‘Esposa troféu’: viral do TikTok esconde dramas da realidade da mulher

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'Esposa troféu': viral do TikTok esconde dramas da realidade da mulher
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‘Esposa troféu’: viral do TikTok esconde dramas da realidade da mulher

Em 2024, é possível que em algum momento você tenha se deparado com o termo “esposa troféu” nas redes sociais. Essa expressão ganhou força no Brasil após algumas influenciadoras começarem a compartilhar a rotina, clamando pelo pertencimento a esta categoria de estilo de vida.

Na teoria, uma “esposa troféu” é aquela mulher que, no relacionamento, tem o papel importante de fazer o casal ser bem-visto perante a sociedade. Diante do contexto das relações heterossexuais, o “troféu” da expressão faz referência direta ao homem.

Esposa “troféu” de quem? Do homem vitorioso!

Na dinâmica que viralizou nas redes sociais, os papéis de gênero são bem estabelecidos, sem dúvidas sobre as tarefas da mulher: manter a aparência impecável, atender aos padrões de beleza mais exigentes e cultivar boas relações sociais, afinal, o troféu precisa ser exibido.

Nas declarações das próprias mulheres que são adeptas do comportamento, fica claro que, além do casal, outro fator de grande relevância no relacionamento é o dinheiro.

A verdadeira “esposa troféu” não trabalha, não precisa fazer as tarefas domésticas, tem tempo livre para se dedicar a atividades como academia, ioga e outras que lhe garantirão a boa forma, além de vestir roupas de grife, ser cliente frequente de salões de beleza e desfrutar do alto padrão de vida.

Na sociedade capitalista, manter uma “esposa troféu” exige um custo alto que pode atingir níveis bilionários. É com a promessa de luxo e conforto que esse estilo de vida está chamando cada vez mais atenção e atraindo mulheres jovens, principalmente.

“Me julguem, mas é meu sonho”, “só queria ser uma esposa troféu”, “Deus, por favor, faça esse milagre na minha vida” são alguns dos comentários em publicações no TikTok sobre o tema.

O homem ‘red pill’

Enquanto o estilo de vida da “esposa troféu” desperta cada vez mais a curiosidade, também emergem nas redes sociais discursos que visam captar a atenção masculina. Nos últimos anos, o termo “red pill” entrou nas discussões sobre gênero e relacionamento.


Referência ao filme “Matrix” (1999), o termo é utilizado por movimentos que defendem a masculinidade dominante. Nesse contexto, homens buscam resgatar tradições patriarcais e conservadoras, acreditando que o sucesso financeiro é essencial para se tornarem dominadores. Para eles, um homem vitorioso deve exibir seu triunfo através de símbolos sociais como casamento, carreira e família.

O movimento “red pill” e o estilo de vida da “esposa troféu” estão diretamente conectados, pois ambos resgatam valores patriarcais, diferenças de gênero e promovem elementos conservadores do matrimônio.

Dramas reais, discursos ilusórios

Não ter compromisso com afazeres domésticos, não precisar trabalhar e, mesmo assim, desfrutar de um alto padrão de vida pode parecer um sonho para muitas. No entanto, ser uma ‘esposa troféu’ não garante que isso seja facilmente alcançado.

Após a viralização do tema, especialistas e outras influenciadoras começaram a alertar sobre as condições não mencionadas nos vídeos. A realidade é que poucas mulheres realmente usufruem da vida de uma esposa troféu. Nas redes sociais, falta esclarecimento sobre esse estilo de vida e a realidade de ser uma dona de casa não remunerada.

Claudia Petry, pedagoga especialista em sexologia, analisa que o discurso da “esposa troféu” perpetua a ideia de que a valorização da mulher está diretamente ligada ao seu valor material e ao seu relacionamento com um homem rico.

“Isso diminui a autonomia e a liberdade de escolha das mulheres, colocando-as em uma posição de dependência econômica e emocional em relação aos parceiros. Esse discurso reforça estereótipos de gênero, sugerindo que as mulheres devem buscar segurança financeira e status social por meio do casamento, em vez de buscar sua própria realização pessoal e profissional”.

Ela também relaciona o estilo de vida com a questão da dependência emocional e os problemas que isso pode causar. “Esse tipo de relacionamento pode ser abusivo, pois a dependência financeira pode deixar as mulheres vulneráveis à manipulação, controle e violência por parte do parceiro. Elas podem se sentir presas em um relacionamento tóxico, onde são silenciadas e não têm liberdade de expressar suas opiniões, tomar suas próprias decisões ou buscar a felicidade individualmente”.

Claudia Petry ainda traz a reflexão acerca da mulher troféu estar alinhada com os padrões de beleza. “Quando a mulher envelhece ou não corresponde mais aos padrões, ou ao desejo sexual estabelecido, ela pode enfrentar o risco de ser rejeitada ou substituída por uma mulher mais jovem, ou considerada mais atraente. Isso leva a um sentimento de desvalorização e perda de autoestima, em que a mulher pode se sentir sem valor fora do contexto da aparência física”, analisa.

Uma pesquisa de 2013 realizada pelo DataSenado revelou que 46% das mulheres vítimas de violência doméstica não denunciam o agressor às autoridades devido à dependência financeira do parceiro. Esse motivo foi o segundo mais citado, ficando atrás apenas do ‘medo do agressor’ e à frente da ‘preocupação com a criação dos filhos’. Ser uma esposa troféu pode tornar esse receio ainda mais real.

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Fonte: Mulher

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