A importância feminina na educação e na cultura

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Especialistas refletem sobre a trajetória e importância feminina na educação e na cultura
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Especialistas refletem sobre a trajetória e importância feminina na educação e na cultura

O Dia Internacional da Mulher (8/3) foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975. Ao contrário das demais marcações do calendário, que possuem viés comercial, o dia carrega raízes históricas profundas. Na época, as mulheres reivindicavam por melhores condições de trabalho. Hoje, as discussões acontecem em torno da igualdade de gênero e todos os aspectos incluídos nesse contexto.

Tratando da evolução da mulher no mercado de trabalho, sob a ótica sociológica, Rafaela Locali, professora de Geografia do Brasil no Curso Anglo, explica que “o Brasil iniciou a sua industrialização na década de 1930, acompanhado de uma jovem urbanização. Já esta última, veio se consolidar apenas na década de 1970, quando a população urbana, pela primeira vez, superou a rural”, afirma Rafaela.

“Muitas mulheres acompanharam esse movimento e se inseriram no mercado de trabalho em um processo lento, porém crescente, o que levou muitas delas a procurarem por qualificação”, explica Rafaela. Hoje, elas são maioria no país: segundo o último Censo Demográfico, o de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o gênero feminino representa 51, 5% da população, o que em termos absolutos, significa o montante de 104.548.325 pessoas. Entretanto, as desigualdades salariais são problemas a serem enfrentados.

Para trazer uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto, especialistas das áreas de educação e cultura discorrem sobre o papel exercido pelas mulheres ao longo dos anos e sobre o seu impacto nas diversas áreas da sociedade. Confira abaixo!

As mulheres no acervo dos museus

Se as mulheres existem e resistem ao longo da história, como seria possível não estarem nos acervos dos museus? É o que questiona Glória Maria dos Santos, arte-educadora da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. “Mulheres no acervo interseccionam tempo, discurso e espaço entre suas histórias e as dos que passam por elas”, afirma Glória. “São refletidas nas senhoras que declaram ‘naquele tempo era assim mesmo’, nas mulheres que se indignam pensando na insuficiência do que mudou, nas meninas que se surpreendem ao ouvir que estão diante dos móveis de uma princesa”, acrescenta.

Para a arte-educadora, é fundamental que os acervos não apenas guardem as histórias das mulheres, mas as estude e divulgue, funcionando como pontos de referência de suas lutas e conquistas. No museu da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, é possível observar a presença de mulheres que constituem nossa história, seja a partir das mulheres negras registradas das cenas de Frans Post – consideradas as primeiras mulheres retratadas na história das Américas –, seja a partir de figuras como Dona Amélia, Teresa Cristina e Carlota Joaquina, “adornadas de joias e de privilégios, retratadas individualmente, que integram as imagens e fantasias da nobreza, usando brilhantes, mas à sombra de homens, lembradas na maior parte das vezes, mesmo que sozinhas, como a mãe, irmã, esposa, filha, amante”, como afirma Glória.

Livros infantis de poemas escritos por mulheres

“A diversidade na literatura infantil é crucial para enriquecer a experiência de leitura das crianças, proporcionando uma variedade de perspectivas e de estilos”, afirma Laura Vecchioli do Prado, coordenadora editorial de literatura e informativos da SOMOS Educação. “Ao explorar temas como fantasia, liberdade poética e trocadilhos, esses livros contribuem para o desenvolvimento literário e cultural das crianças, incentivando a imaginação, a criatividade e a apreciação da linguagem poética”, acrescenta Laura.

Para incentivar as crianças a desbravarem essa pluralidade de visões de mundo, Laura Vecchioli cita alguns livros infantis de poemas escritos por autoras brasileiras. Um deles é o As flores que a gente inventa (Editora Ática), de Fernanda Lopes de Almeida, autora vencedora do Prêmio Jabuti. Outro livro da lista é o Cores em cordel (Editora Formato), de Maria Augusta De Medeiros, que descreve as cores em todas as suas formas. Já em Fábrica de poesia (Editora Scipione), a autora Roseana Murray apresenta às crianças a liberdade poética de brincar com as palavras.

Outra recomendação é Minha Ilha Maravilha (Editora Ática), de Marina Colasanti, que reúne 35 poemas com poucas palavras e muito significado. Também vale conferir os poemas leves e bem-humorados do livro Trocadilho (Editora Formato), uma espécie de autobiografia da autora Jacqueline Salgado.

Desconstrução de Estereótipos de Gênero

Mesmo com o avanço da luta pela igualdade de gênero, a presença de padrões pré-estabelecidos na vida das mulheres ainda é recorrente na sociedade. Diante disso, definições estéticas, culturais e sociais ainda permeiam a realidade atual feminina. De acordo com Clarissa Lima, assessora pedagógica da Amplia, para romper esses estereótipos, a educação pode ser um dos principais mecanismos.

“Numa sociedade historicamente demarcada uma por uma cultura que propaga desigualdades em direitos e oportunidades, a educação pode ser uma ferramenta eficaz para a ruptura de estereótipos e de paradigmas. Para isso, práticas pedagógicas que incentivam a participação de estudantes, sem distinção por gênero nas brincadeiras, na partilha de brinquedos e jogos, nos esportes, nas cores de materiais, na formação de filas, nas chamadinhas (na educação infantil), tendem a ser promotoras de uma cultura mais inclusiva e igualitária”.

Mercado de trabalho global para mulheres

Tendo em vista o cenário do mercado de trabalho global, é possível visualizar os desafios e as disparidades enfrentadas na área no que diz respeito à igualdade de gênero. De acordo com Lara Crivelaro, CEO e fundadora da Efígie, edtech voltada para educação internacional, enquanto o Brasil e os países de língua inglesa compartilham uma luta contínua pela equidade de oportunidades entre homens e mulheres, as nuances específicas de cada contexto revelam diferenças marcantes.

“No Brasil, as mulheres ainda enfrentam barreiras estruturais e culturais que limitam o acesso a cargos de liderança e oportunidades profissionais. Questões como disparidades salariais, falta de representatividade em setores-chave e obstáculos à ascensão na carreira persistem, refletindo um sistema ainda permeado por preconceitos e por estereótipos de gênero. Por outro lado, em países de língua inglesa, embora venham acontecendo avanços significativos em termos de igualdade de gênero, desafios persistentes também estão presentes. Assim, uma educação global pode ser um componente fundamental para capacitar as mulheres a enfrentarem os desafios do mercado de trabalho contemporâneo”, afirma Lara.

Diversidade de gênero na autoria de livros didáticos

A área da educação é marcada pela presença feminina. Segundo dados do Ministério da Educação, mulheres são maioria na docência e na gestão da Educação Básica. Quando pensamos na produção editorial, o cenário não é diferente: é grande a quantidade de profissionais autoras de materiais didáticos, conforme afirma Talita Fagundes, gerente pedagógica da plataforma par, solução educacional digital da Somos Educação. “A maioria das professoras são mulheres, há muitas autoras, pesquisadoras, o que faz com que a presença da mulher na produção editorial seja muito forte”, destaca.

Para Talita, a atuação de mulheres autoras no mercado editorial de livros didáticos contribui para que esse grupo social seja valorizado, tanto nos materiais produzidos, como nas oportunidades de trabalho desse ramo. “Ter mais autoras assinando a produção de livros didáticos pode aumentar a representação de mulheres no conteúdo dessas obras, seja ampliando menções de personagens femininas importantes da história mundial, seja com escritoras que marcaram a literatura de seus países”, afirma. “Além disso, valorizar a atuação dessas profissionais é essencial para proporcionar igualdade no mercado de trabalho, tarefa mais que urgente quando falamos em uma área como a da educação”, complementa.

Inglês que transcende fronteiras (e barreiras)

Ao pensar em representatividade feminina e igualdade de gênero, é inevitável pensar nas barreiras que ainda precisam ser quebradas em diversos setores. Na educação não é diferente. As primeiras escolas no Brasil, por exemplo, foram criadas exclusivamente para meninos no século XIX. Hoje, as mulheres já são a maioria na Educação Básica e no Ensino Superior. No entanto, de acordo com várias pesquisas, as mulheres têm menos chances de ser empregadas em relação aos homens.

“Na metodologia de Skies Learning, por exemplo, trabalhamos habilidades socioemocionais e abordagem CLIL (sigla em inglês para Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Linguagem). Nós enxergamos, na prática, o empoderamento das nossas alunas, que são incentivadas não apenas a praticar a língua inglesa, mas a resolver desafios complexos, criar projetos, botar a mão na massa – algo que nós mulheres já fomos muito privadas”, explica Carol Stancati, diretora da Skies Learning, solução de inglês para escolas.

“Não tenho dúvidas de que, no futuro, elas poderão cavar mais oportunidades em áreas da ciência, por exemplo, que ainda é muito masculina. O problema é complexo e não podemos restringi-lo a apenas uma solução. Mas, com certeza, o aprendizado bilíngue faz parte da resposta”, acrescenta a diretora.

As habilidades socioemocionais e o avanço em posições de liderança

Não é novidade que as mulheres ocupam um espaço expressivo na área da educação. No entanto, foi apenas nos últimos anos que vimos uma transformação: o avanço da presença feminina em cargos de gestão. A principal competência socioemocional que gerou esse resultado é a busca da eficácia pessoal, segundo Fabiana Pereira de Santana, assessora pedagógica do Programa Líder em Mim.

“Quando conhecemos quem somos e nos projetamos com um objetivo em mente direcionando nosso foco. Entendo que é possível ir longe no que diz respeito à conquista e à permanência em cargos de liderança”, diz a especialista. Outra competência ressaltada por ela é a construção de relacionamentos, que consiste na capacidade de construir e de manter conexões saudáveis e gratificantes. Para isso, as líderes devem interagir com confiança e com mentalidade de abundância, balanceando coragem e consideração, criando e mantendo equipes saudáveis e com senso de propósito.

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Fonte: Mulher

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