É verdade que mulher com forte odor na virilha tinha marido necrófilo?

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É possível que paciente com forte odor na região íntima tenha marido necrófilo?
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É possível que paciente com forte odor na região íntima tenha marido necrófilo?

Se você acessou as redes sociais nos últimos dias, com certeza se deparou com a história de uma mulher com forte odor na região íntima. Segundo o relato, publicado por uma médica, após os exames, essa paciente descobriu que havia contraído uma bactéria “proveniente de pessoas mortas”. Com o laudo, ela concluiu que o culpado seria o marido, que trabalhava em um necrotério e estaria praticando necrofilia — o ato de ter relações sexuais com cadáveres.

O vídeo viralizou no TikTok e teve 5,4 milhões de visualizações e quase 600 mil curtidas. Mas será que essa história é real?

Vídeo viral no TikTok diz que paciente teria descoberto
Reprodução/TikTok

Vídeo viral no TikTok diz que paciente teria descoberto “bactéria proveniente de pessoas mortas” na vagina

O iG Delas tentou contato com a médica Larissa Pereira Faria, responsável pelo vídeo, mas não obteve retorno até o momento de publicação desta reportagem.

Alguns pontos da história, no entanto, levantam suspeitas, como explica o infectologista Alexandre Naime, Chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e Coordenador Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.

“Quando médicos, cientistas, profissionais da saúde descobrem algo inusitado, que seja de interesse científico ou mesmo criminal e que pode servir de alerta para outras pessoas, a gente publica o caso. São os famosos relatos de caso, que são uma comprovação científica daquilo que ele está vendo”, inicia ele.

Além disso… “em nenhum momento, ela fala qual é o nome da bactéria. Cadê o exame que comprova que a paciente está com aquela bactéria supostamente atribuída a cadáveres? Ela mostrou o boletim de ocorrência de que o marido da paciente estava envolvido com o crime de necrofilia? Porque, pelo vídeo, ele foi até preso… Tudo isso, de forma inicial, já descredencia a veracidade da história”.

Origem da história

A história não é nova. Outras narrativas como essa circulam de boca a boca e, agora, na internet, há décadas. Um exemplo é de 2010, quando o jornal Malta Business Weekly investigou um caso que teria acontecido em um necrotério na ilha e atestou que tudo não passava de uma lenda urbana. A reportagem ainda citou que rumor parecido já havia saído em um jornal norueguês antes.

Em 2016, o site PousoAlegre.net relembrou de quando correu na cidade mineira, em 2009, o boato de que uma mulher teria ficado com feridas nos lábios após beijar um estudante de Medicina e, após investigação policial, teriam descoberto que ele praticava necrofilia com corpos que escondia no freezer, mas também sem comprovação.

De acordo com o folclorista norte-americano David Enemy, a possível origem dessa lenda seria um conto escrito pelo norueguês Øystein Skundberg chamado “The Bad Date” (“O Encontro Ruim”, em português), que narra a história de uma moça que, ao sentir forte coceira na virilha, é diagnosticada com uma doença transmitida por “vermes” presentes apenas em cadáveres.

Mas…

O infectologista reforça: “Não existem bactérias que são específicas do cadáver, do corpo em decomposição. Nós, seres humanos vivos, temos o que chamamos de flora bacteriana. Na vagina, no intestino, na pele, no trato respiratório. E quando a pessoa morre, essas bactérias começam a invadir os tecidos, porque o sistema imunológico não funciona mais”.

“Fica parecendo muito mais uma narrativa fantasiosa ou que a médica tenha desconhecimento que bactérias que existam no trato vaginal da mulher possam causar infecções bastante evidentes, chamativas, com cheiro muito forte, podrido. Por exemplo, a Gardnerella [vaginalis], Proteus [mirabilis], que dão esse cheiro forte, mas não que isso seja exclusivo de pessoas mortas. Quando a mulher perde o equilíbrio da flora vaginal, e algumas dessas bactérias estão presentes na vagina, isso pode levar ao mau-cheiro”, conclui.

Ou seja, ainda que esse marido pratique necrofilia, a suposta infecção descoberta pela mulher não é suficiente para comprovar a prática e levá-lo à prisão, como narra o vídeo, já que não existe uma bactéria exclusiva de cadáveres. Teriam que existir outras provas, como gravações ou flagrante.

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Fonte: Mulher

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