Pindamonhangaba: cidade inteligente na palma da mão

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Município tem rede de fibra óptica interligando 187 edifícios públicos e foi a segunda cidade inteligente certificada pela ISO no Brasil

 Foto: Divulgação/PMP

A cidade de Pindamonhangaba, no interior paulista, recebeu uma certificação ISO por atender às determinações estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) no que diz respeito ao conceito de cidade inteligente, resiliente e sustentável. Com isso, tornou-se o segundo município do país com o status de smart city, dentro destas regras. 

Dentre as inovações, a integração de dados se destaca. “Podemos ter acesso a todas as demandas urbanas na palma da mão”, disse Danilo Velloso, Secretário de Tecnologia, Inovação e Projeto de Pindamonhangaba. Segundo ele, isso permite desde melhorias no trânsito e na segurança até mais assertividade nos serviços de saúde e de educação. 

Vindo do mercado corporativo, Velloso trouxe um pensamento diferente para o município, buscando sempre deixar os serviços mais eficientes. “Na ocasião, a falta de estruturação existente era um limão, e fizemos uma limonada”, disse ele, em entrevista exclusiva ao Próximo Nível.

Para Velloso, o papel de uma cidade inteligente e conectada é promover a transformação da sociedade. “Para além de conectar as pessoas, queremos melhorar a vida de cada uma delas”, frisou. Confira os detalhes da entrevista a seguir.

Como Pindamonhangaba alcançou o status de cidade inteligente? Poderia contextualizar o projeto?

Comecei na prefeitura da cidade, como secretário adjunto de administração, em 2019. O departamento de tecnologia, naquele momento, era uma área da administração. Havia na época uma demanda pela automação na área da saúde. A visão da prefeitura era de que a máquina pública deveria funcionar de forma similar a uma empresa, e para essa demanda, o prefeito buscou executivos do mercado. E foi assim que ingressei na gestão municipal.

Começamos, então, a fazer um trabalho de estruturação e identificamos oportunidades de melhorias no ambiente. Por exemplo, na ouvidoria da cidade, a principal reclamação dos munícipes era buracos nas ruas. 

Colocamos uma ferramenta, por meio da qual os próprios cidadãos podiam fazer a reclamação, em um aplicativo. Para nossa surpresa, descobrimos que o problema maior não eram os buracos, mas sim a iluminação pública. Daí, comecei a ver a oportunidade de implantar a geração de dados, ou seja, que passássemos a usar a ciência de dados para estruturar as ações. 

Assim fomos expandindo, reestruturando os sistemas para que tivessem integração, para a tomada de decisão. Criar um banco de dados é simples, mas é preciso saber a pergunta correta e correlaciona-los para a resposta. 

Então, foi a partir dessa primeira iniciativa que a cidade passou a perceber a importância da integração de dados?

Sim, e não foi somente isso. Por exemplo, uma das primeiras ações foi a troca de impressoras, o que resultou em uma economia de R$ 3,5 milhões. A prefeitura tinha uma despesa de R$ 4 milhões com toner; optamos pelo aluguel dos equipamentos, custando R$ 500 mil/ano, e obtivemos esse benefício para o município. 

Com a economia, fomos buscar uma ferramenta de mercado para minimizar a lentidão dos processos administrativos e a resposta para os cidadãos. Então, criamos uma ferramenta de BPM (Business Process Management), para que fosse possível automatizar os processos da prefeitura. 

Isso foi uma verdadeira transformação. Um processo que demorava 60 dias, passou a ser resolvido em 15 minutos. Um alvará, que demorava seis meses, hoje é feito em 24 horas. A economia com este processo chegou a R$ 37 milhões. Isso tudo aconteceu entre 2019 e 2020. Depois, passamos a reestruturar os serviços de telecomunicações.

Com isso, também promovemos uma economia para a cidade. Até então, a cidade tinha somente 16 câmeras, com custo por volta de R$ 3 mil mensais. Com as mudanças, esse valor caiu para R$ 299 por mês. Com isso, ganhamos escala e, das 16 câmeras iniciais, passamos a ter 1,4 mil. 

Aos poucos, melhoramos a telefonia, a velocidade dos links e construímos uma operação muito mais robusta. 

E como isso se refletiu na melhoria dos serviços urbanos e trouxe o status de cidade inteligente para Pindamonhangaba?

A partir destes resultados, começamos a observar o modelo de cidade inteligente. Naquele momento, Pindamonhangaba já estava preparada para uma certificação, de acordo com a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Embora São José dos Campos tenha sido a primeira, Pindamonhangaba estava preparada para atender às normas há muito tempo. Se o município fosse maior, teríamos sido a primeira cidade brasileira. 

Para esclarecer, no Brasil, algumas entidades criaram modelos para os critérios de uma smart city, mas a grande diferença é que somos certificados pela ISO, que tem reconhecimento internacional. Seguimos todos os indicadores previstos para o reconhecimento da cidade em âmbito internacional. Podemos ser comparados a Abu Dhabi, por exemplo. Seguimos a mesma métrica para aferir os indicadores. 

Quais os resultados práticos das iniciativas adotadas?

Centro de Segurança Integrada (Foto:  Divulgação/PMP)

Tivemos uma grande melhoria na questão da segurança, com redução expressiva dos índices de criminalidade, em decorrência da melhoria no monitoramento. Também observamos melhoria no trânsito, com menores índices de acidentes, e temos um dos melhores Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Brasil. Já praticamos a educação 4.0, ou seja, todas as escolas têm Internet das Coisas (IoT), com lousas digitais e plataformas educacionais. Alunos e professores têm Chromebooks. Isso tudo já existia antes da pandemia e, durante esse período, o sistema se aperfeiçoou. 

Na saúde, adotamos a telemedicina durante a pandemia, mas observamos que as pessoas preferem o contato presencial com os médicos. Mas o grande avanço nesta área são as plataformas de dados, que integram todos os diagnósticos e prescrições para cada paciente. Os médicos sabem em qual posto o cidadão pode retirar o medicamento, acessar o seu histórico de atendimento, o que ajuda muito no controle de custos da saúde. 

Também conseguimos identificar melhores locais de atendimento, fazemos agendamento de consultas por aplicativo, entre outros. Tudo isso considerando a privacidade, segundo as diretrizes da LGPD.

Voltando ao caso específico da segurança, temos uma parceria com a iniciativa privada, que possibilita que alguns empreendimentos, como postos de combustíveis ou supermercados, que normalmente têm câmeras de monitoramento, conectem seu serviço à administração e segurança pública, o que inibe ações criminosas. 

Também temos o programa chamado “empreendimento inteligente”, para preparar os futuros bairros para esta inteligência. Isso já faz parte do planejamento. 

Que outras iniciativas inteligentes fazem parte da gestão de Pindamonhangaba?

Uma delas é o serviço de coleta seletiva de resíduos. Temos um sistema que estimula o cidadão a fazer a separação e entregar os itens recicláveis em locais específicos e estamos em vias de criar uma moeda virtual, para remunerar essa iniciativa. A ideia é de que a pessoa possa utilizar essa moeda no pagamento de impostos, mas já existem estabelecimentos onde é possível trocar esse ‘valor’ decorrente da entrega adequada do resíduo por alimentos. 

No turismo, temos um aplicativo com realidade aumentada, em totens espalhados pela cidade, que permite que os usuários tenham a experiência de interação com personagens históricos que contam a história local. Isso faz parte de nosso conceito de turismo 4.0, que propõe atividades imersivas às pessoas, permitindo que conheçam os pontos de interesse na região. 

Totem de realidade virtual do aplicativo de realidade aumentada (Foto: Reprodução/ Bruna Silva – Jornal Atos)

Todos os órgãos públicos da cidade estão integrados ao projeto?

Sim, são 187 prédios públicos com fibra óptica e dados interligados. Estamos desenvolvendo o conceito de identidade única do munícipe. Isso permite agregar dados de saúde, educação, comportamento, entre outros. Todos os dados são anonimizados, mas o Poder Público pode utilizá-los.

Assim, conseguimos identificar diversos problemas e demandas públicas, necessidades de cidadãos em localidades específicas, acidentes de trânsito, postos de saúde com maior ou menor demanda por determinados medicamentos ou especialidade médica, tudo em tempo real. Isso permite analisar dados de investimento e também estabelecer políticas públicas de acordo com as prioridades de cada região. 

Também é possível ajudar a economia da cidade com essas informações?

No caso da iniciativa privada, os dados anonimizados podem ajudar a definir quais as regiões mais interessantes para o investimento. Por exemplo, a empresa planeja um determinado serviço e, por meio do cruzamento das informações, é possível determinar em que localidade haverá maior interesse. 

Isso vale para os mais diversos serviços, como a construção de creches, a seleção de bairros segundo o perfil de consumo dos moradores, a carência de serviços no mesmo segmento, entre outros. A cidade pode ter a gestão na palma da mão do usuário. 

Mas, não é qualquer pessoa que pode acessar o registro de dados, o acesso precisa ser solicitado. Isso, geralmente, vem por um pedido de empresas, que querem ter um business case mais assertivo. Para a prefeitura, por sua vez, isso representa uma oportunidade de desenvolver a cidade nos lugares certos. A economia é a maior beneficiada. 

E qual o papel da conectividade neste avanço e melhoria dos serviços?

A principal dificuldade, em 2019, foram os bairros desprovidos de acesso. Mas, implementamos um projeto com benefícios sociais. Escolhemos um modelo de projeto em que a iniciativa privada pudesse compartilhar os custos, pois todos seriam beneficiados. Assim, distribuímos pontos de acesso pela cidade, de forma a ganhar capilaridade. Com o crescimento da rede, toda a população foi beneficiada.

Estamos planejando uma nova licitação para um projeto maior, com o intuito de beneficiar ainda mais a população. Temos o projeto de conectar, via 5G, vários prédios públicos em uma das avenidas centrais da cidade, criando uma região com um espaço de inovação, aberto à presença de startups. A avenida começa em uma região industrial e termina no ambiente de inovação. Uma das ideias é trazer, para cá, indústrias de semicondutores. 

Atualmente, o 5G não é premissa para tornar uma cidade inteligente, mas, sem dúvida, ele facilita a introdução de novas tecnologias, como inteligência artificial, ou uso de dados de maneira muito mais rápida. 

Fonte: Embratel

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