês: não se Defenda, não se Engaje, não se Explique, não Personifique). Tudo o que disser será usado como munição contra você. Não personifique significa reconhecer que esses ataques e esse parasitismo poderia estar acontecendo com qualquer outra vítima. Você só foi a da vez.
3. Se você está tomando medicamentos psiquiátricos para aguentar essa relação (afetiva ou de trabalho), repense seu tratamento com os profissionais que lhe acompanham. Procure ajuda de saúde mental e jurídica, caso não tenha ainda iniciado esse percurso.
4. Procure se informar sobre as neurodivergências e se seu modo de se relacionar se enquadra nos modos de funcionamento das pessoas neurodivergentes. Será uma ótima oportunidade para se reconhecer ao mesmo tempo em que reconhece os padrões de uma relação que pode estar minando sua vitalidade e vivacidade.
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Fonte: Mulher