Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 9,3% das pessoas sofrem de ansiedade patológica no Brasil, que além de ser considerado o país mais ansioso do mundo, também tem a maior prevalência de depressão na América Latina. Especialmente após a pandemia da Covid-19, a predominância global desses transtornos aumentou em 25%, o que leva cientistas e profissionais da saúde a pensarem em inovações de tratamento.
Nesse contexto, a psicóloga Sheila Drumond, especialista em abordagens de yoga e meditação no campo neurocientífico, tem defendido a aplicação clínica do mindfulness em diferentes áreas da medicina, como ferramenta para reduzir os quadros de agravamento da saúde mental no país.
O mindfulness, também conhecido como atenção plena, é uma meditação que direciona a atenção para o momento presente, sem julgamentos ou distrações. Apesar de suas raízes na tradição budista, nos últimos anos, a prática despertou a atenção de cientistas e pesquisadores por permitir que as pessoas tenham mais presença no seu dia-a-dia e desenvolvam o seu bem-estar físico e mental.
“Você já comeu um pedaço de pizza sem assistir à sua série favorita ou checar as mensagens do celular? Se você já teve essa experiência, com certeza saboreou a sua pizza a cada mordida, prestando atenção na sua textura, no gosto e no seu cheiro. De maneira bem simples, isso é o mindfulness: a habilidade de apreciar cada detalhe, sensação e movimento, sem se deixar levar por pensamentos ou preocupações, seja comendo uma pizza, escutando uma música, fazendo atividade física ou, até mesmo, respirando”, explica Drumond.
Formada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em 2005, e especialista em Yoga pelas Faculdades Integradas Espírita (UNIBEM), Sheila conheceu a prática em 2012, participando de cursos em Buenos Aires e Santiago, e decidiu aprofundar seu conhecimento com um mestrado em Mindfulness pela Universidad de Zaragoza, na Espanha, em 2018. Desde então, diante dos problemas que o Brasil enfrenta com transtornos de ansiedade, depressão e outros distúrbios, a especialista fundou, no país, o primeiro centro de Psicologia Positiva e Mindfulness, com sede no Paraná, que capacita médicos e terapeutas interessados em um novo tratamento clínico para seus pacientes.
“Diversos estudos científicos têm comprovado os benefícios do mindfulness, que, por atuar como uma intervenção para tratamentos na Medicina, passou a ser considerada uma meditação científica. Para se ter uma ideia, a minha tese de mestrado mostrou o caso de um adolescente portador de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) que, por meio de estratégias baseadas em mindfulness e compaixão associadas com terapia cognitivo comportamental, teve uma redução de 100% dos sintomas em 12 semanas, que se prolongou por dois anos seguidos, tempo oficial de duração do estudo”, pontua a psicóloga.
Mindfulness clínico: muito mais do que benefícios terapêuticos
Uma pesquisa intitulada “A neurociência da atenção plena: como o mindfulness altera o cérebro e facilita a regulação emocional”, publicada na revista estadunidense Mindfulness, em 2017, sugere que pessoas que realizam essa meditação exibem maior atividade no córtex pré-frontal, no córtex cingulado anterior e córtex insular, além de menor atividade na amígdala.
Isso significa que a sua abordagem, no campo da neurociência, tem princípios que podem mudar estruturas cerebrais, aumentando a conectividade entre as regiões do cérebro e potencializando diferentes atividades do corpo, como concentração, memória, aprendizagem e função cognitiva.
Portanto, muito além da redução de estresse, do regulamento de distúrbios mentais e do processo construtivo de autoconhecimento, os resultados a longo prazo da prática de mindfulness podem estimular, até mesmo, as condições físicas do organismo, como qualidade de sono, recuperação muscular, fortalecimento do sistema imunológico e percepção de dores no corpo.
“Por fazerem parte de uma nova abordagem terapêutica, os conceitos de mindfulness estão em constante evolução. Mas, certamente, o mindfulness é uma ferramenta coringa, adaptando-se a diferentes públicos e ramos da saúde. E, com essa prática, nós ainda podemos acolher nossos pacientes em uma comunicação que a Psicologia dificilmente alcança: a espiritualidade. Então, a minha missão é usar uma linguagem neuro contemplativa para estabelecer, pela primeira vez no país, um caminho saudável para relacionar o campo espiritual no terapêutico para a promoção de saúde mental, que já é um assunto em defasagem na psicologia tradicional.”
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Fonte: Mulher