Exaustão feminina: quando a rede de apoio se torna essencial?

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Exaustão feminina: quando a rede de apoio se torna essencial?
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Exaustão feminina: quando a rede de apoio se torna essencial?

Em um estalar de dedos, o assunto do momento foi da multi jornada à exaustão feminina. Mas quem imaginaria que fazer mil coisas ao mesmo tempo iria gerar cansaço mental, físico e até espiritual? Enquanto a realidade da mulher for se dividir dentro das mesmas 24h do dia entre trabalho remunerado, cuidar da casa, cuidar dos filhos e cuidar dos familiares, a exaustão também irá existir.

O ciclo vicioso de cuidar dos outros sem se cuidar e fazer as coisas do jeito que dá, vai gerar cada vez mulheres mais doentes, sem saúde no corpo, na mente e nas relações. O tema dá pano pra manga. A médica intensivista e paliativista, criadora do projeto Cuida, Carol Sarmento, reflete sobre o tema.

Falar de exaustão feminina traz à tona uma solução que parece bem simples: autocuidado. Mas a verdade é que inserir o conceito simplista de autocuidado para algumas realidades chega a ser antiético. “Muitas mulheres encaram uma realidade sobrecarregada de maneira sobre-humana, sem descanso, sem reconhecimento e sem possibilidade de pausas. Mulheres que cada vez mais acumulam responsabilidades e funções que a sociedade inteira entende ser papel exclusivo delas, como a responsabilidade de gerir a casa e cuidar de crianças e idosos”, conta Sarmento.

Qual a importância de estar rodeada de mulheres com os mesmos objetivos e anseios que você?

À mulher é inerente o cuidar, além de serem biologicamente mais atentas e capazes de perceber detalhes: o que faz com que percebam mais facilmente quem esteja precisando de auxílio, cuidado e atenção. Se existe uma rede de mulheres que se reconhece, suporta e se apoia mutuamente, há espaço para acolhimento, escuta, cuidado, troca de experiências e crescimento, afinal, as dificuldades e problemas que as mulheres compartilham são parecidos, cíclicos e se repetem em tempos, pessoas e cenários diferentes.

Um estudo da Universidade da Califórnia (UCLA) mostra que em momentos de tensão, pessoas do sexo feminino produzem uma grande quantidade de ocitocina, um hormônio que ajuda a regular nossas emoções e provoca sensação de apego – o mesmo hormônio do parto.

“Ter mulheres fortes como rede de apoio é crucial para uma vida com mais qualidade. Acredito que quando perdemos uma rede de apoio feminina, a gente fica um tanto sozinha no mundo. Tão mais se tivermos filhos, assim como se tivermos que trabalhar, que gerir uma casa, ou ainda se estivermos em tempos difíceis emocionalmente”, conta a autora do projeto Cuida.

A sociedade diz em alto e bom tom que mulheres são inimigas e competitivas entre si, mas quem diz isso nunca viu as amizades sinceras que brotam na fila do banheiro na balada. De acordo com a Universidade de Harvard, estudos mostram que pessoas que têm relacionamentos satisfatórios com a família, amigos e comunidade são mais felizes, saudáveis e vivem mais.

Um passo de cada vez: não é a solução, mas é uma melhoria

“Está dado, a co-responsabilidade de papéis em cuidados com crianças e idosos, divisão de funções dentro das relações familiares, divisão do trabalho domiciliar entre todos os membros da casa, educação anti machista de meninos e meninas, igualdade e paridade salarial entre homens e mulheres, e até remuneração para pessoas que trabalham em cuidados do lar e família deveria ser regra e não exceção. A resposta é muito clara: estamos exaustas, sobrecarregadas e trabalhando para toda uma sociedade de maneira não reconhecida, não remunerada e não legitimada”, conta Carol.

Para começar é preciso aprender a dizer não, como forma de priorizar o que seja essencial, especialmente no que tange a respeitar os próprios limites e evitar a sobrecarga que as pessoas ao redor querem impor. Dividir as responsabilidades também é um passo para a melhoria, assim é mais justo conviver seja com cônjuge para divisão 50/50, e filhos em co-participação de tarefas em casa. De acordo com o estudo Women ‘s Health Bull, publicado em 2015, para que sejam mais saudáveis e ativas na sociedade, as mulheres precisam estabelecer diferentes tipos de relações sociais e apoio mútuo.

Carol Sarmento explica a prática da listinha de ‘5 coisas que me fazem bem em todo o tempo’. “Consiste em escolher diariamente pelo menos uma ou duas coisas dessa lista especial que represente um cuidado para si e colocá-la em prática, como se fosse um remédio para tomar todos os dias. A partir daí é possível ter um mínimo de tempo para olhar para dentro de si, para o autocuidado com o corpo, cuidar da alimentação, sair do sedentarismo, cuidar do sono, cuidar das relações e experimentar o bem estar todos os dias”, explica Carol.

Ela explica o poder da listinha em pacientes que têm doenças que ameaçam a continuidade da sua vida. “Há anos pratico esse pequeno exercício da listinha com pacientes que atendo. Peço para fazerem uma lista de 5 coisas que lhes fazem sentir bem. Coisas simples que não custam fortunas, são acessíveis no dia a dia, e que representam o bem-estar para si hoje, amanhã e daqui a anos futuros se estivermos vivos. Acrescento que não vale responder coisas como comprar um carro novo, torrar o cartão de crédito numa tarde no shopping, comer em um restaurante que custa um rim”, finaliza.

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Fonte: Mulher

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