Imaginem a seguinte situação: um diretor de uma empresa importante do setor de bebidas compartilha com o time de recursos humanos, no momento do briefing de uma vaga em aberto, qual é a característica que ele mais valoriza em um talento na hora de contratar. Inúmeras coisas podem ter passado agora pela sua cabeça. Mas, dificilmente você apostaria de primeira nessa aqui: “good vibes”.
Agora, lhe convido a imaginar uma outra cena: uma diretora de social media de uma multinacional do setor de alimentos está buscando uma pessoa redatora para fazer parte do seu time. Ela ficou em dúvida sobre uma profissional em especial. Parecia ser a pessoa tecnicamente mais qualificada, mas ela não ligou a câmera durante a entrevista. A pessoa em questão acabou sendo contratada, mas o fato de não ter aparecido em vídeo provocou essa dúvida na contratante.
Esses dois exemplos nos remetem a um tema que tem ganhado os holofotes no mundo corporativo: a valorização das soft skills, ou habilidades comportamentais. Essa ênfase não é um fenômeno isolado, mas sim um reflexo das mudanças no mundo do trabalho e na forma como as pessoas se relacionam profissionalmente. Estamos diante de uma mudança de paradigma.
Neste cenário, as habilidades comportamentais são consideradas prioritárias. Nove em cada dez profissionais são contratados pelo currículo (hard skills) e demitidos pelos comportamentos (soft skills). O dado está na pesquisa “Aprendizagem Corporativa para Construção de Futuros”, realizada pela ODDDA (O Dia Depois De Amanhã), em parceria com a Fundação Dom Cabral, com profissionais gestores de RH de empresas.
Segundo os resultados apurados nesse levantamento, entre as características mais valorizadas para o profissional do futuro, em ordem de importância, estão:
- capacidade de trabalhar em equipe;
- adaptabilidade;
- orientação para resultados;
- domínio para tecnologias existentes;
- relacionamento pessoal.
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Note que das cinco características apontadas, quatro são comportamentais. A mesma pesquisa apontou, ainda, que 70% da demanda por qualificação se concentra em soft skills.
O mesmo vale para muitos profissionais em momentos de decisão. Se antes o salário era a única coisa importante no momento de escolher entre uma empresa ou outra, agora vemos as pessoas valorizando o propósito; o parceiro ao invés da figura clássica do chefe; a confiança em substituição à vigilância; o desenvolvimento contínuo e conversas periódicas ao invés de feedbacks pontuais.
Desenvolvendo habilidades comportamentais
O historiador e escritor israelense, Yuval Noah Harari, tem uma frase que eu gosto muito. “Para cada euro e cada minuto que gastamos desenvolvendo IA, deveríamos gastar no mínimo um euro e um minuto explorando e desenvolvendo a nossa própria mente”. Embora a IA proporcione benefícios e encurte muitos caminhos, ela ainda está longe de substituir a criatividade, a originalidade e, principalmente, a sensibilidade dos ser humano. Se encararmos essa premissa como um convite e um guia, é importante levar em consideração duas coisas no desenvolvimento das nossas soft skills: é essencial termos clareza sobre quais são as habilidades comportamentais que gostaríamos de desenvolver ou aprimorar e em qual prioridade.
É necessário fazermos uma avaliação interna honesta e priorizar aquelas habilidades que precisamos desenvolver com mais afinco para os nossos objetivos pessoais e profissionais.
Uma forma efetiva de saber o que priorizar é pedindo feedback para os nossos pares, amigos, mentores ou familiares. Afinal, nós nem sempre somos as melhores pessoas para identificar em que precisamos melhorar do ponto de vista comportamental. Mas, um alerta: é preciso estar disposto a ouvir.
Fonte: Mulher