Ucrânia está ‘muito mais agressiva’, diz brasileiro em Kursk, cidade russa invadida

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Habitantes de Kursk esperam por trens para sair da região
Guilherme Rodrigues/Acervo Pessoal

Habitantes de Kursk esperam por trens para sair da região

A Rússia entrou em estado de alerta na última quarta-feira (7), com o início da invasão e ocupação parcial da região de Kursk, situada no sul do país, por forças ucranianas. O oblast russo, divisão administrativa, similar a um estado em termos brasileiros, abriga cerca de 1.082.458 habitantes, e a orientação oficial do governo tem sido para que seus moradores evacuem a área.

Entre os afetados está Guilherme Rodrigues, um brasileiro de 26 anos, psicólogo que se mudou para a Rússia com o objetivo de obter seu Mestrado em Psicologia Social. Atualmente na capital homônima do oblast, Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao iG Último Segundo , relatando a situação no local com o avanço das forças ucranianas.

Rodrigues descreveu os recentes acontecimentos enquanto aguardava em uma estação de trem, na tentativa de seguir para Moscou, a capital russa. “Está chegando muita gente, os trens estão lotados, está difícil comprar passagens atualmente e as pessoas estão indo embora”, relatou.

Além dos alarmes que ecoam por Kursk, as orientações do governo russo têm enfatizado a necessidade de evacuação para quem pode, e para os que ficam: manter distância de janelas e prédios para evitar ferimentos graves causados por explosões. É recomendado buscar abrigos em locais sem janelas, como banheiros, ou nos subsolos dos edifícios.

Rodrigues também observou que o transporte público foi suspenso, uma vez que “ônibus são alvos muito fáceis”. Ele observou que, apesar das recomendações, o pedido de evacuação não é oficial. “A gente não vai evacuar a cidade oficialmente, mas as pessoas estão indo embora”, destacou.

Muitos, no entanto, não têm outra opção, e permanecem na cidade. “Tenho amigos que recebi os parentes deles na minha casa, porque estou deixando meu apartamento aqui, mas deixei nas mãos deles, porque eles não têm mais para onde ir”, explicou Rodrigues, ressaltando que “as cidades fronteiriças foram todas evacuadas”.


Kursk, segundo Rodrigues, já foi lar de uma comunidade brasileira “muito expressiva”, considerada uma das principais no leste da Europa. “A gente já foi mais de 300 aqui”, lembrou, mencionando que muitos eram estudantes de Medicina. Hoje, restam apenas cerca de 20 ou 25 brasileiros na cidade.

Com a intensificação do conflito, os brasileiros, como o psicólogo, buscaram assistência da Embaixada brasileira em Moscou. Segundo Rodrigues, não havia planos concretos de evacuação para os brasileiros. “Eles só falaram para mim que aconselhavam que eu fosse para o leste do país”, afirmou.

O brasileiro também mencionou que os bombardeios já podem ser ouvidos, e que algumas cidades enfrentam de 8 a 9 alertas de ataque diários. “A minha sorte é que o governo russo mesmo disponibiliza trens, e aumentaram as frotas de trens para que pudéssemos sair, mas tudo tá sendo feito com o meu dinheiro”, disse, sobre a solução que encontrou.

O psicólogo, que se mudou para a Rússia em 2021, agora segue para Moscou, onde pretende se hospedar na casa de amigos. Frustrado, ele lamenta que não receberá apoio para o custeio de um hotel e observa que “é importante que eu tenha um lugar para ficar”, enfatizando que Moscou é “uma cidade bem cara”.

Rodrigues também se dirige para Moscou porque é onde está localizada a embaixada brasileira: “Acho que, para nós, imigrantes brasileiros e até de outras nacionalidades, o melhor mesmo é se direcionar para Moscou, porque o nosso suporte jurídico principal está localizado lá”.

Quando questionado sobre a guerra em curso desde 2022, um ano após sua chegada à Rússia, ele afirma: “Eu acredito que esse ano a Ucrânia vem se tornando muito mais agressiva do que ela era”. Lembrando que “a gente não tinha alarme de ataque ucraniano no passado”, mas que agora “os alarmes anti-aéreos tocaram mais de cinco, seis vezes todos os dias”.

Para Rodrigues, a guerra envolve a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), “que está tentando se colocar no mundo atualmente como uma nova potência, tanto militar como econômica”. Sua visão política do conflito vai além dos ataques que se aproximam cada vez mais de seu oblast; ele acredita que a guerra é motivada por interesses da indústria armamentista, imperialismo, e a busca por vantagens econômicas.

O iG Último Segundo aguarda um posicionamento da Embaixada do Brasil em Moscou sobre a situação dos brasileiros na região de Kursk. A reportagem será atualizada assim que houver retorno.

Fonte: Internacional

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