Neste domingo (28), é lembrado o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. A morte materna escancara um grave retrocesso na saúde sexual e reprodutiva de mulheres no Brasil, principalmente durante a pandemia de Covid-19, quando seus índices atingiram o patamar de duas décadas atrás, distanciando o país dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).
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A hemorragia pós-parto é uma das principais causas de mortalidade materna no mundo. No Brasil, ela ocupa o segundo lugar, perdendo apenas para a hipertensão. Esse tipo de hemorragia é caracterizado como a perda sanguínea maior que 500 ml no pós-parto vaginal ou maior que 1000 ml na cesariana.
A morte materna é definida como a morte de mulheres durante a gravidez ou até 42 dias após o término da gestação, sendo suas principais causas complicações obstétricas, relacionadas à gestação e ao puerpério ou devido aos tratamentos disponibilizados e omissões. Essas características se encaixam na denominação de morte materna obstétrica direta, que consta no Manual dos Comitês de Mortes Maternas, e no Brasil, é a responsável pela elevação do número de óbitos entre mulheres, os quais poderiam ser evitados com acompanhamento e assistência adequada.
É importante ressaltar que o sangramento pós-parto existe e é conhecido como lóquio, que pode durar algumas semanas e é dado por saídas de sangue como a menstruação, o que é considerado normal. Contudo, quando a quantidade é excessiva pode ser um sinal de hemorragia, portanto, sua causa deve ser identificada, e o tratamento deve ocorrer o mais rápido possível.
“Vários fatores podem contribuir para o aumento da hemorragia pós-parto, como o atraso na identificação e no tratamento de complicações obstétricas, além de condições de saúde preexistentes como anemia, coagulopatias ou hipertensão. Durante a pandemia, vimos aumento dos quadros hipertensivos durante a gestação, muito relacionado ao status pró-inflamatório após a infecção viral, e a falta de acesso a cuidados pré-natais de qualidade”, destaca Eduardo Cordioli, diretor médico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana.
Como estratégia de prevenção, o pré-natal deve ser priorizado e considerado como parte fundamental dos cuidados com a mãe e o bebê. Somente com acompanhamento de qualidade, com equipes capacitadas que promovem e conscientizam sobre a saúde materna, é possível verificar precocemente fatores de risco e prevenir complicações futuras.
“Para enfrentar o aumento da hemorragia pós-parto e seu impacto na mortalidade materna, é necessário adotar estratégias eficazes, como a implementação de protocolos e diretrizes clínicas para sua prevenção e manejo, incluindo a utilização de medicamentos profiláticos, os ditos uterotônicos, e a monitoração de sua eficácia. Além disso, deve-se priorizar a capacitação dos profissionais de saúde e oferecer treinamento contínuo e atualizado para a identificação precoce e o tratamento adequado das complicações obstétricas. Outro ponto importante é garantir que as gestantes tenham acesso a um cuidado pré-natal de qualidade, a fim de identificar e controlar condições de saúde que podem aumentar o risco de hemorragia”, complementa Cordioli.
O obstetra também nos chama atenção sobre outros pontos importantes para reduzir a hemorragia pós-parto: incentivar o parto vaginal quando possível, trazendo à luz os riscos associados às cesáreas repetidas, além de promover a saúde materna e a conscientização sobre a importância de buscar atendimento médico imediato em caso de complicações.
Dados do Ministério da Saúde, mapeados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro, mostram que, em 2021, a razão de mortalidade materna alcançou 107,53 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2019, essa razão era de 55,31 a cada 100 mil. Já em 2020, foi de 71,97 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, o que já representou uma alta de quase 25% em relação ao ano anterior. O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021.
Entre os compromissos firmados pelo Brasil por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável está a meta de redução da mortalidade materna para menos de 70 mortes a cada 100 mil nascidos vivos até 2030.
Fonte: Mulher