A psicóloga comportamental e sexóloga Priscilla Souza nasceu com amiotrofia neuromuscular, que causa diminuição de força física. Sobre os devotees, conta sua percepção: “Quando descobri esse termo, eu me assustei. Confesso que fiquei um pouco apavorada.”
A especialista se questionou sobre o motivo por ter sentido esse receio com o fato de haver pessoas que se sintam atraídas por PCDs. Assim, percebeu que mesmo dentro do grupo de pessoas com deficiência existe um preconceito. “Por que me senti tão mal e invadida por ser desejada por alguém?”.
Muitos PCDs possuem problemas de autoestima. Sendo assim, ressaltar a singularidade de cada corpo é de extrema importância, uma vez que, sobretudo pessoas com deficiência física passam por um complexo processo de aceitação. Isso também é ligado com o autoconhecimento, que também é outro ponto importante em qualquer relação.
No Brasil, existe um aplicativo de relacionamento chamado Devotee, que tem o intuito de encontrar pessoas que não tem resistência com relacionamentos afetivos com pessoas com deficiência. Entretanto, muitos que estão nessa plataforma não se definem devotees, e outros nem ao menos se identificam ou colocam fotos. Em uma experiência pessoal, a psicóloga afirma que muitos PCDs sentem receio de iniciar uma conversa e discorrer com a pessoa sobre sua deficiência.
Os devotees podem ser representados como uma ameaça, entre outras questões, pelo fato de um PCD ser visto como frágil, ou uma pessoa mais fácil de ser atingida. Para casos em que a pessoa dentro do aplicativo é mal intencionada, existe uma lei que inclui a perseguição em redes sociais como uma modalidade de crime. Essa legislação prevê punição de até dois anos de prisão para quem ferir a integridade física, psicológica ou perturbar a liberdade e a privacidade de pessoas pela internet. A pena pode chegar a 3 anos com agravantes, como crimes contra mulheres
Além disso, é necessário levar em conta as limitações de mobilidade que PCDs em cadeira de rodas, principalmente, possuem. Por isso, planejar um caminho e lugar acessível, pensar na disponibilidade de transporte na volta tornam-se fundamentais. Estar atento às barreiras arquitetônicas quando for escolher uma casa, restaurante, teatro, entre outros locais deve ser levado em conta.
Para uma pessoa que está sentada, é incômodo ficar olhando para cima durante muito tempo. Atentar-se a isso é de extrema importância, portanto, se possível, a preferência é que o parceiro (a) ao sair com a pessoa com deficiência física sente-se olhando-a no mesmo nível. A psicóloga também ressalta algumas questões: “Marque em um local público, e avise alguém que você está saindo com aquela pessoa. Então é bom deixar uma amiga, irmã, primo ou prima avisada do que você está fazendo”.
Além disso, a especialista afirma que coisas simples trazem segurança a um PCD, que seja um local que, caso chova, tenha uma parte coberta e que não seja um ambiente ostensivo. Um bom exemplo de local seria um restaurante dentro de um shopping, pois tem estacionamento e acesso fácil, o que facilita muito o encontro.
“Acho que são os cuidados básicos que a gente tem que ter para marcar um encontro. Normalmente a pessoa que não é PCD fica muito preocupada, mas é só ter a sensibilidade de perguntar como que pode ajudar, o que fazer. Não há porquê ter medo de perguntar, se colocar à disposição é o ponto chave” – completa a psicóloga.
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