Cracolândia: por onde passou, em que ruas está hoje e qual o futuro?

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Dependentes químicos
Rovena Rosa/Agência Brasil

Dependentes químicos “tomam” a Avenida Cleveland e rua Helvétia

A concentração de usuários de drogas no centro de São Paulo, cunhada popularmente como “Cracolândia”, percorreu 18 ruas desde 2006, até retornar para o mesmo lugar.

Em 2022, após uma ação de dispersão feita pela Guarda Civil Municipal (GCM) e Polícia Militar (PM), muitos dependentes químicos se reuniram na praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos, mas se locomoveram por ao menos 31 pontos entre três bairros: o próprio Campos Elíseos, a Luz e Santa Ifigênia.

Em julho deste ano, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que havia interesse em deslocar os usuários para o bairro Bom Retiro. Na ocasião, Tarcísio disse existir “uma estratégia de colocar essas pessoas mais distantes das áreas residenciais e comerciais”, argumentando que a região estava próxima ao Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps), que poderia prestar ajuda.

Segundo o governador, a ideia seria dar atenção aos usuários no Complexo Prates, área de 11 mil metros quadrados onde, desde 2012, compõe equipamentos de atenção social. O local foi inaugurado pela Prefeitura de São Paulo na gestão de Gilberto Kassab (PSD), hoje secretário de Governo e Relações Institucionais.

Três dias depois, Tarcísio de Freitas recuou e desistiu de levar os usuários para o endereço, mas reiterou que a ideia de internar os usuários permanecia como “medida extrema” e “último caso”.

De acordo com dados do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) da Universidade de São Paulo (USP), os locais com mais dependentes químicos foram as ruas Helvétia, Triunfo e dos Gusmões, além da avenida Rio Branco e da alameda Barão de Piracicaba.

Políticas públicas inconclusivas

As ruas por onde a Cracolândia se instalou nos últimos 17 anos ficam em uma área concentrada de 1km quadrado. As 18 vias estão concentradas em cinco pontos do centro de São Paulo.

Em 2006, a prefeitura autorizou a desapropriação do quarteirão onde hoje se encontra a Cracolândia. À época, havia o projeto “Nova Luz”, iniciada com José Serra (PSDB) e que pretendia, por meio de uma concessão urbanística, revitalizar o espaço tomado pelos usuários. O entendimento era que essa ação encerraria o fluxo de pessoas naquele local.


Três anos depois, o então prefeito Gilberto Kassab pediu uma sala em um prédio na rua dos Protestantes para fazer reuniões, realizar despachos e tudo o que “disser respeito ao projeto Nova Luz”.

“Gostei do prédio e pedi aos técnicos consultarem se é possível nos instalarmos numa salinha no térreo”, disse em abril de 2009. A solução, porém, não funcionou, e em 2013 foi arquivada na prefeitura de Fernando Haddad (PT).

O governo Haddad instaurou como política pública o programa “De Braços Abertos”, que se diferenciava dos demais por captar, empregar e remunerar os viciados, com o objetivo de acabar não apenas com a concentração no centro de São Paulo, mas também reinserir os indivíduos na rotina urbana.

Em entrevista ao g1 em 2022, Haddad argumentou que o programa “perdeu a mão” quando a Polícia Militar deixou de fazer policiamento ostensivo na região da Luz. “Ali se perdeu a mão no Braços Abertos, quando a Polícia Militar deu por concluída a tarefa dela”, afirmou o atual Ministro da Fazenda.

“Chegou um belo dia em que ela [a PM] me comunicou que não ia mais fazer o policiamento ostensivo na região da Luz, aí eu perguntei porque eles iriam sair, e eles me falaram que a polícia tinha outras prioridades”, revelou. “Eu falei que, quando eles saíssem, o tráfico ia voltar, e foi o que aconteceu”. O programa foi encerrado quando João Dória (PSDB) assumiu a prefeitura, em 2017.

Operação policial com Polícia Civil e GCM na região da Cracolândia
GCM

Operação policial com Polícia Civil e GCM na região da Cracolândia


Cerca de 68% da população de São Paulo afirma que as medidas de combate à Cracolândia não irão solucionar o problema, de acordo com os dados divulgados pelo Datafolha em 4 de setembro de 2023. Apenas 4% acreditam que as operações da polícia darão resultados em curto prazo.

Em 2022, pelo menos 16 novos locais com concentração de pessoas em situação de rua usando drogas surgiram após a dispersão de dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, no Centro de São Paulo, segundo uma pesquisa feita pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A ação foi uma das táticas orientadas pela prefeitura de São Paulo na gestão do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

Cracolândia não parece ter solução rápida

Em entrevista ao iG, Ricardo Nunes minimizou a situação. “A Cracolândia é um problema de 30 anos, que hoje, tem ali em torno de mil e poucas pessoas que causam um abalo para uma cidade de 12 milhões de habitantes”, defendeu o prefeito de São Paulo, que também afirmou não existir um novo plano.

“Os índices de criminalidade caíram, os números de usuários caíram. Se você pegar lá no iG, nessa época vai ter muitas matérias e fotos que mostravam que tinham 4 mil pessoas, hoje tem mil e poucas pessoas”.

Um ano após a dispersão, a Cracolândia retomou sua rotina e se estabeleceu novamente em uma região. Comerciantes fecharam os negócios nas regiões onde houve concentração de pessoas e poucos comércios resistiram, a ponto de existir uma “rua fantasma” no trecho da Guaianases entre as ruas Vitória e Aurora, com pelo menos 15 comércios interditados ou com as portas fechadas.

Essa foi uma das reclamações feita por comerciantes da região do Bom Retiro ao governador Tarcísio de Freitas, que temiam baixa nas vendas e aumento da criminalidade com a mudança na concentração dos dependentes químicos.

Fonte: Nacional

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