Quando pensamos em relacionamentos, nem sempre associamos a vida amorosa harmônica ou conturbada às bagagens individuais que carregamos. No entanto, experiências negativas de relacionamentos românticos e familiares passados podem criar barreiras emocionais que impedem o surgimento ou aceitação de uma nova relação.
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De acordo com a psicóloga especialista em traumas Ediane Ribeiro, o trauma pode afetar nosso senso de segurança nas relações, fazendo com que passemos a agir a partir de um medo condicionado do qual nem sempre temos consciência. Esse medo pode ser de diferentes tipos: medo do abandono, da rejeição, de não sermos adequados, de perder pertencimento e, em última instância, do desamparo.
“Para nos protegermos da dor emocional que essas situações podem causar, desenvolvemos comportamentos de defesa nas relações que podem se manifestar de diferentes formas: ciúmes excessivos, dependência e codependência emocionais, dificuldades para estabelecer limites, ansiedade por agradar, envolvimentos repetidos em relacionamentos abusivos, dificuldade para estabelecer vínculos de intimidade e uma série de outros padrões disfuncionais”, explica a especialista.
Segundo estudos sobre trauma, os homens tendem a desenvolver menos sinais de transtornos do estresse pós-traumático do que as mulheres, no entanto, são mais propensos a desenvolver comportamentos agressivos, compulsões e vícios. Esses, por sua vez, funcionam como um tipo de anestesia na tentativa de frear a dor emocional do trauma.
“Como estamos em uma cultura machista que não ensina os homens a lidarem com suas emoções, eles se tornam uma grande panela de pressão que vem a explodir nos relacionamentos, fazendo com que muitos tenham dificuldade de estabelecer vínculos de intimidade ou assumam comportamentos agressivos e abusivos”, ressalta a psicologa.
Além disso, quando estamos com medo, lutamos, fugimos, atacamos e nos defendemos de diferentes formas, e é neste momento que entram os comportamentos de tentar dominar, subjugar e oprimir o que é diferente de nós. Em uma cultura machista, esse domínio ganha força em comportamentos tóxicos e abusivos de homens em relação às mulheres.
“A cultural machista aumenta a probabilidade desses comportamentos de defesa serem expressos em forma de comportamentos abusivos e tóxicos, já que não é ensinado aos homens formas saudáveis de lidarem com seus medos, fragilidades e dores emocionais. Assim, quando o trauma acontece, as repercussões individuais e coletivas podem afetar o papel social desse homem, aumentando a ansiedade basal e dificuldade para lidar com estresse cotidiano, o que pode levar a adoecimentos ou até busca por segurança em compulsões, vícios ou em grupos que propagam preconceitos e discursos extremistas, já que esses grupos se apoiam na ideia de um ‘inimigo comum’ que leva a uma sensação ainda que ilusória de proteção”, pontua Ediane Ribeiro.
Quando são percebidos prejuízos nos relacionamentos em função de traumas, é recomendado procurar por um especialista que poderá ajudar a lidar com as emoções e as reações que prejudicam a saúde das relações. Além disso, a psicóloga explica que relacionamentos são negociações cotidianas entre necessidades, desejos e expectativas, então é natural termos momentos de insegurança, nervosismo, conflitos e de dúvidas.
“Precisamos reposicionar limites e negociar expectativas o tempo todo dentro de um relacionamento, por isso é natural que em alguns momentos surjam dúvidas sobre a saúde da relação. Caso isso deixe de ser uma exceção e passe a ser o padrão do relacionamento, é preciso ligar um sinal de alerta, para entender o que pode estar por trás desse sentimento constante de confusão, que pode, dentre outras coisas, ser um trauma”, finaliza a especialista.
Fonte: Mulher