Divórcio dos famosos: separação é o caminho para ser livre?

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Sandy e Lucas Lima foram um dos casais que se separaram nos últimos dias
Reprodução/Instagram

Sandy e Lucas Lima foram um dos casais que se separaram nos últimos dias

Foi um tsunami de separações de famosos nos últimos dias. Mas será que esse é o único caminho para a liberdade? Marcos Lacerda, psicólogo com quase 30 anos de experiência em relacionamentos, criador de um dos maiores canais do YouTube sobre o tema, com 1,9 milhão de inscritos, e autor do livro “Amar e ser livre é possível”, publicado pela editora Latitude, explica que não.

“Isso de fato é um erro muito comum de se imaginar que liberdade eu vou ser livre ao deixar o outro, porque ao deixar o outro eu vou poder fazer o que eu quiser, como eu quiser, onde eu quiser. Então é preciso a gente começar a rever o conceito de liberdade. O que é liberdade? É fazer o que eu quero, do jeito que eu quero, na hora que eu quero? Isso não é liberdade, isso é irresponsabilidade. A liberdade ela fala de autoconhecimento e por que é que eu preciso me autoconhecer? E aí é que entra um novo conceito de liberdade, para mim um homem verdadeiramente livre é aquele que consegue escolher em qual jaula quer estar preso, porque sempre haverá uma jaula. Não existe como eu escapar disso, porque toda escolha traz uma renúncia”, avalia o especialista.

“Então é neste sentido que o autoconhecimento é fundamental quando a gente fala de liberdade, porque uma coisa é eu estar na jaula que a minha família me colocou, que a sociedade disse que eu deveria estar, que a minha esposa ou o meu meu marido desejam que eu fique. Outra coisa é eu estar nas jaulas que eu escolhi para mim. E para escolher qual é a minha jaula e, portanto, para escolher quais são as minhas jaulas, eu preciso saber quais são os meus valores, quais são os meus gostos, até onde eu suporto coisas, o que é que eu realmente acredito, não o que me disseram que eu deveria acreditar, porque isso é a jaula do outro, mas o que é que realmente eu acredito”, explica Lacerda.

“Então, você quer ser livre dentro de uma relação, escolhe suas jaulas, porque ainda que você escolha eu não vou ter relação nenhuma e eu vou viver feito os tribalistas, né? Eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem. Isso cai numa jaula, da mesma forma eu fico preso a uma situação e deixo de ter outras também é um erro pensar que liberdade fala de sacrificar a própria identidade pra você ter um relacionamento saudável você precisa entender que uma relação ela é composta sempre de, no mínimo, três pessoas. Eu, você e nós. E o nós, muitas vezes, não tem relação nem com eu, nem com você. Em outras palavras, há coisas na minha vida que não dizem respeito à vida da gente, como há coisas na vida do outro que não dizem respeito à nossa vida”, diz o especialista.

Segundo Lacerda, a nossa vida é uma terceira vida. “Mas o nós não apaga, nem pode apagar nem o eu, nem o tu, porque cada um tem uma identidade. E é da confluência dessas identidades que nasce o nós, que é uma terceira identidade, mas que não apaga as identidades originárias. Então, não, nem tudo a gente conversa com o marido. Não, nem tudo a gente conversa com a esposa. E fica fácil entender isso se a gente substituir por filho. Um pai ou uma mãe deve conversar tudo com o filho ou a filha? Não, porque tem coisa que não diz respeito à conversa de pai e filho. Tem coisa que o pai e a mãe devem conversar com os amigos. Tudo se conversa com o marido e a esposa? Não. Tudo se conversa… O filho deve conversar tudo com o pai ou a mãe? Não”, recomenda.

“Há coisas que dizem respeito a mim, há coisas que dizem respeito a você e há coisas que dizem respeito a nós. Um exemplo disso, o meu passado. O meu passado não diz respeito a nós, a nossa relação. O meu passado diz respeito a mim e eu não lhe devo a menor conta do que eu fiz no meu passado. Eu posso, se eu quiser por cortesia, lhe dizer algo do meu passado antes da gente se relacionar, se eu quiser, mas eu não lhe devo isso, isso é meu, eu lhe devo o quediz respeito a nós, a partir do momento em que nós começamos a ter uma relação e estabelecemos que viveríamos essa relação dessa ou daquela forma”, fala o terapeuta.

Lacerda garante que o segredo para uma relação duradoura é bem simples, é tão simples que as pessoas têm dificuldade de seguir. “É aprender a perdoar o outro. Mas, quando eu digo perdoar, também é para vocês entenderem o que eu estou falando. Não é perdoar uma traição, não é isso, não. Eu preciso, para minha relação ser duradoura, aprender a perdoar o outro pelo outro não ser o que eu gostaria que ele fosse. Em outras palavras, o outro não vai atender as minhas expectativas cem por cento. O outro não corresponderá cem por cento à minha fantasia, nem eu, e tudo bem. E na hora que eu perdoo o outro, pelo outro ter as diferenças dele não corresponder ao que eu imaginava, aí eu consigo ter uma relação duradoura, dizendo tudo bem, eu amo você, você não é exatamente como eu queria, mas eu lhe perdoo, porque eu também não sou exatamente como você queria”, explica o especialista.

Agora, diz Lacerda, a gente vive num mundo onde as pessoas estão cada vez mais mimadas e ou é do jeito que eu quero ou eu aperto o delete. “Deletei, tirei da minha vida com muita facilidade. Se eu for tirar da minha vida todo mundo que não corresponde a exatamente o que eu gostaria que a pessoa fosse, eu vou ver só numa ilha. Então quer ter uma relação duradoura? Perdoe o outro não corresponder à sua fantasia. e perdoe-se por não corresponder à fantasia do outro. E também é preciso saber como compartilhar sentimentos com o outro. Isso também é muito válido e importante no relacionamento, e também faz parte do conceito de liberdade. Sempre que a gente começa uma conversa com alguém, seja com marido, esposa, filho, com qualquer pessoa, Há duas formas de eu começar essa conversa. Ou eu começo falando do outro, ou eu começo falando de mim. E normalmente a gente começa falando do outro. E quando eu falo do outro, a gente já sabe onde isso vai dar. Em briga, confusão, discussão, bate-boca…”

Pois bem, mas o que é falar de mim? O que é falar do outro? Falar do outro é assim. Você começa a conversa assim. “Você fez isso e você devia ter feito aquilo e você errou porque você tinha que ter levado o filho, porque você tinha que ter botado o lixo pra fora, porque você tinha que, e você não podia, e você, e você… Eu tô falando do outro. Eu não tô falando de mim. E essa conversa não vai levar a lugar algum. E isso não será uma relação saudável. Fale de você. Como? Assim. Olha, você fez isso. E quando você faz isso, eu me sinto triste, eu me sinto irritado, Eu me sinto com raiva, eu me sinto pouco ouvido, eu me sinto desprezado. Eu não estou dizendo que você me desprezou, eu estou dizendo como eu estou me sentindo. Eu não estou falando de você, eu estou falando de mim. E eu preciso que você acolha como eu me sinto e pode ser que como eu me sinta nem faça sentido para você. Mas eu preciso que você acolha para que você compreenda como eu me sinto quando você age de determinadas formas. Entende? Na hora em que eu não falo do outro, falo de mim, a chance de eu ser ouvido e de ter um diálogo produtivo e andar nessa relação aumenta substancialmente. É assim que a gente divide sentimentos com o outro, falando da gente e não do outro”, ensina Lacerda.

Fonte: Mulher

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