Em outubro de 2022, Samuel, de apenas 2 anos e 11 meses, filho da personal trainer Deliane Silva Reis, de 37 anos, foi diagnosticado com um câncer já em estágio avançado. O menino estava com leucemia linfoide aguda (LLA) do tipo T, o subtipo menos comum da doença.
O menino seguiu todos os protocolos, enfrentando 270 sessões de quimioterapia, além dos muitos medicamentos, e estava resistindo bem ao tratamento, o que dava boas esperanças para a família. No entanto, o câncer sofreu uma mutação, impedindo que um transplante de medula pudesse ser realizado.
A decisão mais humana, entendeu a mãe, era que o filho não sofresse mais co o tratamento severo. “Fizemos tudo o que podia ser feito, mas, infelizmente, nada trouxe a cura. Eu entendi que amar, naquele momento, seria fazer a vontade dele de não sentir mais dor”, contou a Deliane, moradora Taguatinga Norte (DF), em entrevista à revista Crescer.
“Um dia, Samuel acordou durante a madrugada, foi até o meu quarto e disse: ‘Mamãe, você tem que me levar no médico, porque eu vou morar com o Papai do Céu’. Eu não levei a sério e disse para ele voltar a dormir. Pela manhã, encontramos com amigas e ele disse: ‘Titia, eu vou morar com o Papai do Céu’”, continuou a mãe.
Ela conta que o menino estava ficando mais apático e não mostrava mais vontade de brincar. Exames solicitados pelo pediatra não mostravam nada, porém, a mãe não aceitou o resultado e levou Samuel até outros dois pediatras, que também não encontraram nada, todos apontavam para uma virose.
Apesar de os médicos apontarem apenas uma virose, Deliane decidiu fazer um exame de imagem mais detalhado para checar a condição de Samuel, e foi aí que notou o pior.
“Ele reclamava de muitas dores nas pernas — eu fazia massagem, mas não passava. A barriga estava mais dilatada, ele suava bastante, ficava cansado muito rápido, começou a roncar, perdeu o apetite e, um dia, tossiu e sangrou. Além disso, apareceram manchinhas roxas pelo corpo. Decidi, então, fazer um raio-x por conta própria e foi quando vimos que o pulmão dele já estava todo tomado. Samuel tinha uma massa tumoral muito grande.”
“Quando o médico mostrou o exame e disse que era grave, eu pedi licença, entrei no banheiro, me joelhei no chão e falei para Deus que me carregasse no colo dele, que me ajudasse, pois o chão se abriu sob os meus pés. Naquele dia, eu entendi que não tinha chão para pisar, mas descobri que tinha asas para voar e carregar meu Samuel. Do hospital, ele foi levado de UTI móvel para Brasília, pois o quadro era grave”, continuou ela.
A mãe conta que nunca deixou que o menino soubesse detalhes sobre a doença que enfrentava, mas que ele sabia que estava doente e precisava passar pelo tratamento. “E a gente sempre levava tudo na brincadeira — eu falava que as medicações e as transfusões de sangue eram ‘superpoderes de heróis’. Nos divertíamos no hospital, fazendo da desgraça uma grande graça.”
Um ano e oito meses depois, o tratamento respondia bem, contudo, em fevereiro deste ano as coisas mudaram. Samuel acordou durante a madrugada e foi até o quarto da mãe avisar que não estava se sentindo bem e que precisava ir ao hospital. “Fomos imediatamente”, disse a mãe à Crescer.
“Chegando lá, Samuel foi levado com urgência para a UTI, pois já estava em um quadro grave. Com Samuel, era tudo muito rápido, quando ele falava algo, já tinha que correr. Essa foi a primeira vez que ele foi entubado. Quando olhei para ele de novo, já notei que as glândulas estavam inchadas novamente. Ali, soube que se tratava de uma recidiva [quando o câncer retorna], sabia que a doença havia voltado.”
Foi quando os médicos deram a notícia de que a doença havia sofrido uma mutação, se tornando uma leucemia mieloide aguda (LMA), o tipo mais comum e mais agressivo da doença. Com isso, um novo protocolo de tratamento foi iniciado. O novo tratamento, no entanto, não teve os mesmos resultados que o anterior, e o estado de Samuel piorou.
No último dia 15 de maio, Samuel morreu, aos 4 anos de idade. “Antes de partir, o acesso no peito dele vazou e ficou uma mancha de sangue. Fui limpar e, quando vi, estava em formato de coração. Mostrei para ele, e ele disse: ‘É uma gotinha de amor, mamãe’. Tenho e tive outros filhos de coração, crianças que convivemos no hospital. Algumas partiram, mas outras continuam lá. Samuel me fez prometer que eu cuidaria dos amigos dele”, disse a mãe, que está com planos de iniciar o novo projeto para ajudar a encontrar novos doadores de sangue.
“’Uma gotinha de amor’, para incentivar as pessoas a doarem sangue, a doarem medula, pois isso faz muita diferença. Foram tantas a vezes que Samuel precisou de sangue… isso salva vidas! Queremos incentivar as pessoas a dividirem a ‘gotinha do amor’ que elas têm na veia com outras pessoas”, completou.
Fonte: Mulher