A marca Gelado do Campo irá utilizar frutas produzidas de forma orgânica por famílias assentadas de diversas regiões do estado na fabricação dos sorvetes. A marca é uma parceria entre o MST e a Escola Sorvete
Foto: Guilherme Gandolfi
A preocupação em diversificar as formas de geração de renda das famílias assentadas, bem como oferecer à sociedade a possibilidade de consumir alimentos saudáveis oriundos da Reforma Agrária Popular, tem sido uma das centralidades da atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
E isso tem sido alcançado por meio de processos de cooperação e formas de organização coletiva das famílias, impulsionados pelo Setor de Produção de MST. É desde essa perspectiva que o movimento tem avançado no ingresso ao mercado como a produção organizada, levando a produção das famílias para os mercados, quitandas, mercearias, lojas e feiras, por exemplo.
Em São Paulo alguns exemplos de como a cooperação e a organização produtiva tem possibilitado avençar nos debates sobre a emergência da Reforma Agrária Popular e a transformação do latifúndio em terra produtiva de alimentos saudáveis, já estão consolidados e outros em processo de fortalecimento, como é o caso dos produtos derivados do leite da marca Melhor do Campo, organizada pela COAPAR, na região de Andradina. Também tem a produção de grãos orgânicos da cooperativa Da Terra, na região Sudoeste do estado, que tem como um dos principais produtos o feijão Raízes da Terra. Outro é o Café da Cecília, produção de café orgânico na região de Iaras.
Na perspectiva de dar novos passos na diversificação da produção e geração de renda, e no incentivo à cooperação e à alimentação saudável, o MST de São Paulo formou parceria com a Escola Sorvete para criar uma marca de sorvetes preparados com frutas produzidas diretamente dos assentamentos de Reforma Agrária.
A Escola Sorvete é uma organização de trabalha na perspectiva de formar pessoas na produção de sorvetes que prioriza o uso de ingredientes saudáveis, produzidos sem adição de conservantes, corantes, saborizantes e outros produtos químicos, e que busca o fortalecimento da agricultura familiar através do fornecimento de matéria-prima.
Segundo o Chef Francisco Sant’Ana, criador da Escola Sorvete, “nós vimos ao longo dos anos fazendo uma contraposição ao mercado, onde as pessoas vendem gordura vegetal, corante, saborizante, emulsificante. Então a gente vem pregando que o sorvete tem que ser natural, que o leite, o açúcar e as frutas tem que vir de pequenos produtores”.
O Chef afirma que já vinha se aproximando do MST oferecendo bolsas de estudos para militantes, visitando as áreas de Reforma Agrária e adquirindo produtos para a fabricação desses sorvetes. Agora, com a parceria construída, a perspectiva é que as pessoas comecem a gerar mais renda como sua produção.
“Porque não criar uma marca da agricultura familiar, do MST, do povo compesino? Agora eles se sentem representados, pois, para alguns tipos de frutas a gente chega a agregar 15 vezes a mais valor do que se ela fosse vendida in natura, então a gente pensa em melhorar a rentabilidade do produtor, agregar valor e garantir a qualidade do produto”, afirma Francisco.
Lourival Placido, da Direção Estadual do MST em São Paulo pelo Setor de Produção, aponta que, “o movimento se envolveu nesse projeto de construção de uma marca de sorvete que dialogue com o que a gente luta, constrói e sonhe no dia-a-dia para a agricultura familiar, que é ter um sorvete com frutas de verdade e produzidas de forma orgânica, no processo da transição agroecológica. Que substitua os ingredientes químicos, como os correntes e sabores artificiais, pela fruta realmente, porque isso vai favorecer a agricultura familiar, já que vai aumentar a demanda de fornecimento de fruta.
As frutas que são utilizadas na fabricação da Gelado do Campo já estão vindo de regiões do estado de São Paulo. Além desses ingredientes, o leite e seus derivados estão sendo fornecidos pela COAPAR. É, portanto, mais uma possibilidade de geração de renda para as famílias assentadas, na medida em que aumenta a demanda de frutas para abastecer a fábrica.
Por enquanto eles estão sendo produzidos na cidade de São Paulo e sendo distribuídos em algumas lojas da Reforma Agrária no interior, mas a perspectiva é ampliar o projeto para todo o estado. O projeto, prevê a formação na fabricação de sorvetes em todas as regiões de São Paulo, fazendo, assim, com que as famílias assentadas e organizadas nas associações e cooperativas fabriquem e distribuição os sorvetes de forma descentralizadas.
Prevê, ainda, a incidência sobre a legislação para que haja uma regularização da forma de fabricação de sorvetes, de modo que considere a obrigatoriedade do uso de frutas de verdade no processo de fabricação.
Com informações do Coletivo de Comunicação do MST