EXCLUSIVO! Conheça os benefícios medicinais do CBD e a controvérsia por trás de seu uso

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Numa entrevista exclusiva ao fatosefotosnews.com.br o renomado psiquiatra Dr. Fabio Leite nos passa uma visão esclarecedora sobre o CBD e como ele funciona no corpo humano

Foto: Acervo pessoal

O CBD, ou canabidiol, é uma substância natural encontrada na planta da cannabis. Ao longo dos anos, tem havido uma série de discussões em torno do CBD e de seus benefícios potenciais na medicina. Embora a cannabis seja frequentemente associada ao uso recreativo, o CBD não possui efeitos psicoativos, o que significa que não causa a sensação de “barato” normalmente associada à maconha.

Uma das principais aplicações medicinais do CBD é o seu potencial no alívio da dor. Muitos estudos sugerem que o CBD pode ajudar a reduzir a dor crônica, incluindo a dor associada a doenças como artrite, fibromialgia e esclerose múltipla. Além disso, o CBD também tem sido estudado por sua capacidade de reduzir a inflamação, o que pode beneficiar pessoas com condições inflamatórias crônicas.

Outro benefício potencial do CBD é seu papel no tratamento de distúrbios mentais, como ansiedade e depressão. Estudos publicados em revistas científicas indicam que o CBD pode ter efeitos ansiolíticos e antidepressivos, ajudando a reduzir os sintomas associados a essas condições.

Além disso, o CBD também tem sido estudado por seu potencial no tratamento de convulsões e epilepsia. Um exemplo notável é o uso do CBD no tratamento da síndrome de Dravet, uma forma rara e grave de epilepsia infantil. Estudos mostraram que o CBD pode ajudar a reduzir a frequência e a gravidade das convulsões em pacientes com essa síndrome.

No geral, o CBD tem despertado interesse na comunidade médica e científica devido aos seus possíveis benefícios na redução da dor, tratamento de distúrbios mentais e controle de convulsões. À medida que mais pesquisas são realizadas, espera-se que possamos obter uma compreensão mais completa do potencial terapêutico do CBD e suas aplicações na medicina.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao jornalista Zé Américo Silva, o renomado psiquiatra Dr. Fabio Leite nos passa uma visão esclarecedora sobre o CBD e como ele funciona no corpo humano. Além disso, discutimos os benefícios medicinais do CBD e a polêmica que envolve o seu uso. Prepare-se para uma entrevista esclarecedora sobre um tema que está ganhando cada vez mais destaque no campo da saúde.

O que é canabinóide (CBD)?

  • Dr. Fábio Leite – Fábio Leite – O CBD é uma substância que é encontrada no canabidiol. Ele é canabinoide que é encontrado na canábis. Mas dentro do nosso organismo nós temos canabinoides, como o canabidiol, mas com uma estrutura química diferente, como a anandamida, por exemplo, o 2-acil-glicerol, que são canabinoides endógenos que estão dentro do nosso corpo. O canabidiol é fitocanabinoide, ou seja, é um canabinóide que é encontrado numa planta chamada canábis. Do gênero canábis. E tem as outras subespécies, canábis sativa, canábis índica, canábis afgânica, enfim. Então, o nosso organismo tem canabinóides muito parecidos com o canabidiol. E também tem uma estrutura chamado sistema do canabinoide, esses locais de ligação, receptores canabinóide tipo 1, canabinóide tipo 2, CB1 e CB2, onde o canabidiol se liga.

Como o CBD funciona no corpo humano?

  • Dr. Fábio Leite – A ação do canabidiol no nosso organismo pode ser direta ou indireta. Uma ação indireta, ela inibe algumas enzimas do nosso organismo que tem o papel de degradar, de destruir algumas substâncias canabinóides. Uma nandamida, por exemplo. Então, como o canabidiol inibe a enzima que diminui a concentração da nandamida, a concentração da nandamida acaba aumentando e ela age no organismo da gente, dando a sensação de bem-estar, de tranquilidade. Uma outra ação do canabidiol é sobre a adenosina também de uma forma indireta inibindo a degradação fazendo com que haja aumento da adenosina que ela vai ajudar a gente no sono. Então a ação sobre a anandamida e sobre a adenosina é uma ação indireta. Por quê? Porque ela não age direto no receptor. No caso do receptor 5-HT1A é uma ação direta do canabidiol, que é receptor para diminuir a ansiedade. Então a ação sobre o sono, que é pela elevação da adenosina, e a ação nesse quadro de bem-estar, de tranquilidade, são ações indiretas. Uma ação indireta em receptor 5HT1. E na dor também existem ações diretas do cannabidiol sobre receptores no organismo. Além de ações sobre o sistema imunológico, receptores cannabidiol tipo 2. Então o cannabidiol pode agir de forma direta, diretamente no receptor, ou de forma indireta. E ele também faz uma modulação do THC. Então quando a gente precisa usar o canábiol de óleo com o THC, o THC tem alguns efeitos colaterais indesejados, então o canabidiol acaba diminuindo esses efeitos colaterais, fazendo com que o THC faça a ação terapêutica sem tanto prejuízo para o paciente.

Quais são os benefícios medicinais do CBD?

  • Dr. Fábio Leite – O canabidiol pode ser usado para ansiedade, insônia, dor crônica, epilepsia, alguns quadros inflamatórios, quadros de depressão, ele ajuda bastante. Então tem leque bem amplo de utilidades, de ações. Não existe uma preocupação, receio. Os estudos mostram que pacientes que usaram até 1.600mg do canabidiol não tiveram nenhum tipo de mal-estar, nenhum tipo de efeito colateral, ou seja, não houve nem intoxicação. O que a gente tem que tomar cuidado é quando se usa outros medicamentos. Quando a gente está usando, por exemplo, paciente autista que usa também outras medicações, alguns pacientes com epilepsia, se for usar Clobazan, Astrovalprox, que são substâncias que a gente usa também para epilepsia, o canabidiol pode aumentar a concentração dessa substância no sangue. Isso pode prejudicar bastante o paciente.

O CBD é seguro?

  • Dr. Fábio Leite – O sistema endocanabinóide é diferente de paciente para paciente. As doses também, elas acabam sendo muito personalizadas, muito particulares. Por isso é importante também ter profissional com formação, mas principalmente experiência, porque qualquer pessoa pode pegar na internet hoje em dia, informação sobre caramabidiol, pode ler, mas na hora de fazer ajuste de dose, na hora de saber administrar e manejar, você tem que ter realmente algum tipo de conhecimento prático e não só teórico.

Quais são as formas de administração do CBD?

  • Dr. Fábio Leite – São várias. Sublingual, oral, transcutânea, com uso de pomadas, tem alguns sprays também, existem várias formas. Como os receptores canabinoides variam bastante, então se você quiser, por exemplo, tratar uma lesão de pele ou uma inflamação, a pomada é bem interessante, porque você vai ter uma ação direta. Você pode usar via oral, pode usar via sublingual, que tem uma ação, às vezes, pouco mais rápida. Então, a gente vai fazendo o uso das formas de administração, de acordo com a necessidade do paciente.

O uso de produtos derivados da cannabis é legal?

  • Dr. Fábio Leite – Hoje, com relação a legislação, o que a gente tem é o uso do óleo e algumas outras apresentações como pomada que a gente consegue ainda usar, principalmente para quadros de dor crônica, para pacientes que têm lesões de pele e aí a gente precisa de uso tópico. Alguns outros produtos que são comercializados em outros países, como a de mascar, Enfim, uma gama enorme de outros produtos ainda não foram liberados para o Brasil, justamente porque existe uma postura ainda de observação. A gente está ainda com algumas questões para o uso oral, tradicional. Então existe toda uma questão governamental e política de ter mais cautela e mais critério. Mas muito disso é puramente por uma questão de desconhecimento. Mas também a gente não pode achar que o Canabidiol é uma brincadeira. Acho que tem que ter seriedade, mas não precisa ser uma seriedade impeditiva. Eu acho que equilíbrio é sempre bom e ajuda, principalmente porque muitos pacientes são beneficiados com o uso, então eu acho que é sempre bom pensar nas formas que podem ser úteis para os pacientes.

Qual sua opinião dentro de toda essa polêmica sobre o CBD?

  • Dr. Fábio Leite – A minha opinião é equilíbrio. A medicina é uma ciência, então o nosso pensamento tem que ser pensamento científico. Nós não podemos ficar com guerra de narrativas porque A ciência não tem muito espaço para opinião pessoal. A gente precisa ter bom senso, ter equilíbrio e principalmente ter pensamento baseado no método científico, que é o que a gente usa na nossa profissão, a medicina é uma ciência. Então existem trabalhos sim, existem provas sim, existem evidências sim, existem outros trabalhos mostrando que talvez os estudos duplo cego randomizado que é o que mais se usa não seja o melhor para fitofármaco que é o caso do Cannabidiol.

É perceptível que o senhor defende critérios bem definidos para uso e prescrição?

  • Dr. Fábio Leite – A gente também não pode deixar a coisa no limbo de fitoterápico para todo mundo ficar usando como medicina complementar, não acho que seja algo sério, acho que isso não é prudente. Também acho que não se deveria liberar para todo profissional médico, porque nós estamos num momento de domínio, de técnica, de aprendizado, ainda por muitos colegas que tão talvez as especialidades que tivesse uma ação mais direta, psiquiatria, neurologia, geriatria, o pessoal que também trabalha com dor crônica, eu acho que são especialidades para o início, mais estruturado, mais organizado, mais adequado fazer uma capacitação, fazer preparo desses profissionais para que eles possam tratar. E aí aos poucos isso vai sendo disseminado. O nosso aprendizado médico é desse jeito. Médicos mais experientes passando para médicos menos experientes. A residência médica é basicamente isso. Incorporar isso no currículo médico. Ou seja, é processo. É processo principalmente educativo e de formação profissional. Então eu acho que o problema que nós temos hoje é que o carnaval de óleo entrou no Brasil muito mais por uma via de discussão política, ideológica e não científica.

O senhor acredita que há uma contaminação político ideológica na discussão sobre este assunto?

  • Dr. Fábio Leite – E a gente, infelizmente, tem passado por um momento bem complicado das pessoas não separarem, uma coisa da outra. Política é política, ideologia é ideologia e ciência é ciência. Então, acho que cada coisa é uma coisa, a gente tem que saber entender, não precisa ter nenhum tipo de conflito. O importante é o bem-estar dos pacientes, a gente vê que realmente tem pessoas que melhoram demasiadamente, ficam muito bem. Talvez outros não se beneficiem, tanto como vários outros fármacos que existem. Tem paciente que toma antidepressivo e fica excelente, o outro não é tão bom. Isso não quer dizer que aquele antidepressivo não vai ajudar o outro paciente ou que ele não tenha nenhuma utilidade. Então, parece que tudo que a gente aprendeu, o que a gente sabe, quando se fala de canabidiol, as pessoas parecem que esquecem. Então, acho que não é por aí.

Qual o papel das entidades médicas neste assunto?

  • Dr. F’bio Leite – A gente tem que ter norte, né, e acho que as entidades médicas elas precisam realmente ter uma postura diferente, porque existem tantos países no mundo sérios, como os Estados Unidos, por exemplo, do ponto de vista de legislação, do ponto de vista da regulação, o FDA, a agência também de saúde europeia, vários países muito sérios que usam o Cannabidiol e que têm resultados muito bons. Então, nós não podemos achar que eles são irresponsáveis. São organizações médicas internacionais, como a gente tem, o nosso Conselho Federal de Medicina, como nós temos a Associação Médica Brasileira, eles também têm, e são sérios, e países que produzem muita ciência. Então, eu acho que não é inteligente achar que nós do Brasil sabemos e temos muito mais capacidade e entendimento do que países com a ciência extremamente desenvolvida como Estados Unidos, Europa, enfim, outros países, e que fazem uso do canabidiol. Se a gente usar um pouco de bom senso e de lógica, a gente vai perceber que a nossa postura pode ser melhorada.

*Dr. Fábio Aurélio Costa Leite
CRM DF 12379
Residência em Psiquiatria no Hospital de Base do
DF e estágio na Universidade de Coimbra. Diplôme
Inter Universitaire (DIU) em fisiologia e patologia do
sono (Grenoble), DIU Medicina do sono do idoso(Paris),
DIU Psiquiatria geriátrica (Montpellier), Médico de
ligação há 18 anos em Brasília , Especialização em Dor
pela USP, Psiquiatria intervencionista com infusão de
cetamina e atuação em cannabis medicinal.

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