De acordo com estudo publicado no dia 9/10, no periódico Cadernos de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz, sete em cada dez escolas estão rodeadas (raio de 250m) de vendedores e lanchonetes com alimentos ultraprocessados. Para fugir dessa realidade, levar de casa lancheira saudável é a melhor opção. Os pequenos precisam aprender desde cedo o valor dos alimentos para criarem o hábito de comer direito.
Melina Conejo, nutricionista clínica, pós graduanda em neuropsiconutrição, explica que a melhor forma de introduzir alimentos saudáveis desde o início é dando exemplo. “Os pais têm que dar exemplo, mostrar para as crianças que consomem aqueles alimentos mais saudáveis. Senão, fica muito difícil a criança querer comer, ter interesse em uma comida que ela não vê atualmente em casa, que ela está vendo que é só pra ela e os pais não comem. Outra coisa é a persistência, oferecer por várias vezes, mudar o tipo de preparo, isso é muito importante”, explica.
E como montar uma lancheira saudável e gostosa, livre de ultraprocessados? Montar uma lancheira saudável é montar uma lancheira completa, com macronutrientes, por exemplo, proteína, gorduras boas, carboidratos, ensina. “No entanto para os pais é muito difícil colocar proteína saudável na lancheira, eu vejo muito essa dificuldade, até por isso eu criei o e-book de lancheira infantil , onde eu coloco várias receitas práticas e saudáveis para mamães, papais, enfim, quem cuida da criança, conseguir oferecer um aporte proteico que é tão importante nesse momento de aprendizado também. Então temos que ir atrás mesmo de receitinhas saudáveis ou colocar lá uma fruta sempre, ovinhos de codorna, ovinhos de galinha mesmo cozidos, alguma preparação com ovo, que a gente já tem um aporte proteico mais interessante, ou um sanduíche com um recheio de atum, recheio de frango, recheio de queijo, sempre lembrando da proteína, que é importante e sempre uma frutinha, um suco natural, ou um iogurte porque as frutas, nesse caso, elas vão dar um aporte mineral de micronutrientes, fontes de fibra e vitaminas”, diz a especialista.
Uma alimentação com baixa ingestão de ultraprocessados pode ser benéfica justamente por ser mais rica em nutrientes, com um aporte calórico menor, e menos gordura do que os ultraprocessados, também um aporte de sódio menor. “É super importante principalmente para crianças que estão ali aprendendo, educar esse paladar sem alimentos super condimentados, ricos em sódio, porque cria-se aquela necessidade de cada vez mais buscar alimentos e mais condimentados com mais sódio, então é bem importante para a saúde total da criança, saúde cardíaca, mental e eu digo que até para o comportamental da criança. Uma menor ingestão de ultraprocessados pode auxiliar na aprendizagem”, ensina.
Como substituir esses alimentos por comidas mais saudáveis? “Oferecer, persistir, tentar receitas mais diferentes com aquele mesmo alimento, enfim, eu acho que o segredo está em persistir no alimento.”
Caroline dos Santos, nutricionista clínica e materno infantil, proprietária da Clínica Neném da Nutri, diz que a alimentação saudável deve ser introduzida na vida da criança desde o comecinho, lá na introdução alimentar, com 6 meses. Então, a família oferecendo alimentos saudáveis, frutas, legumes, verduras, grãos, cereais integrais, leguminosas, carnes, ovos, estimular esse consumo desde cedo para que ele se torne um hábito. “Quando a gente forma esse hábito lá na primeira infância, no comecinho, essa criança tende a levar isso com mais facilidade para o resto da vida dela. Então, o ideal é começar desde a introdução alimentar, oferecendo tanto amassado quanto ali em pedaços os alimentos saudáveis e, claro, a família também sendo exemplo.”
Para montar uma lancheira saudável, a nutri considera três grupos basicamente, que são os grupos dos alimentos energéticos, construtores e reguladores. “Energéticos entrariam ali principalmente os carboidratos, então, pão, tapioca, algum biscoitinho caseiro, bolo caseiro, chips de batatas, então, seria basicamente o grupo dos carboidratos. Já no grupo dos construtores, nós temos as proteínas, então, seria queijos, iogurte, de ovos, atum, temos também as oleaginosas, então, castanhas, nozes, amêndoas, e como grupo dos reguladores, nós temos as frutas e vegetais de um modo geral. Então, todas as frutas, todos os tipos, tanto frescas quanto desidratadas, frutas secas, e os vegetais realmente de forma geral, palitinho de cenoura, de pepino, o que realmente a criança aceitar desse grupo”, ensina.
Caroline ressalta que é importante mandar uma lancheira variada, então não mandar sempre a mesma coisa para a criança, para que ela consiga ter a maior variedade possível de nutrientes ao longo dos dias da semana. “A lancheira faz um papel muito importante, claro, para a criança não ficar com fome e também para que esta tenha energia, tanto para brincar, quanto para se concentrar para aprender. É muito importante que essa lancheira também seja atrativa caso a criança tenha dificuldades com relação ao lanche mais saudável, então ao invés de eu mandar uma fruta sempre no mesmo corte, que tal eu mandar a fruta no formatinho de coração, de estrela, de carro, para chamar a atenção da criança?”
Usar o lúdico com as crianças é muito interessante. Pode realmente fazer com que ela se interesse mais pelo alimento, se interesse em abrir a lancheira para comer. Às vezes mudar o garfinho, por exemplo, colocando um no formato de girafa, a criança já desperta um interesse maior pelo lanche.
Para Caroline, a baixa ingestão de ultraprocessados só traz benefícios à saúde, porque eles são aqueles produtos que estão ali na prateleira do supermercado que costumam ter muito açúcar, sódio, gordura saturada, gordura trans, aditivos. “Os aditivos são usados para deixar tanto o produto mais palatável, mais gostoso, conservar ele por mais tempo, aumentar o tempo de vida dele de prateleira, então normalmente são utilizados conservantes, aromatizantes, corantes, tudo isso para que ele tenha um tempo maior ali na prateleira e que seja gostoso. Só que essa combinação toda aumenta demais o risco de desenvolvimento de doenças. Então, o alto consumo de alimentos ultraprocessados está associado com desenvolvimento, aparecimento de doenças, principalmente doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão, alguns tipos de câncer, alterações no perfil lipídico, obesidade. A gente vê cada vez mais crianças no consultório com doenças que antes só apareciam na vida adulta. Isso é muito preocupante, crianças já com obesidade. E isso tem uma relação, sim, com a nossa vida atual, uma vida que a gente quer recorrer à praticidade, que muitas vezes recorre aos ultraprocessados, mas que isso tem um custo, sendo ele normalmente, a nossa saúde”, relata.
E alerta: “Quando a gente tem uma família que já possui um consumo alto desses alimentos ultraprocessados, a gente começa a fazer a redução aos poucos, principalmente orientando que essa família não compre mais esses produtos, que prefira investir em alimentos mais naturais como as frutas, legumes e verduras. A gente estimula as receitas caseiras, então por mais que uma receita de biscoito caseiro vá açúcar, vai ter menos açúcar do que o pacotinho de biscoito recheado lá da prateleira do supermercado, vai ser com certeza mais nutritivo e mais saudável do que o pacotinho do mercado, justamente por conta do excesso também de aditivos que esses produtos levam. Então, fazer receitas, chamar a criança para ajudar é muito interessante e, como eu falei, tentar também usar um lúdico. Se a criança gosta muito de um produto específico, a gente pode tentar inserir esse produto numa versão mais saudável, uma versão caseira, e que, com certeza, vai ser já muito válido, além de tentar inserir os alimentos mais naturais nas refeições. Criança que está tendo uma resistência muito grande em aceitar os alimentos naturais, a gente começa de pouquinho, como eu falei no início. Então, por exemplo, a criança adora chocolate, tem uma certa resistência em comer frutas, a gente pode tentar fazer essa combinação, juntar o chocolate derretido por cima das frutas. Combinar alimentos que a criança já gosta com alimentos que ela não gosta ainda tanto ali, por conta da falta de um hábito mesmo. Essa é uma das estratégias, mas, com certeza, a gente precisa começar a reduzir a exposição. Deixar de ter menos em casa, deixar de comprar, priorizar os alimentos mais naturais.”
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Fonte: Mulher