Morte de Raisi pode gerar disputa de poder no Irã, diz embaixador

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Presidente do Irã momentos antes de sofrer acidente
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Presidente do Irã momentos antes de sofrer acidente

A inesperada morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi , pode levar o país a uma forte disputa de poder. A afirmação foi feita por Cesário Melantonio , colunista do Portal iG e embaixador do Brasil na Grécia . “Raisi era um dos nomes preferidos do Ali Khamenei [líder supremo do Irã]. Nesse sentido, vamos ter que esperar o desenrolar dos acontecimentos, já que o vice-presidente vai assumir por 50 dias. Neste período, haverá novas eleições”, disse. ” Certamente este acontecimento vai influenciar a sucessão do Khamenei “, acrescentou.

Segundo o embaixador, Ebrahim Raisi, que morreu em um trágico acidente de helicóptero, era o mais conservador entre os últimos presidentes. “Como em todos os países, tem o centro, a direita e a esquerda. Tem os mais progressistas… Eu fui embaixador do Irã por um tempo. O Raisi era o mais conservador dos últimos três presidentes. Ele era o mais extremo no conservadorismo islâmico iraniano. Esse grupo vai tentar procurar um candidato para manter o poder. Ninguém sabe ainda quem será”, continuou.

Para Melantonio, os candidatos à sucessão de Raisi vão debater, principalmente, a questão nuclear. “Tem um grupo que é favorável a uma negociação sobre o tema, já outro não é favorável. O Raisi era contra a negociação, enquanto Mohammad Khatami e Mahmoud Ahmadinejad [ex-presidentes] são favoráveis a conversar com o Ocidente”, declarou.

Interferência externa

A sucessão de Raisi também pode ser influenciada por escolhas de outros países, apontou o embaixador do Brasil na Grécia. A questão energética, segundo Melantonio, é a principal motivação.

“Tudo isso se insere no quadro energético, já que o Irã, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita são grandes players no mundo da energia e membros da Opep. Todos têm interesse na questão do petróleo e do gás. A cooperação energética é importante”, declarou.

O embaixador, ainda, afirma que Rússia e China, outras potências mundiais, também vão tentar interferir. A situação no Oriente Médio pode ficar mais “caótica”, no entendimento de Melantonio. “Rússia e China são grandes apoiadores do Irã. Aliás, o programa nuclear do Irã é apoiado há 20 anos pela Rússia. E, agora, pela China também. Ambos têm interesses comuns com grandes exportadores de energia”, analisou.

“Portanto, é um quadro multifacetado, com EUA tentando influenciar, só que mais difícil. A União Europeia tem as suas relações mais abertas. Vai tentar dar o seu recado também. É algo que vai tumultuar ainda mais a região e que terá impacto para o mundo inteiro”, continuou.

Brasil observa

Para o embaixador, o Brasil não tem poder de influenciar na escolha do novo presidente do Irã. Porém, como é um dos países fundadores do Brics, precisa acompanhar o processo eleitoral do novo integrante do grupo.

“Não acredito que o Brasil participe. O Brasil não tem poder suficiente para influenciar uma sucessão no Irã. Quem tem poder, na minha opinião, são os árabes ricos, como Arábia Saudita, Omã, Bahrein… Todo Golfo Pérsico. Depois, aparecem China e Rússia porque os chineses importam muita energia do Irã. Já a Rússia tem relações estreitas com os iranianos na área de cooperação nuclear”, disse.

“O Brasil não tem excesso de poder para influenciar a sucessão no Irã. O Brasil vai mais observar e acompanhar, já que o Irã é membro dos Brics e temos interesse na cooperação energética internacional. O Brasil não é uma Rússia ou Arábia Saudita, mas está começando a ser importante no mundo da energia, já que tem grandes reservas. Nesse sentido, o Brasil tem grande interesse”, finalizou o colunista do iG.

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Fonte: Internacional

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