“Já tive muita vergonha”. É assim que Luciana*, assistente administrativa da cidade de Bauru (SP), enxergava sua própria aparência. Aos 28 anos, a profissional notou que seu rosto começou a se encher de espinhas, problema que nunca sofreu na adolescência. Insegura com a repentina mudança, ela correu para um dermatologista. O diagnóstico? Acne adulta.
“Eu jurava que estava com um grande problema hormonal, que iria ter que fazer tratamento, estava bem assustada, já que nunca tive espinhas nem nada disso. Quando o doutor me explicou que eu era uma dessas pessoas, juro que me surpreendi, porque não sabia que pessoas da minha idade poderiam ter acne dessa forma”, conta a jovem.
O problema de Luciana* não é incomum: um estudo publicado pelo Jornal da Academia Americana de Dermatologia revelou que aproximadamente metade das mulheres entre 20 e 29 anos apresentam acne adulta. Esse valor cai para 35% na faixa etária de 30 a 39 anos, 26% entre 40 a 49 anos e 15% acima dos 50 anos.
O que é a acne adulta?
Vermelhidão, cravos, inflamação e cicatrizes: a acne é uma doença que causa lesões cutâneas na pele, causadas pela inflamação das glândulas sebáceas.
“A acne, em sua fisiopatologia, é o aumento da produção de sebo pelo estímulo hormonal o que leva a um aumento do número de bactérias localmente levando a inflamação e também à obstrução da glândula sebácea”, explica a médica dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologista, Viviane Scarpa.
Existem três sintomas mais comuns desse problema: as glândulas obstruídas, que são os cravos brancos; as glândulas obstruídas abertas, que são cravos pretos, e as famosas espinhas, glândulas sebáceas inflamadas e infectadas.
Embora a adolescência seja a faixa etária mais comum para esse problema, a acne pode afetar qualquer faixa etária. Depois da adolescência, a doença é categorizada como ‘adulta’, principalmente após os 25 anos, e por atingir mais mulheres do que homens, a comunidade científica categoriza a Acne da Mulher Adulta (AMA) como uma condição própria.
Entre as principais causas para essa condição na fase adulta, estão as alterações hormonais e o estresse. A médica dermatologista Fabiana Seidi cita alguns fatores que podem explicar a piora, como excesso de hormônios andrógenos, tabagismo, uso de determinadas medicações e alimentação principalmente rica em alimentos com alto índice glicêmico e excesso de laticínios.
Para as mulheres, o médico André Moreira cita que existem razões mais específicas: o desequilíbrio hormonal, causado geralmente pelo ciclo menstrual, e a predisposição natural à formação de acne. “As pessoas mais propensas a acne do adulto são as mulheres pretas, segundo estudos, pois elas têm as glândulas mais ativas. E aqui temos um outro problema: a formação de manchas após a acne, situação conhecida como hipercromia pós inflamatória, comum nas peles mais escuras”, explica o médico.
Viviane também ressalta que o estresse das mulheres têm aumentado ao longo dos anos pela dupla jornada de trabalho, o que também leva a uma maior produção dos hormônios, levando a uma maior incidência da acne para o gênero.
O público feminino também é o principal consumidor de cosméticos, como maquiagens e cremes para o rosto – a má remoção desses produtos pode piorar a condição da acne.
O tratamento
Se a acne adulta é diferente da acne na adolescência, o tratamento é diferente? Segundo os profissionais entrevistados pelo portal, a solução é quase sempre a mesma.
“Entender que essa produção sebácea tem diversas influências é o primeiro passo para saber onde intervir”, aconselha Felipe Chediek, dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Em muitos casos, mudanças no estilo de vida podem, de fato, melhorar a acne. Uma dieta rica em frutas, verduras e fibras, por exemplo, pode ser benéfica. A prática de exercícios físicos regulares também é aliada nesse processo, já que ela ajuda a reduzir o estresse e melhorar a circulação sanguínea.
O tratamento da acne adulta requer uma abordagem individualizada preparada por um dermatologista. Quando se trata de reduzir a inflamação e as manchas, os medicamentos são a melhor opção. “Os melhores tratamentos disponíveis para acne adulta são os medicamentos de uso tópico. Cremes à base de ácidos vão controlar essa oleosidade, também o uso dos anti androgênios como a espironolactona, que tem uma ação sobre a glândula sebácea e sobre o hormônio que aumenta a glândula sebácea.”
O famoso ‘skincare’ também deve ser parte do dia a dia de todos os adultos: manter uma rotina de cuidados com a pele pode ajudar a previnir o aparecimento de acne – e não são necessários tantos cuidados: limpeza, hidratação e proteção solar são o trio básico para o rosto.
Fonte: Mulher