‘Todo mundo nasce feminista’, diz roteirista de Minha Irmã e Eu

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‘Teoricamente, todo mundo nasce feminista’, diz Veronica Debom, atriz e roteirista de Minha Irmã e Eu
Brunno Rangel

‘Teoricamente, todo mundo nasce feminista’, diz Veronica Debom, atriz e roteirista de Minha Irmã e Eu

Um fato praticamente óbvio sobre Veronica Debom é que ela é muito engraçada. Não à toa, a atriz fez parte do elenco de “Zorra” e “Tá no Ar” (TV Globo) e é uma das roteiristas do filme “Minha Irmã e Eu”, estrelado por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck. “Do nada, eu recebo uma mensagem de Ingrid Guimarães: ‘Oi, queria que você escrevesse meu filme'”, contou ela, aos risos, sobre o convite para participar do roteiro.

O contato com Ingrid se deu através de Patricia Pedrosa, diretora de “Todas as Mulheres do Mundo”, seriado no qual Veronica também atuou. “Teve a Patrícia Pedrosa, a Ingrid Guimarães, duas mulheres talentosíssimas, poderosíssimas… Se fossem dois caras, eu nunca iria fazer esse roteiro. Eu acho fundamental a sororidade nesse sentido profissional também: de uma mulher contratar a outra, apoiar a outra”, disse Debom, enquanto conversávamos sobre feminismo.

Questionada se se considera feminista, ela respondeu: “Tem uma frase que eu gosto muito, que é: ninguém nasce acreditando que uma pessoa tem que ter mais direito que as outras. Então, teoricamente, todo mundo nasce feminista. Você pode no caminho desistir, mas o natural é [ser feminista]”.

“Hackear o sistema”

Atrás das câmeras, a participação feminina ainda é tímida. No ano passado, por exemplo, apesar do sucesso do filme da Barbie, dirigido por Greta Gerwig, as mulheres representaram apenas 16% dos diretores nos 250 filmes de maior bilheteria, segundo dados do Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia.

“Para as mulheres e para as minorias no geral, não é só difícil chegar nesses espaços, mas também é difícil se manter neles, porque você vai lidar com todo tipo de violência, de exclusão, de bullying. Vão fazer de tudo para você sair dali, para mostrar para você que aquele não é o seu lugar”, comentou Veronica.

É por isso que ela vê a arte como um agente de mudanças. “Eu acho o exemplo do Paulo Gustavo fabuloso. Ele faz uma coisa que chamam de ‘hackear o sistema’: colocar ideias embebidas de humor, de amor, de empatia, e quando você vê, as pessoas mais ‘duras’ já estão derretidas, já estão sorrindo”.

Ainda na entrevista, ao falar sobre arte, ela também defendeu a lei que exige uma cota mínima para exibição de produções nacionais no cinema e na TV paga. O texto que prorroga a medida até 2033, para o cinema, e 2038, para os canais pagos, foi sancionado em janeiro pelo presidente Lula. “É uma máscara de oxigênio para o trabalhador da cultura e para a cultura do país”, afirmou Debom.

“Eu acho que a arte é o que faz o ser humano se conectar com outros seres humanos, consigo mesmo. Os americanos sempre vão conseguir fazer um produto que vai ser mais fácil de digerir, porque eles não estão necessariamente preocupados em fazer algo para cada povo, para cada cultura diferente. Então, eu acho que é fundamental esse tipo de medida protecionista, porque senão a gente sucumbe à lei do mercado”, acrescentou a artista.

“Online, a misoginia é uma coisa muito lucrativa”

Veronica Debom é uma das mulheres que acusam Marcius Melhem, ex-diretor do núcleo de humor da Globo, de assédio moral e sexual. Em fevereiro deste ano, o Ministério Público de São Paulo apresentou uma ação contra o humorista – e o jornalista Ricardo Feltrin – pelo crime de perseguição e violência psicológica contra as denunciantes. Melhem já era réu por assédio contra três mulheres na Justiça do Rio de Janeiro desde agosto do ano passado.

Segundo o colunista do site Metrópoles Guilherme Amado, a denúncia do MP diz que, ao tentar se defender publicamente, através de suas redes sociais, Marcius Melhem teria agido de “forma abusiva contra as vítimas”. Além disso, Melhem e Feltrin “ultrapassaram os limites da razoabilidade em suas publicações digitais, ao expor fatos íntimos das vidas das ofendidas, atingindo assim sua integridade psíquica de forma deliberada e consciente”.

“Todos os assediadores, os misóginos, eles sempre agem da mesma maneira. Só uma sociedade muito machista que não percebe que tem um padrão. A estratégia não é nova: é querer tirar a credibilidade da vítima, querer fazer a vítima parecer a agressora e o homem, a verdadeira vítima”, comentou Veronica, que não quis prolongar muito o assunto.

“Eu assino o roteiro do ‘Falas Femininas’, da Globo. Ali é um lugar que eu falo muito o que eu gostaria de falar via arte. Para mim, esse caso está no passado, graças a Deus a Justiça está fazendo seu trabalho. O que eu tenho para dizer é isso, eu estou vivendo a minha vida”, encerrou ela.

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Fonte: Mulher

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