Um dos maiores tabus da sociedade, a traição é para muitos o marco de um fim de relacionamento, que tende a terminar em brigas e traumas. No entanto, o status de tabu faz com que o tema seja pouco discutido, o que resulta em uma forma de naturalização do adultério, que é visto como errado, embora seja pouco comentado e muito praticado.
No Brasil, alguns argumentam que trair é algo quase que cultural e diversas vezes aceito na sociedade. Para se ter uma ideia, uma pesquisa, realizada pelo Gleeden, aplicativo de encontros discretos pensado por e para mulheres, mostrou que 62% dos brasileiros consideram a infidelidade algo natural até certo ponto. O estudo também descobriu que 8 em cada 10 brasileiros foram infiéis e sete em cada 10 brasileiros consideram que é possível amar e ser infiel.
Parte da origem disso é a natureza carnal e sexual dos casos fora do relacionamento, como explica Mayra Cardozo, advogada com perspectiva de gênero e especialista em Direitos Humanos e Penal. “Só mostra o quanto os relacionamentos sexuais dos brasileiros partem do visceral, do carnal. Isso me traz o quanto nós, aqui no Brasil, perpetuamos a lógica da objetificação dos corpos, em especial os corpos femininos. O visceral sempre prevalece em detrimento daquilo que é acordado. É importante também pontuar que os homens costumam ser mais infiéis, até pela lógica patriarcal que, de certa forma, valida a traição masculina”, argumenta.
A traição de um ponto de vista analítico
Segundo a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, os sentimentos sobre traição, no entanto, variam de acordo com a pessoa e o caso, uma vez que é algo muito complexo e variável. “A traição é uma experiência subjetiva. Significa dizer que o motivador para a infidelidade varia de acordo com a percepção de cada pessoa e com a forma como essa pessoa encara a traição. Essas mesmas pessoas podem sentir culpa quando se importam mais com a pessoa que estão traindo em determinado momento. Outras não. O remorso geralmente aparece quando a infidelidade é descoberta pelo dano emocional que causou no cônjuge”, explica.
A atual conjuntura da maneira como vimos a traição também pode ser explicada pelos dogmas conservadores da atualidade. “A família brasileira é muito conservadora, questões não-monogâmicas são muito pouco discutidas, assim como a hetonormidade é muito padronizada na sociedade brasileira”, indica Mayra.
Para Vanessa Gebrim, isso também é usado como forma de se ausentar da culpa. “Outro ponto é que quando alguém tem crenças rígidas, geralmente culpa os outros ou o mundo por suas ações. É por isso que o infiel pode justificar sua infidelidade e, portanto, não sentir um pingo de remorso. Também pode acontecer quando a infidelidade foi uma vingança por uma infidelidade ou algum outro dano do seu cônjuge”, revela.
Portanto, a traição e as relações sexuais de forma geral são vistas como uma forma de status, culturamente somos incentivados a isso. “Na nossa cultura, o conquistar, o seduzir, é visto como status. Como se você seduzisse mais pessoas, tornasse você uma pessoa mais importante, com melhor desempenho, e não é bem por aí. Existem pessoas que têm um pensamento, uma formação moral e ética mais bem estruturada. Porque assim, para qualquer pessoa que tenha uma estrutura moral e ética, trair não é considerado normal. Mas para outras pode ser normal. Também temos uma cultura que, infelizmente, contribui um pouco para isso”, finaliza Vanessa Gebrim.
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Fonte: Mulher