A indústria dos games não para de crescer. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Pesquisa Game Brasil 2022, só no ano passado, a indústria global de jogos faturou US$ 196,8 bilhões e a projeção é que o setor alcance um faturamento de US$ 321 bilhões até 2026 em todo o mundo.
No Brasil, o cenário não é diferente. Atualmente, o negócio de games movimenta R$ 12 bilhões ao ano, o que coloca o país como líder em receita do setor na América Latina e o 13º no ranking mundial. E é dentro desse contexto, que a presença feminina no mercado apesar de ainda baixa, vem ganhando força em um nicho que, durante muito tempo, foi dominado por homens.
Elas estão por toda parte, marcando presença como público, como gamers e streamers, como influenciadoras e como líderes no desenvolvimento de jogos, sendo as cabeças por trás da indústria dos games. A PGB 2022 mostrou que as mulheres são maioria dentro do universo dos jogos digitais, representando 51% dos entrevistados.
O crescimento no número de mulheres que se interessam e gostam de jogos também reflete no número de meninas, que nos últimos anos nutrem a vontade de se tornar gamer. Cerca de 45% das mulheres entrevistadas pela PGB 2022 já se consideram gamers e elas começaram neste mundo como consumidoras de conteúdos voltados para esse segmento. O levantamento aponta que 83,5% dos entrevistados assistem a esses conteúdos por meio do YouTube. Aliás, é por esse cana, que grande parte dos gamers começam sua jornada rumo à profissionalização.
Um exemplo é Cherry, influenciadora Gamer com mais de 4 milhões de inscritos no seu canal no Youtube. Ela sempre gostou de jogos, no entanto, não imaginava que trabalharia com games.
“Eu comecei como criadora gamer em 2017, inicialmente gravando vídeos com o Jazzghost e outros amigos, para os canais deles no Youtube. Fui me desenvolvendo e com o apoio do público e de amigos, decidi criar o meu próprio canal. E em menos de um ano conquistei meu primeiro milhão de inscritos”, destaca a influenciadora.
O gosto por jogos acompanhou Duda Beroud desde pequena. Tudo começou quando ganhou um PS2 de seus pais aos cinco anos. A dona do canal Dudaberud, que tem mais de 2 milhões de inscritos, diz que tudo começou com um sonho. “Comecei a cogitar ser uma influenciadora gamer com apenas um PC, que tinha quase a minha idade, 50 reais, que juntei pra comprar um microfone melhor, e um sonho que estava adormecido”.
No caso da Gabriela Zambrozuski, conhecida como Gabzuski, a paixão por jogos também sempre existiu, mas, só em 2015, quando era tatuadora em um Bar Gamer, que ela passou a ficar conhecida e fazer lives jogando League Of Legends.
“Comecei com um computador em casa onde dava para jogar jogos emulados vendidos em CD. Eu comprava aquelas revistinhas que vinham com CD com 1000 joguinhos. Com a internet eu conheci os jogos online e não houve mais limites”, afirma.
As dificuldades das mulheres no mundo dos games
Mesmo sendo movidas pela paixão pelos jogos, as influenciadoras afirmam que o caminho até aqui não foi fácil. Em comum, todas relatam ter enfrentado muitos preconceitos para conseguirem se consolidar no mercado e ganhar o respeito do segmento. Hoje, as três fazem parte do time de influenciadores da Curta, o maior hub de youtubers gamers da América Latina, que conta com mais de 30 dos maiores youtubers do Brasil e hoje responde por mais de 180 milhões de inscritos na plataforma, acumulando mais de 2,5 bilhões de visualizações mensais.
Entre olhares desconfiados e comentários, Cherry diz que as comparações com o gamer homens sempre a incomodaram. “As comparações sempre foram um problema para mim, além de ser diminuída pelos outros. Por exemplo, se eu ganhava de um amigo em algum jogo, sempre tinha os comentários que eu ganhei porque o adversário deixou”, afirma.
Segundo ela, muita coisa mudou desde quando ela começou, mas, ainda tem muito o que ser feito para que outras meninas também possam entrar nesse mercado e colaborar com o desenvolvimento do segmento.
“Quando eu comecei a criar conteúdo de games, o número de mulheres era menor que hoje. Temos conquistado cada vez mais um espaço que também é nosso por direito, afinal, também amamos jogar. Acho super importante que as meninas façam o que gostam sem se preocupar com a opinião dos outros e nossa união é importante para criarmos uma rede de apoio e ajudarmos umas às outras a enfrentar as dificuldades desse meio”, ressalta Cherry.
Gabzusky também destaca que o espaço das mulheres no mercado gamer ainda é pequeno, além disso, a influenciadora pontua alguns dos desafios que enfrentou: o machismo, o julgamento das pessoas e a timidez. “Não é fácil como muitas pessoas pensam, temos uma rotina de gravações puxada, não é só chegar e fazer, tem dias que realmente dá vontade de jogar tudo pro alto”, diz.
A influenciadora diz que existe um sentimento de injustiça, principalmente por enxergar que os homens, na maioria das vezes, chegam mais longe, muitas vezes sem ter a metade do comprometimento delas. “temos que ser mil vezes melhores só por sermos mulher”.
Apesar dos pontos que ainda precisam ser corrigidos no mercado, Duda afirma que é preciso ser perseverante, correr atrás do sonho e não ter medo. “Para ficar e crescer acredito que nossa arma é mostrar que gostamos de jogar! Já vi meninas que tinham muito interesse em conhecer, mas que ficaram paralisadas, com medo do que iriam falar delas… Oi? Estamos em 2023, temos liberdade de fazer o que bem entendermos, sem ter medo de ser quem somos. O único medo que quero sentir é de algum jogo de terror bem sinistro”, ressalta.
“Além de gostar muito do que faço, inspirar outras meninas me motiva. Foi assim comigo, quando eu assistia outras mulheres ganhando destaque na área e sonhava em chegar ali. Isso é uma das coisas que me movem hoje, quando percebo que inspiro muitas meninas e elas olham para mim e dizem: “Eu quero ser igual a você”, finaliza.
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Fonte: Mulher