O Brasil ancorado em suas riquezas naturais poderia liderar esforços globais para enfrentar as consequências das ações humanas no planeta.
Poderíamos analisar a gestação democrática de um novo projeto de país, multicultural e multifacetado, com um modelo de desenvolvimento sustentável progressista baseado em educação e conhecimento, uso adequado do meio ambiente e combate severo as desigualdades sociais e econômicas.
Precisamos identificar a emergência de uma cidadania mundial, mais consciente, e usarmos a capacidade da nossa diplomacia e sociedade civil em uma frente supranacional em defesa da vida no planeta.
A espécie humana, como disse Freud em o mal estar na civilização, depende das próteses que cria para diminuir os riscos de sofrimento em função das fragilidades de seu corpo e para tentar fazer frente a inegável preponderância da natureza sobre nossas vidas e destinos. Nessa jornada protética podemos mudar o mundo e a nós mesmos.
A consciência de que estamos destruindo a capacidade de suporte da vida no planeta tem aumentado bem lentamente.
Só em 1973 criamos, sob pressão internacional, a secretaria especial de meio ambiente com o ecologista e humanista Paulo Nogueira Neto.
O ritmo dos acordos internacionais e lento, cheio de idas e vindas e, na maioria das vezes, tais acordos são referentes à catástrofes já acontecidas ou que se tornaram inevitáveis pela timidez das metas pactuadas.
O Brasil tem uma posição privilegiada no mundo . Para além do peso de nossa economia e das riquezas do país, nossos diplomatas têm capacidade internacionalmente reconhecida para mediar e atuar em negociações de natureza inédita e complexa.
Mesmo quando as instruções vindas dos altos escalões governamentais, como nos últimos anos, são claramente equivocadas, nossos diplomatas são capazes de isolar os absurdos do conjunto de pautas importantes e zelar pelos interesses do Estado brasileiro.
Ademais, conseguem muitas vezes transformar a capacidade técnica do Brasil em propostas inovadoras que se convertem em opções internacionais.
Assim foi na questão do mecanismo de desenvolvimento limpo, incluído no protocolo de Quioto, como mecanismo de flexibilização para ajudar o processo de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Contribuindo para a posição privilegiada do Brasil estão pelo menos três dos principais componentes da questão ambiental mundial, todos com íntima ligação com a mudança climática: a biodiversidade, as próprias florestas e seu papel de estoque de carbono e nos ciclos de nutrientes e água.
Quando os governos brasileiros negligenciam a proteção e o uso sustentável das florestas, colocam o país em situação vulnerável, como vemos no caso do acordo entre o Mercosul e a União Europeia , sem contar com o boicote de consumidores mundo afora, estimulados por campanhas de proteção ambiental ou social.
O desmatamento da Amazônia está ligado ao clima do planeta em mais de um aspecto: liberação de gases de efeito estufa, modificações na circulação de água na atmosfera, desertificação, perda massiva de solo e de biodiversidade e de conhecimentos tradicionais associados aos recursos naturais. E um desastre mundial e não há qualquer justificativa para dar continuidade a essa corrida rumo ao abismo, além do lucro de poucos em prejuízo de todos.
Com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) poderíamos desenvolver projetos comuns, visto que vários membros desse grupo de países têm problemas comuns na área do meio ambiente, biodiversidade, mudanças climáticas e aquecimento global.
As nações de língua portuguesa têm igualmente potencial de simbiose em temas ambientais com vastas áreas de florestas na África a serem preservadas e quando exploradas economicamente apenas com base em projetos de desenvolvimento sustentável.
O Brasil com sua enorme experiência nesse setor poderia ajudar por meio de instituições como Embrapa , Agência Brasileira de Cooperação , Itamaraty , Ministério da Agricultura e outros órgãos de governo, e os nossos parceiros da CPLP .
Fonte: Nacional