IICA homenageia ex-diretor Carlos Miranda pelos grandes serviços prestados ao desenvolvimento rural no Brasil, América latina e Caribe.

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Pernambucano de Canhotinho, pequeno município situado bem ao sul do Agreste pernambucano, nasceu em 1938 e emigrou para o Recife, onde se formou, como era comum à época, no conceituado curso de Direito da atual UFPE

Fotos: Divulgação

O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) é o organismo especializado em agricultura do Sistema Interamericano que apoia os esforços dos Estados membros em sua busca pelo desenvolvimento agrícola e pelo bem-estar rural.

Em evento realizado na sede do Instituto em Brasília, no último dia 11, com a presença do Dretor Geral Manuel Otero, do Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar Paulo Teixeira, representantes da instituição no Brasil e em outros escritórios interncionais, o ex-diretor Carlos Miranda recebeu um Certificado de Reconhecimento por toda sua contribuição técnica aos diversos projetos desenvolvidos no Brasil, América Latina e Caribe.

Foi saudado em discurso por Mnuel Otero que se referiu ao homenageado como a pesoa do IICA no Brasil que tinha a capacidade de “fazer as coisas acontecerem” pela sua capacidade de articulação ímpar.

Mas foi na fala da ex-colega de trabalho e grande amiga Dra. Tânia Bacelar, que os presentes testemunharam a trajetória completa pessoal e profissional de Miranda, desde a sua cidade natal Canhotinho no sertão pernambucano até o reconhecimento do seu trabalho, internacionalmente.

“Ao sair da Sudene, dirigiu Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional -CAR, na Bahia, por 15 anos (de 1972 a 1987) … Tanto tempo, que virou baiano… ” 

“Depois, foi trabalhar no Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), período em que viveu em vários países da América Latina trabalhando com políticas de desenvolvimento agrário com enfoque territorial. Virou cidadão do mundo…

“E ajudou a construir um enfoque inovador para abordar o desenvolvimento rural.” Relata Tânia Bacelar.

Confira imagens do evento e a íntegra do texto da Dra. Tânia Bacelar – Economista, Doutorado na Universidade de Paris I, especialista em desenvolvimento regional , Professora aposentada e Emérita da UFPE, ex Secretaria do Planejamento e da Fazenda de Pernambuco, ex Secretaria de Planejamento e Urbanismo do Recife, ex Secretaria de Politicas de Desenvolvimento Regional do Governo Federal. Ex economista da SUDENE. Consultora de organismos internacionais (PNUD, IICA, BID) e nacionais. Palestrante em eventos empresariais, governamentais e de organizações da sociedade civil.

TEXTO DO PRONUNCIAMENTO

CARLOS LUIZ DE MIRANDA, ou simplesmente CARLOS MIRANDA, por Tânia Bacelar

Pernambucano de Canhotinho, pequeno município situado bem ao sul do Agreste pernambucano, nasceu em 1938 e emigrou para o Recife, onde se formou, como era comum à época, no conceituado curso de Direito da atual UFPE

Mais tarde, tornou-se cidadão do mundo…

Terminando sua graduação no momento inicial da SUDENE, teve, como eu, e muitos jovens à época, uma grande oportunidade…

Celso Furtado investia em formar novos quadros técnicos para atuar na promoção de políticas públicas para a região, na luta contra as desigualdades regionais, que se ampliavam…

Carlos foi aluno, em 1961, da primeira turma do Curso que formava especialista em Desenvolvimento Econômico (o famoso TDE), organizado pela CEPAL através do ILPES

Os primeiros de cada turma, como Carlos, eram contratados pela SUDENE, onde trabalhou por 11 anos, entre 1961 e 1972 

Se especializou em desenvolvimento agrícola

 Integrou o Departamento de Agricultura e Abastecimento (DAA) da Sudene, chegando a ser coordenador do prestigiado e inovador Grupo de Análise e Planejamento Agrícola (GAPA).

Colocou, então, seus conhecimentos e sua liderança técnica, para enfrentar o desafio prioritário à época:  reduzir o hiato entre o Ne e o SE do Brasil. Hiato que foi reduzido, embora ainda falte muito: a renda per capita do NE era 1/3 da nacional e hoje supera um pouco os 55%

Naqueles tempos, Carlos concentrou suas energias na formação e qualificação de estruturas técnicas nos Estados nordestinos.

Foi agente estratégico na montagem das CEPA’s, que se alastraram, depois, Brasil afora, e sobretudo na implementação de cursos de formação de gestores públicos (base para reduzir o clientelismo, praga da gestão do setor público de então… e que insiste em resistir…)

Foi aí que nos cruzamos: recém egressa de curso de planejamento global oferecido pelo ILPES-CEPAL, fui convidada a atuar como professora destes cursos, Nordeste a fora…

Carlos era um coordenador presente, atento às demandas de professores e alunos, e supervisor da excelência na implantação do projeto de cada curso, oferecidos em tempo integral…

Ao sair da Sudene, dirigiu Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional -CAR, na Bahia, por 15 anos (de 1972 a 1987) …

Tanto tempo, que virou baiano…  

Depois, foi trabalhar no Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), período em que viveu em vários países da América Latina trabalhando com políticas de desenvolvimento agrário com enfoque territorial.

Virou cidadão do mundo…

E ajudou a construir um enfoque inovador para abordar o desenvolvimento rural.

Mas o NE era seu objeto de atuação irresistível: e o cidadão do mundo traz sua experiência para a região que nunca saiu de sua cabeça e de seu coração…

Trabalhou, então,da Bahia ao Maranhão, passando por PE, Paraíba, Rio Grande do Norte… sempre com foco no desenvolvimento rural, um grande desafio do Brasil e em especial para o NE, até hoje.

 O agronegócio avançara nos governos militares, o desenvolvimento rural não…

Nos cruzamos de novo: contratada como consultora, e com Carlos no comando, pelo IICA, assessoramos, Nordeste adentro, a construção de planos sub-regionais participativos, com destaque para iniciativas orientadas ao meio rural…

Mergulhamos na rica DIVERSIDADE do rural nordestino… um ATIVO maravilhoso do Brasil…

Eram tempos de abertura política e de retomada dos movimentos sociais, ávidos por mudanças, sobretudo na base produtora de alimentos pelas numerosas unidades familiares do país…

Da luta social, nasce o Ministério do Desenvolvimento Agrário já no Governo FHC…

Carlos, sempre articulando saberes, pessoas, instituições, recursos financeiros… ajudou a dar uma virada de chave importante para as políticas públicas voltadas ao Brasil rural: a passagem do uso do conceito de pequena produção (que permitia ao grande produtor se travestir de pequeno, sobretudo na central política de crédito) ao conceito de produção familiar (definida com base na relação social de produção, que passa a caracterizar as bases agropecuárias do Brasil nas políticas públicas).

Naqueles tempos, reuniões no CONDRAF contavam com ele, sobretudo atuando nos bastidores… discreto, mas firme e inovador nas suas concepções…

Aliás, ele é um dos maiores articuladores que conheci…Uma pessoa agregadora, como poucas…

Liderou pelo IICA estudos sobre a abordagem territorial das políticas públicas voltadas ao meio rural.

Que não são apenas as agropecuárias (visão dominante entre os economistas) mas são promotoras do desenvolvimento em ambiente de ruralidade. E o “rural é um modo de vida”, como nos ensinava Nazareth Wanderley…

Usava suas relações profissionais no exterior e o prestígio do IICA para fazer avançar abordagens inovadoras no Brasil…

Organizou, então, fóruns internacionais sobre desenvolvimento rural: ruralidade, território e políticas públicas para um desenvolvimento sustentável. Mais uma vez, um precursor…

E valorizava cada vez mais a abordagem territorial nas políticas de desenvolvimento rural.

Neste ponto, atuamos juntos, mais uma vez: estudos, publicações, encontros nacionais e internacionais… (para os quais o IICA era o esteio)

Carlos, atento e inquieto, registrava os avanços e as dúvidas restantes… Por isso, foi, o organizador da “Série de Desenvolvimento Rural e Sustentável”.  

As ousadias e avanços impulsionados pela atuação de Carlos eram apoiadas firmemente por Dr. Manuel Otero, quando representante do IICA no Brasil.

Destaco, na Serie citada, a de número 22, com a tipologia regionalizada dos espaços rurais brasileiros e a de número 23, intitulada “Agricultura familiar: ruralidade, território e políticas públicas”, onde a equipe mobilizada pelo IICA ousou dizer que o Brasil é muito mais rural do que se imagina, num país que supervaloriza o urbano.

O profissional competente e comprometido com a construção de um Brasil menos injusto, é resultado do ser humano solidário e compreensivo, que junta conhecimentos técnicos com valores humanos importantíssimos…

Por isso, mereceu sempre respeito e admiração e construiu tantas amizades ao longo da vida.

Esta homenagem, portanto, é mais que merecida.

O Brasil precisa de pessoas assim…

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