Você conhece o impacto que causa a chegada de uma mulher branca e uma mulher negra, vestidas exatamente da mesma maneira, para uma entrevista de emprego? Os olhares são diferentes; o tratamento pode ter peculiaridades e até mesmo a identificação imediata pode ser influenciada pelo padrão “enlatado” vendido pelo mundo e projetado por mentes enviesadas que excluem negros de espaços de desenvolvimento e, principalmente, limitam as oportunidades profissionais para eles.
Não é difícil observar quem julga quando uma líder poderosa, com saltos altos, cabelos únicos, vestuário que impressiona e perfume de sucesso, é preta. Mas, quais são os motivos que fazem os aplausos surgirem quando esse perfil de mulher tem a cor da pele clara e não passa por tais julgamentos?
A fundadora da Trilhas de Impacto e especialista em Diversidade e ESG, Juliana Kaiser, destaca em suas palestras e discussões o tema que “O Fenótipo da Mulher Negra Chega Antes do Currículo”, trazendo constantemente um alerta para quem busca oportunidades sobre as múltiplas desigualdades enfrentadas por mulheres negras no mercado de trabalho.
“É inegável que para mulheres negras, que lutam tanto para conquistar seus espaços de fala, ter sucesso na vida e na carreira, se desdobrar entre a jornada exaustiva e a falta de lugares onde possam se desenvolver, tudo fica mais difícil. E isso começa antes mesmo de sair de casa, ir até o local da seleção de trabalho, conseguir receber uma ligação para fazer uma entrevista ou qualquer fase de um processo seletivo. Elas são julgadas com base em sua aparência antes mesmo de serem avaliadas por suas habilidades e qualificações profissionais”, afirma Juliana.
Um estudo conduzido pela plataforma de empregos InfoJobs revelou que, de 301 mulheres que se autodeclararam negras e pardas, 49,5% já enfrentaram racismo em processos seletivos. Outros 58,8% vivenciaram situações preconceituosas no mercado de trabalho em outros momentos. Os números revelam que tais comportamentos constituem parte dos ambientes corporativos e impactam diretamente no desenvolvimento de vagas dedicadas a mulheres negras, além de afetar a oportunização em processos seletivos onde a cor da pele é o que menos importa.
Com passos curtos e um longo caminho pela frente, a pauta tem ganhado espaço, valorizando essa luta, propondo soluções e destacando a relevância de tais iniciativas. Um levantamento do site de empregos Vagas.com, publicado pela Revista Exame, mostrou que em 2022, as chances específicas para mulheres, negros, PCDs e LGBTQIAPN+ registraram um salto de 33,2%, passando de 19.825 posições em 2021 para 26.409 em 2022.
“Não é apenas um discurso batido que vivemos reforçando ao destacar a importância de desenvolver e implementar iniciativas em prol da diversidade nas empresas. A inclusão de mulheres negras em todos os níveis organizacionais é uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente de negócios. Empresas que adotam políticas de diversidade e inclusão não apenas demonstram um compromisso com a equidade, mas também colhem os frutos de uma força de trabalho mais inovadora, produtiva e resiliente. É fundamental reconhecer que a diversidade não é apenas uma questão moral, mas uma vantagem competitiva no mercado global”, pontua a especialista, que atua hoje grandes empresas com treinamentos e mentorias diversas que contribuem, na prática, para a transformação desse cenário.
Juliana conta que, ao conversar com a presidente de uma Organização num evento para o qual foi convidada para fazer a abertura, teve de se desentender com as recepcionais para ocupar o assento na primeira fila. Ao se apresentar como a convidada de honra, foi interrogada por três recepcionistas diferentes, que estavam esperando “a presidente padrão” e não uma mulher negra.
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Fonte: Mulher