“The Future Is Female” ou “O futuro é feminino”, em português. Essa frase tão conhecida nos dias de hoje, circulando em camisetas e nas redes sociais, data de 1975. Foi o slogan da primeira livraria fundada por mulheres na cidade de Nova York (EUA), a Labyris Books. O que a contínua difusão dessa ideia nos diz é: ainda é necessária muita luta feminina pela igualdade de gênero. Segundo o Fórum Econômico Mundial, nesse ritmo, o mundo levará 132 anos para alcançar a paridade entre homens e mulheres. No mercado de trabalho, apenas 37% dos cargos de liderança são ocupados por elas atualmente.
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De acordo com o estudo realizado pela Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina (LAVCA) em parceria com a Microsoft e a Bertha Capital, o empreendedorismo feminino no Brasil se destaca quando pensamos no mercado de Venture Capital do país e também da América Latina. A pesquisa “LAVCA VC & Tech Mid-Year Trends” mostrou que os investimentos em startups lideradas por mulheres na América Latina quase dobraram, passando de 16% em 2019, para 31% em 2022. No Brasil, o aumento foi expressivo, saindo de 15% para 30% no mesmo período.
Neste Dia Internacional das Mulheres, reunimos cinco lideranças femininas para falar sobre os desafios e aprendizados de ocupar uma posição de trabalho tão masculinizada desde sempre. Liderando startups, ecossistemas de tecnologia e projeto de arte urbana, seus negócios estão despontando no mercado.
“A participação feminina em startups vem crescendo porque muitas mulheres quebraram barreiras antes de mim, mas o setor ainda é muito desigual. O maior desafio que enfrento é a comparação entre homens e mulheres. À mulher é muito mais exigido não apenas competência intelectual para o cargo, mas também inteligência emocional, somos muito observadas e julgadas quanto a isso. Nossa competência também costuma ser subjugada à aparência física e como nos vestimos – recentemente passei por um episódio desse e isso dói. Acredito que as lideranças femininas precisam ser mais unidas, porque ser uma mulher líder, por si só, já é um caminho solitário. Fazer mentorias, aprender com elas e compartilhar o meu conhecimento é o que tenho feito com frequência para nos fortalecer.” – Jordana Souza, cofundadora e diretora comercial da VOLL .
“O mundo empresarial ainda é majoritariamente masculino. Ser empreendedora mulher nesse meio é um desafio enorme, porque temos que provar nossa competência constantemente. Já ouvi até ‘Não trato de negócios com mulher’ de um investidor que preferiu conversar com um integrante masculino da minha equipe. Para ser ouvida, minha postura e minha fala têm que ser cravadas, porque se eu não me posicionar, ninguém vai fazer isso por mim. Por isso, dar espaço para as mulheres na Fábrica de Graffiti é algo que faço questão. Na equipe fixa e na equipe de artistas de cada projeto, ao menos 50% do time é formado por mulheres com muita diversidade: negras, pardas, brancas, indígenas, LGBTQIA+… todas são muito bem-vindas e valorizadas”. – Paula Mesquita Lage, idealizadora e produtora executiva da Fábrica de Graffiti .
“Quando entrei no mundo das startups, o setor era relativamente novo no mercado, eu era uma das únicas mulheres, afinal, estávamos falando de finanças e tecnologia. Cheguei lá sendo uma mulher jovem e grávida em um ambiente totalmente masculino. Perdi as contas de quantas conversas e negociações aconteceram na minha ausência porque era ‘papo de homem’ e nunca vou me esquecer quando fui chamada de ‘menina’ quando eu era apenas um ano mais nova que meu par profissional – homem. Por muito tempo, tentei masculinizar minha postura para ser respeitada. Mas hoje entendo que o movimento deve ser oposto: precisamos reforçar nossa capacidade enquanto mulheres. Sou conhecida por ser extremamente assertiva, mas usando um bom salto alto.” – Raissa Florence, cofundadora e conselheira da Korú .
“Ser mulher não me impacta na Korú porque aqui temos um ambiente realmente igualitário, mas é difícil ver que essa não é a realidade geral. Esse espaço de liderança não é preenchido por mulheres na maioria das startups. Faço parte de grupos de líderes do setor, participo de encontros, e me pego muitas vezes sendo a única mulher ali. Por isso comecei uma busca de mulheres que sejam pares profissionais para mim, estou me conectando com elas e aprendendo como elas lidam com liderança e empreendedorismo.” – Tainá Rodrigues, sócia e diretora de produto da Korú .
Formada em Direito e Publicidade, Roberta Vasconcellos iniciou a carreira no universo das startups em 2009. Em 2013, fundou a Tysdo. Em 2017, fundou a Woba. Para ela, é importante ter claro aonde se quer chegar. “Os desafios se tornam aprendizados também no caminho. E sabemos que faz parte da jornada, que ela não é linear, vai ser uma montanha russa mesmo. Temos que ter essa resiliência, inteligência emocional para lidar com isso, mas que no final vale muito a pena quando você tem muita paixão e acredita muito naquilo que está integrando”, conta. “O primeiro ponto de ser líder de uma empresa com projeção global é no final do dia estar cercada de pessoas que são melhores que você e ter muito claro a visão do porquê fazemos o que fazemos, o propósito e aonde queremos chegar.” – Roberta Vasconcellos, cofundadora e CEO da Woba .
A jornada de empreendedorismo da Alessandra começou com o social e na Polônia, onde fundou a primeira ONG do país que atuava com o empoderamento de mulheres com menos de 20 anos, logo após trabalhou também em uma organização de apoio às mulheres refugiadas e imigrantes, o que, segundo ela, foi fundamental para aprender a liderar e escalar uma organização do zero. A empreendedora se mudou para o Brasil e trouxe com ela o desejo de transformar a vida das pessoas. Atuando no mercado de RH, Alessandra decidiu empreender e criar a Fertably, uma das primeiras startups da América Latina que oferece para empresas benefícios como fertilidade e planejamento familiar.
“Explorando esse mercado no Brasil, vi que existe a tecnologia e uma demanda muito grande por esses serviços. Foi nesse momento que reuni minha experiência em RH e equidade de gênero em um no novo negócio. Entendo que se a gente tem controle sobre a nossa saúde reprodutiva, temos controle sobre as nossas vidas”, afirma a empreendedora. Hoje, em parceria com sete clínicas, a Fertably tem 6 mil usuários na plataforma, funcionários de empresas de tecnologia (60%) e do mercado financeiro (40%). E pretende chegar a 20 mil usuários até junho deste ano e três milhões nos próximos cinco anos. “As empresas que querem aumentar o número de mulheres nos cargos de liderança têm que pensar em como podem ajudar as mulheres a engravidar quando e se elas quiserem”. – Aleksandra Jarocka, CEO e fundadora da Fertably .
Ajudar as pessoas também foi o que motivou Patricia Carvalho dos Santos, co-fundadora da Lawtech Fórum Hub, a primeira plataforma automatizada de serviços jurídicos b2c do Brasil. Foi em uma viagem frustrada para o México durante a pandemia quando sua mala foi extraviada pela companhia aérea, que Patrícia Carvalho decidiu começar a desenvolver o projeto da Fórum Hub, na ocasião, a executiva viu várias famílias brasileiras passando pelo mesmo impasse que ela e sem nenhum auxílio.
“Eu fiz 35 ligações para as companhias aéreas que ficavam me jogando de call center em call center. Precisei falar em inglês, português e espanhol, e fiquei cinco dias sem minha mala. Vi brasileiros passando pelo mesmo problema, mas sem ter um advogado para ajudar”, relembra. Antes, atuou como diretora de marketing na Bitso e trafegou unicórnios consolidados como CargoX e Twitter e fez parte da equipe de lançamento da Uber no Brasil.
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No âmbito do Direito, Patrícia afirma que o desafio incluiu perfilar um marketplace composto por advogados, que precisavam ser educados para uma jornada on-line e digital de tecnologia automatizada, mantendo o core business da profissão, além dos clientes, que procuram respostas jurídicas e agora passam a contar com uma plataforma central. No modelo da empresa, ao invés de realizar um match por proximidade geográfica, a Fórum Hub escolhe o advogado que melhor se encaixa na queixa do consumidor. Atualmente, 80% do público da empresa são pessoas físicas, e o restante, pessoas jurídicas. Dentre o principal grupo, predominam as classes B, C e D, pessoas com mais de 35 anos, e mulheres, liderando com 55% dos atendimentos. “Um honorário advocatício é 40% de um salário-mínimo, conforme a tabela da OAB. Oferecendo escala, nós conseguimos que os advogados aceitem honorários menores. No fim, a gente também conserva a autonomia financeira dos advogados da plataforma dando volume”. – Patrícia Carvalho, CEO da Fórum Hub .
Aos 27 anos, relações públicas com mestrado em Comunicação Organizacional, Beatriz Ambrósio iniciou sua jornada como empreendedora e fundou a Mention, a primeira startup de Relações Públicas e Comunicação da América Latina. A especialista acredita que é possível transformar a realidade tanto de pessoas, como de empresas, por meio do empreendedorismo e que os desafios, por mais que sejam constantes, colaboram para o desenvolvimento de cada indivíduo e reforçam o papel de cada um para a construção de uma sociedade mais diversa e plural. “Não é fácil empreender, mas, ninguém disse que seria e por isso, é necessário persistir, tentar de novo, começar de novo. Não existe uma fórmula do sucesso, o que existe é o esforço e a vontade de alcançar o que é sucesso para você”, finaliza. Beatriz Ambrósio – CEO da Mention.
Fonte: IG Mulher