Segundo Ministério da saúde 5% e 8% das pessoas no mundo apresentam Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade e, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA, o número de casos de TDAH variam entre 5% e 8% a nível mundial. Estima-se que 70% das crianças com o transtorno apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais comorbidades. Conversamos com o Neuropediatra Rafael Engel especialista em Neurociências Rafael Engel para esclarecer alguns questionamentos sobre o TDAH.
O que é o TDAH?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento no qual vários sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade, presentes antes dos 12 anos de idade e em dois ou mais ambientes, trazem evidentes prejuízos sociais e acadêmicos/profissionais.
Quais são os sintomas do TDAH?
Os sintomas centrais do TDAH são a desatenção e a hiperatividade/impulsividade. A desatenção é vista como divagação frequente, falta de persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização, apesar do indivíduo ter uma boa compreensão do que está sendo solicitado, nem estar sendo desafiado. A hiperatividade refere-se a atividade motora excessiva quando não apropriado (ex., uma criança que corre em qualquer ambiente, ou um adulto extremamente inquieto, que chega a esgotar os outros com sua agitação). A impulsividade refere-se à intromissão social (p. ex., interromper os outros em excesso), ou a ações precipitadas que frequentemente colocam a pessoa em risco ( ex., atravessar uma rua sem olhar), ou a tomada de decisões importantes sem considerações acerca das consequências no longo prazo (p. ex., assumir um emprego sem informações adequadas).
Quais são as causas do TDAH?
As causas e os fatores de risco para o TDAH são desconhecidos, mas vários estudos têm demonstrado a base neurobiológica (ou seja, fatores genéticos e bioquímicos) do transtorno. Acredita-se que a intensidade das manifestações seja uma combinação principalmente da genética com alguns fatores ambientais, como exposição a toxinas durante a gestação (sobretudo tabaco), prematuridade e baixo peso ao nascer (que, na verdade, são fatores de risco para qualquer transtorno do neurodesenvolvimento).
Como o TDAH é diagnosticado?
O diagnóstico do TDAH é clínico, ou seja, não depende de qualquer exame, e é realizado apenas por médicos especializados (neuropediatras e psiquiatras). No Brasil, costumamos utilizar os critérios descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), organizado pela Academia Americana de Psiquiatria, para uma padronização do diagnóstico.
Existe cura para o TDAH?
Como em todo transtorno, o TDAH não é uma doença, então, não se trata de uma cura. Não se cura do transtorno. O tratamento visa ajudar o paciente a desenvolver ferramentas e estratégias para lidar com suas características de modo a não mais ser prejudicado por elas e, com isso, melhorar sua qualidade de vida.
Quais são as opções de tratamento para o TDAH?
O tratamento a longo prazo é baseado, primordialmente, em intervenções terapêuticas e educacionais (p.ex., com Psicologia, Pedagogia, entre outras), direcionadas ao próprio indivíduo e aos seus familiares. Também é baseado em mudanças e adaptações sociais que atendem à legislação de inclusão vigente. A curto prazo, existem alguns medicamentos disponíveis que ajudam a amenizar os sintomas, mas que precisam ser avaliados e indicados caso a caso. Alguns estudos estão avaliando o benefício de outras intervenções, como práticas manipulativas de energia, mas ainda sem indicação científica precisa.
Quais são os efeitos do TDAH na vida acadêmica?
Os critérios para que se pense no diagnóstico de TDAH envolvem um prejuízo acadêmico, que não se dá por um problema de inteligência, mas porque os sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade dificultam a concentração nas aulas, o planejamento, a organização e a execução das tarefas e o cumprimento de prazos escolares (que é o que chamamos de função executiva). Em crianças escolares, adolescentes, e mesmo em adultos jovens, o prejuízo acadêmico pode estar encoberto por um esforço excessivo do ambiente (ou seja, dos cuidadores, dos professores, etc.) em controlar os sintomas e não deixar que os trabalhos e prazos sejam perdidos.
O TDAH afeta apenas crianças ou também adultos?
O TDAH inicia na infância, mas os prejuízos podem ser notados ainda na vida adulta. Suspeita-se do diagnóstico, por exemplo, em indivíduos que trocam frequentemente de emprego, não conseguem permanecer em relacionamentos ou cometem pequenas infrações no trânsito por descuido ou desatenção.
Quais são as possíveis complicações associadas ao TDAH?
Além dos prejuízos evidentes nas relações sociais e no desempenho acadêmico/profissional, notam-se complicações principalmente associadas à falta de diagnóstico e tratamento adequados. Além dos riscos de acidente e do abandono escolar, há uma maior propensão ao desenvolvimento de outros transtornos (como ansiedade, depressão e abuso de drogas e álcool) e um maior risco de suicídio. Por isso é tão importante o conhecimento sobre o transtorno e o encaminhamento, ainda na infância, para avaliação, mas também que os adultos procurem, ou sejam encaminhados por seus familiares, ajuda adequada.
Fonte: Mulher