Na pele de Érika, a personal trainer da novela das seis da Globo, Elas por Elas, Monique Alfradique viveu um casamento com Edu, cheio de mentiras e traições. Na vida real, a atriz revelou que também já passou por um relaciomento tóxico. Em entrevista à Caras, ela falou da importância de se abordar o tema em uma novela e disse ser difícil romper o ciclo de abuso emocional.
“Acho que todas nós já passamos por alguma situação como esta. Acho que a Erika vem desse lugar para mostrar que, às vezes, você dentro do relacionamento, não vê as manipulações que sofre… Já tive relacionamento tóxico, sim. E a Érika vem para mostrar isso. A gente, dentro da relação, não consegue ter esse olhar frio. Às vezes, você até vê mas não tem força para sair, então é muita paciência, tem que ir no seu tempo, contar com o apoio dos amigos e família, porque é muito fácil quando um amigo ou familiar diz:’Fulano não te merece. Sai disso’. Mas quando você está dentro dessa relação, é muito mais difícil, você tem laços com a pessoa e romper isso é muito difícil. Então, a Erika mostrou, teve o tempo dela de amadurecer e ver quem ele (Edu) realmente é, quem ela é e quem ela realmente merece (como companheiro)”, disse a atriz.
O que é um relacionamento tóxico
Vanessa Greghi, médica Psiquiatra, diretora médica do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP), explica que para identificar o relacionamento tóxico é preciso ver se ele está te causando um sofrimento, porque relacionamento não é para causar sofrimento. “Quando um relacionamento gera angústia, ansiedade, problemas de autoestima, é provável que seja um relacionamento tóxico. Um relacionamento gera mais sofrimento do que prazer. E também quando começam a ocorrer episódios de violência, tanto física quanto psicológica”, alerta.
Segundo Vanessa, é muito comum os relacionamentos tóxicos acontecerem entre pessoas com transtornos de personalidade específicos e transtornos de personalidades diferentes que acabam se combinando numa simbiose, numa relação simbiótica. “Por exemplo, um dos dois tem um transtorno de personalidade narcisista e o outro um transtorno de personalidade dependente. Vai gerando um ciclo de sofrimento, dependência, onde fica muito difícil desfazer”, explica a psiquiatra.
Transtorno de personalidade borderline com transtorno de personalidade dependente, onde um lado é muito dependente, muito carente. Tem uma dependência da outra pessoa, como se tem de uma droga. “Quando a relação ativa o circuito de prazer que libera dopamina. E o outro tem um traço de personalidade mais sádico, mais autocentrado, narcisista. O borderline é muito comum também, e está em relacionamentos tóxicos, porque são pessoas que criam uma extrema dependência e são impulsivos. Então é comum acontecerem episódios de violência”, diz Vanessa.
Quem tem característica de personalidade dependente é muito difícil mesmo. Fica mais difícil sair de um relacionamento tóxico e precisa de tratamento. O melhor a fazer é iniciar uma psicoterapia para você ter uma pessoa que dá uma opinião de uma forma mais objetiva, de fora da situação.
“Os familiares, os amigos, eles acabam interferindo, mas eles têm aquela percepção muito subjetiva da relação. E tem afeto no meio. Então, em uma psicoterapia, um profissional vai poder te escutar, vai poder apontar, vai te ajudar a enxergar a situação com mais clareza, de uma forma mais objetiva. E daí vai te ajudar a criar forças para sair do relacionamento”, analisa.
Às vezes, diz a médica, o psicólogo acaba encaminhando para o psiquiatra, e precisa também de ajuda de uma medicação. Quando a pessoa já está num sofrimento psíquico mais intenso, com sintomas depressivos, sintomas ansiosos intensos, crises de pânico, etc. Mas a psicoterapia é fundamental para a pessoa que está dependente desse relacionamento resgatar sua autoestima e enxergar a situação em que ela se encontra com mais clareza e ajudar a se organizar para conseguir sair desse relacionamento.
Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), explica que o relacionamento tóxico ele é caracterizado por muitos altos e baixos e por emoções fortes.
“Muitas vezes as pessoas sentem muito prazer, por exemplo, sexual… ou muita atração pela pessoa, mas também sentem muita raiva das atitudes dessa pessoa… sentem muitos sentimentos negativos. Começa a haver uma autoestima mais baixa, porque uma das pessoas, grande parte das vezes, coloca a outra para baixo. E é um relacionamento onde existe mais dor do que prazer, mais desprazer do que prazer, mas com muitas emoções fortes. De amor muito intenso, com raiva, com ciúme, com medo, com vergonha, com tristeza, etc. São emoções muito presentes nesse tipo de relacionamento. Geralmente um relacionamento onde existe muita mentira, onde existe uma questão de colocar o outro à mercê”, esclarece Perin.
Uma das pessoas do relacionamento ou ambas podem ser inclusive violentas. “Todas essas características precisam chamar a atenção. Uma outra característica muito comum no relacionamento tóxico é a característica de uma das pessoas fazer com que a outra se isole socialmente, se isole da família, se isole dos amigos. Então essa é uma característica também bastante frequente”, analisa o psiquiatra.
Como agir diante desse relacionamento?
Perin explica que, por mais desprazer que o relacionamento tóxico cause, por mais sofrimento que ele cause, ele também traz emoções muito fortes. Existe uma dificuldade muito grande das pessoas se separarem. Ou as pessoas se separam e depois voltam e separam e voltam muitas vezes. Existe uma dificuldade de rompimento dessa relação, por mais dolorosa que ela seja. E uma das coisas mais importantes é a pessoa começar a cuidar dela mesma.
“Então, passar a cuidar mais dela do que dos outros, principalmente do parceiro. E ela olhar pra ela e procurar ajuda de familiares, de amigos, de um terapeuta, de um psiquiatra. Que são pessoas que vão poder ajudá-la a romper esse laço. E é muito difícil, às vezes, poder enxergar certas coisas. Então, muitas vezes, a pessoa, ela enxerga que o outro tá sendo mal intencionado. Ela enxerga os erros do outro, mas ela acaba justificando os erros do outro. É como se ela justificasse tudo que a outra pessoa faz de errado. Então, acho que buscar a ajuda, se reconectar consigo próprio, principalmente com a própria autoestima, com o corpo, com a mente, e aí, procurar ajuda de família, de amigos, de um profissional de saúde, de um psiquiatra, de um terapeuta, pode ajudar muito a sair dessa situação. Outras pessoas também se apegam à espiritualidade. A espiritualidade também pode ser um caminho para ajudar a pessoa a se libertar desse relacionamento”, diz o médico.
Como terminar um relacionamento tóxico?
O primeiro passo para terminar um relacionamento tóxico é haver um distanciamento. “Mesmo que vocês mantenham distância, se bloqueiem nas redes sociais, o importante é que ele saia da sua vida, não importa se ele foi quem terminou ou não. Não ficar em contato é fundamental”, recomenda Perin.
Esse distanciamento é importante, principalmente no início. Em uma relação tóxica, as pessoas geralmente mantêm algum laço, mesmo que seja apenas olhando as fotos no Instagram. Isso pode dificultar a superação e colaborar para o sofrimento.
O ideal é que as pessoas se separem e se mantenham distantes por um tempo. Isso pode ser difícil, mas é necessário para que ambas as partes possam se curar e seguir em frente.
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Fonte: Mulher