Nesta quinta-feira, dia 18 de julho, é comemorado o dia internacional de Nelson Mandela. A Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu o data do aniversário do principal líder político da história da África do Sul para reconhecer a sua contribuição na luta pelos direitos humanos, pela igualdade racial, pela justiça e pela paz. Hoje, Mandela faria 106 anos.
O nome de nascimento do ativista era Rolihlahla Mandela. Ele nasceu em 18 de julho de 1918 na aldeia de Mvezo, na então União Sul-Africana, que era uma colônia inglesa na época.
Ele pertencia a uma família da nobreza thembu, povo da etnia xhosa. Seu pai era herdeiro do trono e era casado com quatro mulheres – Mandela era filho da terceira esposa.
O pai de Mandela morreu quando ele tinha apenas 9 anos. Como ele era muito jovem para assumir uma posição de liderança no contexto familiar, sua mãe o entregou para o sucessor do trono thembu, Jongintaba Dalindyebo, que cuidou do menino ao lado da esposa e foi um grande incentivador de seus estudos.
O nome “Nelson” surgiu ainda na infância, quando ele ingressou na escola primária em 1925. Os britânicos costumavam atribuir nomes ingleses para os habitantes da colônia para identificá-los com mais facilidade, uma vez que não conseguiam pronunciar e escrever os nomes locais.
Mesmo muito jovem, Mandela já era capaz de perceber os impactos da desigualdade social e racial no lugar onde vivia. Essa visão se expandiu após ele ingressar na escola preparatória Clarkebury Boarding Institute, onde estudou a cultura ocidental.
Ingresso na militância política
Em 1939, Mandela ingressou no curso de Direito da Universidade de Fort Hare, a primeira Universidade da África do Sul a ministrar cursos para negros. Ele foi expulso após participar de alguns protestos estudantis.
Mandela, então, se mudou para Joanesburgo, uma das maiores cidades do país, onde ingressou no curso de Direito da Universidade de Witwatersrand. Apesar de já conhecer a realidade da vida de muitos negros sul-africanos nos povoados menores, a mudança para a cidade grande o deixou ainda mais consciente das dificuldades que eles enfrentavam para viver. Com isso, não demorou muito para que ele se envolvesse com os movimentos da militância política local.
Na década de 1940, Mandela fundou a Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, ao lado de alguns amigos da faculdade. O grupo era a ala jovem do Congresso Nacional Africano (CNA), um movimento político que estava em vigor há mais de 30 anos na África do Sul, que lutava por melhores condições de vida para a população negra do país e pelo fim da desigualdade racial.
Mandela logo assumiu como coordenador de campanhas de desobediência civil contra as autoridades brancas, o que lhe rendeu uma posição de destaque dentro do CNA. Com isso, ele foi eleito presidente da sigla em Transvaal, uma província sul-africana. Tal posto o tornou o segundo homem mais importante do movimento político.
Apartheid e prisão
O regime segregacionista conhecido como Apartheid chegou ao poder na África do Sul em 1948, com a eleição do Partido Nacional, sigla de extrema-direita liderada por Daniel François Mala.
Não demorou muito para que Mandela se tornasse um inimigo declarado do governo, especialmente por suas campanhas de desobediência civil. Como a estratégia do ativista se baseava na “não-violência”, era cada vez mais difícil combater a polícia sul-africana, que era excessivamente violenta contra a população negra.
Nesse meio tempo, o CNA lançou a Campanha de Desafio Contra Leis Injustas em 1951, um movimento que incentivava os civis negros a desobedecerem às regras impostas pelas autoridades brancas.O ativista era o principal porta-voz da campanha.
O movimento resultou em uma série de prisões temporárias, incluindo a de Mandela. A situação se intensificou em 1960, com o evento que ficou conhecido como massacre de Sharpeville, quando 67 negros foram mortos pelas forças sul-africanas. A tragédia levou o líder a aderir à violência armada, o que inflamou ainda mais o conflito com as autoridades.
Naquele mesmo ano, o CNA foi proibido e Mandela ficou detido até o ano seguinte, quando fugiu do país. O líder viajou para países como Inglaterra, Nigéria, Botsuana, Egito, Marrocos e Etiópia para procurar apoio contra o Apartheid e receber treinamento militar.
Em 1962, o ativista foi preso sob a acusação de organizar uma greve e sair do país sem autorização. O julgamento final começou em outubro de 1963 e só terminou no ano seguinte, em junho de 1964, quando Nelson Mandela foi condenado à prisão perpétua.
“Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer“, concluiu o ativista em seu discurso de três horas diante do júri.
Mandela passou 27 anos na cadeia. Nesse período, teve o acesso negado a direitos básicos, inclusive ao de comparecer ao funeral da própria mãe. O governo tentou negociar com o ativista a sua liberdade em troca do abandono da resistência ao Apartheid, mas ele se negou a concordar com essas condições.
Mesmo preso, Mandela continuou a ter contato com a militância negra. Ele transmitia mensagens por meio da família.
“Não posso e não vou dar o meu braço a torcer enquanto vocês, o povo, não forem livres. Sua liberdade e a minha não podem ser separadas. Eu voltarei”, disse em uma mensagem transmitida pela filha Zinzi em uma reunião no subúrbio de Zoweto, em 1985.
Liberdade e reconstrução da democracia sul-africana
A década de 1980 foi de extrema importância para a história da África do Sul. Após quase 40 anos, o regime do Apartheid começava a caminhar para o seu fim, devido a uma série de fatores internos e externos.
A comunidade internacional impôs uma série de sanções políticas e econômicas, que deixavam o país totalmente isolado. Só em 1980, mais de 20 países implantaram embargos econômicos e encerraram suas negociações com o governo sul-africano.
No campo interno, a alta no número de manifestações da população negra, o aumento da violência e uma guerra civil iminente também contribuíram para o fim do regime.
Entretanto, foi só em 1989, com a eleição de Frederik de Klerk, que o Apartheid terminou na África do Sul. Pressionado interna e externamente, o presidente instaurou uma série de medidas para encerrar o regime – entre elas, a liberdade de Nelson Mandela em 11 de fevereiro de 1990.
“Os cliques das câmeras fotográficas começaram a ressoar como se fossem uma manada de animais metálicos. Levantei o punho direito e escutei um alarido. Não tinha conseguido fazer isso em 27 anos e aquilo me encheu de força e alegria”, escreveu o líder em sua autobiografia “Um longo caminho para a liberdade”, de 1994.
Nobel da Paz e presidência
Mandela atuou ao lado do então presidente para estabelecer, além do fim das regras segregacionistas, um regime de democracia no país. Nesse meio tempo, foi eleito presidente da CNA em 1991 e, em 1993, recebeu um Nobel da Paz por sua luta incansável contra o Apartheid, ao lado de Frederik de Klerk.
Em 1994, Mandela concorreu à presidência da África do Sul e foi eleito o primeiro presidente negro da história do país.
“Nunca, nunca, nunca esta bela terra voltará a experimentar a opressão de um sobre o outro. Que o sol nunca se ponha diante de tão gloriosa conquista humana. Vamos deixar a liberdade reinar. Que Deus abençoe a África”, disse em seu discurso de posse.
A gestão de Mandela tinha dois objetivos principais: a reconciliação nacional e a melhoria nas condições de vida da população, especialmente a negra, por meio da Comissão da Verdade e Reconciliação e de programas de desenvolvimento econômico. O ativista também trabalhou para restabelecer a diplomacia do país, tão prejudicada com o regime segregacionista.
Controvérsias
Apesar de ser reconhecido internacionalmente como uma das pessoas mais importantes do século XX, Mandela por vezes rejeitava a imagem messiânica que tanto os sul-africanos quanto os adeptos do seu ativismo pregavam.
“Uma questão que me preocupava profundamente na prisão era a minha imagem falsa projetada ao mundo exterior, sendo considerado um santo que nunca foi”, escreveu o ativista em sua segunda autobiografia “Conversas que tive comigo mesmo”, de 2010.
Um dos principais motivos para isso foi o fato de ter sido um pai ausente e se casado três vezes, com rumores de traições em dois relacionamentos. “Parece que o destino dos que lutam pela liberdade é ter a vida pessoal instável. Ser o pai de uma nação é uma grande honra, mas ser o pai de uma família é uma grande alegria. Um trabalho que exerci muito pouco”, escreveu em sua primeira autobiografia.
Fim da vida política e morte
Mandela se retirou da vida política logo no final de seu mandato. Em meados de 2004, deixou de fazer aparições públicas, devido à idade avançada. Ele faleceu em 5 de dezembro de 2013 na cidade de Joanesburgo, por problemas respiratórios.
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Fonte: Internacional