De piercing a joias: entenda tudo sobre os acessórios nos dentes

Entretenimento

De piercing a grillz: entenda tudo sobre os acessórios nos dentes
Divulgação/Elements Grillz e Joia Dental

De piercing a grillz: entenda tudo sobre os acessórios nos dentes

Nos últimos anos, os acessórios nos dentes ensaiaram o seu comeback , com a influência dos anos 2000 na moda. Os brilhos saíram das roupas e maquiagens e foram *literalmente* parar na boca das fashionistas ao redor do mundo. São dois os adornos mais conhecidos: os tooth gems (aqueles brilhinhos, também chamados de “piercings nos dentes”) e os grillz (joias dentais). Abaixo, te explicamos as principais diferenças entre eles!

Entre no canal do iG Delas no Telegram e fique por dentro de todas as notícias sobre beleza, moda, comportamento, sexo e muito mais!

O que são

tooth gems
Divulgação/Elements Grillz e Joia Dental

A utilização dos tooth gems se tornou mais popular nos últimos anos, principalmente entre jovens e adolescentes

Para entender um pouco mais sobre os acessórios nos dentes, o iG Delas conversou com a loja Elements Grillz e Joia Dental, que é responsável pelos grillz de artistas como Cleo, Gloria Groove, Pabllo Vittar, Matuê, entre outros.

Os tooth gems ou piercings nos dentes são pequenos acessórios feitos, geralmente, de cristal sintético capaz de aguentar o PH da boca sem perder o brilho e podem variar de formato ou cor. Sua utilização se tornou mais popular nos últimos anos, principalmente entre jovens e adolescentes.

Já as joias dentais são peças metálicas, feitas de ouro, prata ou níquel, normalmente colocadas na parte frontal dos dentes, e podem contar com facetas estéticas ou coloridas, além de brilhantes, como zircônia, esmeralda ou diamante. São chamados de “grillz” quando colocados em mais de seis dentes unidos, “mini grillz”, no caso de dois a quatro dentes unidos, e “cap” , em apenas 1 dente.

Tooth gems vs Grillz

A principal diferença entre os tooth gems e os grillz é a aplicação, afirma a dentista Letícia Amador, responsável pelos brilhinhos na Elements. “A aplicação é feita com sistema adesivo odontológico e resina (semelhante ao processo de colar bráquete de aparelho). Não tem necessidade de moldar, pois vai direto no dente”, explica ela.

É possível fazer desenhos e estilizar de acordo com o gosto de cada paciente. “Outra grande diferença é que, no caso dos tooth gems , você já sai com o dente brilhando no dia da consulta, enquanto os grillz demoram uns dias para ficarem prontos e exigem moldagem”, comenta Letícia Amador.

A fala é apoiada por Edgard Diamante, que gerencia o setor de grillz do estúdio: “No caso do grillz , é necessário moldar a arcada dentária. Então, o diferencial é que é uma joia exclusiva, não vai poder ser usada em outra pessoa”. Eles podem ser fixos ou móveis, caso o paciente prefira escolher quando irá usar.

Não é necessário arrancar nenhum dente, diz ele. “Você faz um desgaste de milímetros e molda, e depois que a joia estiver pronta, você aplica ela. Igual as lentes de resina e porcelana. Tem pessoas que querem implantar em todos os dentes, algumas perderam um dente e querem fazer o procedimento. Antigamente, as pessoas colocavam em todos os dentes porque era uma forma de guardar dinheiro”, cita Diamante.

Ambos os especialistas destacam que os acessórios devem ser colocados por profissional qualificado, preferencialmente dentistas, em ambiente seguro e estéril. “Além de ser algo estético, temos que pensar na saúde da mucosa (lábios e gengivas), pois podem criar inflamações indesejáveis. Por isso, nada melhor do que um profissional da odontologia qualificado para tal aplicação”, pontua Letícia.

Já em relação aos custos da aplicação, tudo depende de quantas peças serão usadas e qual o design escolhido, mas os tooth gems variam de R$ 80 a R$ 500, enquanto os grillz vão de R$ 549 a mais de R$ 10.000, de acordo com o modelo.

Riscos e cuidados

Em resumo, ambos os assessórios exigem atenção especial na higienização, e sua remoção requer cuidados para não lesionar o esmalte do dente ou comprometer as estruturas de suporte dentário, segundo o presidente da Associação Brasileira Odontologia em São Paulo (ABOSP), Mario Cappellette Jr.

A modelo Hailey Bieber apostou nos brilhinhos nos dentes para o Met Gala de 2017
Reprodução/Instagram

A modelo Hailey Bieber apostou nos brilhinhos nos dentes para o Met Gala de 2017

Para os brilhinhos nos dentes, o paciente deve fazer a escovação e passar o fio dental normalmente. A única atenção, segundo os especialistas, é para a longa vida dos tooth gems: não se deve escovar com muita força, nem ficar “cutucando” os cristais. Também é ideal ficar atento (a) para não acumular alimento ao redor do acessório.

Já para os grillz, a recomendação do especialista é usar escovas interdentais e exaguatórios bucais frequentemente, além de também se evitar o acúmulo de comida na peça. Seu uso prolongado pode afetar a saúde bucal e a função dentária. “Por isso, é recomendado que seja feitam consultas regulares ao cirurgião dentista para avaliação da fixação, já que podem apresentar infiltrações e promover desmineralização do esmalte dentário, cáries e até problemas periodontais e gengivais graves que podem levar a perdas dentárias”.

Edgard Diamante, da Elements, reforça que se for mal colocada, “a joia pode gerar incômodo, retração, mal oclusão e até dor”.

Origem e influência na cultura Hip Hop

Na cultura Hip Hop, os grillz começam a aparecer a partir dos anos 80, e sua grande popularização vem com a expansão global do Rap norte-americano na década de 90 e início dos anos 2000
Reprodução

Na cultura Hip Hop, os grillz começam a aparecer a partir dos anos 80, e sua grande popularização vem com a expansão global do Rap norte-americano na década de 90 e início dos anos 2000

Mas se engana quem pensa que os grillz surgiram lá pelos anos 2000. Existem algumas teorias que remetem ao seu surgimento na cultura afro-americana. A maior parte delas está ligada à escravização dos povos africanos, especialmente no sul dos Estados Unidos. É o que explica Mateus Cunha, do Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial, vinculado ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Afro/Cebrap).

Ele diz que essas teorias vão desde a ideia de que os escravizados escondiam metais preciosos na boca para utilizá-los na compra de mercadorias, até as que dizem que escravizados “rentáveis” tinham, por parte dos seus senhores, acesso a tratamentos de saúde rudimentares e, quando um dente precisava ser extraído, se colocava um metal não nobre no lugar, para evitar infecções e, consequentemente, a perda daquele sujeito rentável.

Dessa forma, se difundia a ideia de que um escravizado com dentes substituídos por metal era um “artigo” valioso. Nenhuma dessas teorias, entretanto, são historiograficamente comprovadas, mas sim, giram em torno de histórias populares.

Na cultura Hip Hop, os grillz começam a aparecer a partir dos anos 80. Mas a sua grande popularização vem com a expansão global do Rap norte-americano na década de 1990 e início dos anos 2000, quando rappers de grande sucesso, como Lil Wayne, Fat Joe, Chris Brown, entre outros, passaram a usar o artigo em videoclipes e aparições públicas.

Mas o apogeu dos grillz veio com o lançamento da música homônima (“Grillz”), do rapper Nelly, artista de grande projeção do Rap norte-americano na época e que fazia uso da indumentária, o que potencializou ainda mais o interesse do público pela joia.

Como os acessórios nos dentes se tornaram sinônimo de status e riqueza

A comunidade negra ressignificou o uso dos grillz e transformou os acessórios nos dentes em sinônimo de status e empoderamento. Numa sociedade capitalista como a norte-americana, a obtenção de artigos de luxo é o que imageticamente dá suporte à ideia de que alguém é “bem-sucedido e poderoso”.

“Pensando no contexto norte-americano — marcado pela utilização de mão de obra africana escravizada e que, por consequência desse processo histórico, produziu uma marginalização da população negra enquanto sujeitos com direito ao acesso a bens e artigos de luxo e unindo tudo isso à influência da cultura negra norte-americana na cultura Hip Hop —, podemos imaginar que os grillz , assim como as correntes de ouro, os relógios e outros artigos de alto valor ligados a esse gênero musical, podem representar um reposicionamento estético dos corpos negros enquanto figuras de poder”, expõe Cunha.

Mas o pesquisador diz ser importante salientar que a utilização de metais e pedras preciosas nos dentes, seja como estética, como forma de demarcar status social ou ainda como tratamento odontológico, não é exclusiva da modernidade ocidental, tampouco uma invenção estética norte-americana (ainda que ligada à cultura Hip Hop).

Pesquisas arqueológicas apontam que alguns grupos do continente africano já usavam ouro no lugar dos dentes anos antes de Cristo. Povos nativos do que hoje conhecemos como América Central também usavam pedras preciosas em seus dentes como indumentárias pelo menos desde o século X. Carregar ouro nos dentes também é uma prática histórica das culturas ciganas, como forma de proteger e facilitar o deslocamento de riquezas.

“Fato é que diversas culturas produziram, às suas maneiras, formas de indumentárias ou de representação de poder e status através de joias nos dentes. Não podemos definir a experiência negra como a fundadora histórica desse tipo de acessório, mas podemos dizer que o Hip Hop, enquanto gênero musical e expressão cultural e estética, tornou global a experiência dos grillz . Mas para definir a genealogia e o processo de popularização de outras formas estéticas para além dessa, seriam necessárias pesquisas aprofundadas sobre o tema”, aponta o especialista.

Apropriação cultural

Tudo que é globalmente difundido e consumido, como o caso do próprio Rap, um dos pilares do Hip Hop, passa por um processo de padronização estética, que não necessariamente é orientada pelos artistas, mas que em maior ou menor grau, é reproduzida por eles, para a adequação do que na Sociologia chamamos de “indústria cultural”. Esta, por sua vez, nada mais é do que a forma que o mercado se organiza para fazer com que alguns produtos sejam mais populares do que outros e, claro, mais consumidos do que outros.

O Rap, apesar do seu histórico contestador, não está fora desse jogo, por isso, alguns de seus símbolos, especialmente os estéticos, são amplamente popularizados e aderidos por grupos raciais e sociais que não são aqueles que originalmente estão ligados ao estilo musical. “O que se espera é que haja um pensamento crítico por parte dos artistas, indústria e consumidores para que não se esvazie completamente esses símbolos e se produza completo desligamento desses marcadores culturais de um grupo que já é historicamente expropriado e marginalizado”, finaliza Mateus Cunha.

Fonte: Mulher

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *