Janeiro Verde. O mês foi escolhido para conscientizar a população para o câncer de colo de útero, um dos tipos mais incidentes entre mulheres e que pode ser evitado com um medida simples: a vacinação, que entrou para o calendário oficial da população brasileira há exatos 10 anos. O imunizante protege o corpo do Papilomavírus Humano (HPV), vírus que é o principal causador da doença, correspondendo a quase 99% dos casos. A infecção sexualmente transmissível é a mais comum em todo o mundo, atingindo de forma massiva as mulheres.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2024 cerca de 17.010 mulheres serão diagnosticadas com câncer do colo do útero no Brasil a cada ano, o que representa um risco considerado de 13,25 a cada 100 mil casos. Vale lembrar ainda que a doença é o terceiro tipo de câncer que mais afeta o público feminino, por isso, é muito importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes para o início do tratamento.
Apesar desses números, as taxas de vacinação têm caído no país, o que vem levantando preocupações em todas as esferas da saúde e da sociedade brasileira. De acordo com dados recolhidos pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) no DataSUS, do Ministério da Saúde, houve queda de 72% da aplicação em meninas e 52% em meninos, nos períodos de 2015 a 2021 e 2018 a 2021, respectivamente.
“A tetravalente contra o HPV, atualmente disponível gratuitamente para meninas e meninos de 9-14 anos, e para adultos imunossuprimidos até 45 anos, protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus, os principais causadores da doença. É preocupante para todos ver esse tipo de tumor avançando quando sabemos que ele é altamente prevenível”, comenta Marcela Bonalumi, oncologista da Oncoclínicas.
A taxa de infecção pelo HPV (papiloma vírus humano) atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens. Os resultados são da pesquisa nacional sobre o tema, encomendada pelo Ministério da Saúde e feita por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Apesar disso, em 2022, entre as meninas, a primeira e a segunda dose tiveram, respectivamente, 75,91% e 57,44% de adesão. Entre os garotos, os valores são ainda menores: 52,26% na primeira aplicação e 36,59% na segunda.
Segundo o especialista, há estudos que comprovam que o vírus, além de estar diretamente ligado ao câncer cervical, também atinge cânceres de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.
De acordo com Marise Samama, ginecologista e presidente da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil, “o tratamento do câncer pode afetar temporariamente ou permanentemente a fertilidade da mulher, dependendo do tipo e estágio. Há diferentes tratamentos para lesões pré-cancerosas e para o câncer em estágios iniciais, especialmente para mulheres que desejam manter a fertilidade. Esses tratamentos podem causar problemas como aborto espontâneo ou parto prematuro. Tratamentos mais intensos, como radioterapia e quimioterapia, podem prejudicar o útero e os ovários, levando à infertilidade”.
O HPV também afeta homens, podendo causar cânceres como o de pênis e ânus. Homens inférteis têm mais chances de ter o vírus HPV no sêmen, o que pode afetar a qualidade do esperma e aumentar o risco de aborto espontâneo.
“Felizmente, existe uma boa chance de erradicar o câncer de colo de útero com a vacinação contra os principais tipos de HPV e exames regulares para detectar lesões pré-cancerosas. A Organização Mundial da Saúde propõe que até 2030, 90% das meninas sejam vacinadas contra o HPV até os 15 anos. A vacinação, junto com campanhas de prevenção e uso de preservativos, é a melhor forma de prevenir a infecção pelo HPV e seus efeitos, tanto em homens, quanto em mulheres”, afirma a médica.
De olho na prevenção
Diante dessa realidade, é importante reforçar que a ferramenta essencial na luta contra o câncer do colo do útero é a vacinação contra o HPV. “A imunização pode prevenir também o câncer de vulva, ânus e vagina nas mulheres e de pênis nos homens. Por isso, o ideal é que esse cuidado ocorra antes do início da vida sexual, evitando assim que haja uma exposição ao vírus”, diz a médica.
Além da vacinação, que é considerada uma prevenção primária, é importante realizar os exames de rotina ginecológica, como o Papanicolau (anualmente e depois a cada três anos), dos 25 aos 64 anos de idade. “Ele é muito importante para identificar lesões pré-cancerosas e agir rapidamente contra o câncer do colo do útero”, alerta Marcela. Vale lembrar ainda que os exames devem ser feitos mesmo se a mulher for vacinada contra o HPV, pois o imunizante não protege contra todos os tipos oncogênicos da doença.
Primeiros sinais
O câncer de colo de útero em estágios iniciais é assintomática, em estágios mais avançados sintomas como dor na relação sexual ou sangramento vaginal podem estar presentes. Por isso, o rastreamento com o exame Papanicolau de rotina é importante, pois é possível diagnosticar lesões pré cancerígenas ou iniciais
Outros sintomas que podem estar presentes em estágios mais avançados são fraqueza decorrente da anemia, devido a perda de sangue, inchaço nas pernas e dores nas costas, problemas urinários ou intestinais e perda de peso não justificada. Os sangramentos podem acontecer durante a relação sexual, inclusive em mulheres que já estão na menopausa ou ainda fora do período menstrual. Por isso, é muito importante buscar o aconselhamento de um especialista ao notar sangramento vaginal anormal”, orienta a Marcela.
Ela explica que podem ser realizadas cirurgias, radioterapia e/ou quimioterapia. “Na cirurgia, ocorre a retirada do tumor, ou ainda do útero quando necessário. Quando a doença apresenta estágios mais avançados, são realizadas sessões de radioterapia e quimioterapia”.
Apesar da doença ser bastante silenciosa, quando descoberta precocemente pode haver uma redução de até 80% na mortalidade pelo câncer do colo do útero. “Muitas mulheres não descobrem na fase inicial. Sempre aconselho as pacientes a realizarem periodicamente seus exames de rotina, como o Papanicolau. Além disso, é fundamental que sejam consumidas informações de qualidade, sendo essa uma das principais aliadas ao combate do HPV”, finaliza Marcela Bonalumi.
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Fonte: Mulher