Segundo a Associação de Moradores de Acari, bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro, cerca de 20 mil pessoas que habitam a região perderam móveis, eletrodomésticos e documentos durante a enchente provocada após as fortes chuvas desse final de semana.
O número é maior que o divulgado pelo governo do Estado, que estima 15 mil pessoas afetadas pelas chuvas, segundo balanço parcial divulgado nessa terça-feira (16).
Uma das 13 mortes confirmadas pelo Corpo de Bombeiros foi a de Marli Zeferino Alves, moradora de Acari que tinha 77 anos. Ela foi encontrada sem vida por volta das 7hs de domingo (14), em sua residência na rua Maturá, vítima de afogamento.
O bairro, cercado pelo Rio Acari, sofre com grandes alagamentos há anos, de acordo com moradores. Em fevereiro de 2020, um temporal fez com que a Escola Municipal Érico Veríssimo, localizada no bairro, ficasse debaixo d’água, às vésperas do início do ano letivo. Um vigia perdeu o carro, levado pela enchente.
Em julho de 2023, a Prefeitura do Rio anunciou que a Fundação Instituto das Águas do Município do Rio de Janeiro (Rio-Águas) – órgão vinculado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade – havia realizado um serviço de limpeza e desassoreamento no rio.
De acordo com o município, mais de 191 mil toneladas de materiais foram retirados do local, entre a Avenida Pastor Martin Luther King e a estrada João Paulo. Contudo, o projeto inicial, que previa a construção de bolsões para escoar a água e evitar o transbordamento, não se concretizou.
Autoridades vêem descaso histórico
Nas redes sociais, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, declarou que “não é natural que em alguns municípios, bairros, periferias e favelas sofram com consequências mais graves da chuva do que outros”, argumentando sobre a estimativa de favelas e periferias sofrerem cerca de quinze vezes mais com as chuvas.
“Isso acontece porque uma parte da cidade, do estado, não tem a mesma condição de moradia, de saneamento, de estrutura urbana do que a outra. Também não é natural que esses lugares tenham ali a maioria da sua população negra. Isso faz parte do que a gente chama e define de racismo ambiental e os seus efeitos nas grandes cidades”, completou.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, afirmou que essas catástrofes afetam mais severamente grupos sociais discriminados. “O conceito de racismo ambiental há décadas é objeto de estudos científicos”, afirmou Almeida em publicação nas redes sociais.
“Ele visa a explicar a forma com que as catástrofes ambientais e a mudança climática afetam de forma mais severa grupos sociais política e economicamente discriminados que, por esse motivo, são forçados a viver em condições de risco. Não significa dizer que apenas pessoas destes grupos são afetadas pelos eventos climáticos, mas que as pessoas a que a estes grupos pertencem são mais afetadas, por razões sociais, pelos eventos ambientais”, acrescentou o ministro.
Fonte: Nacional