Um youtuber libanês, que se apresenta nas redes como Arab, publicou um vídeo polêmico segurando armas e entrevistando supostos chefes do tráfico de drogas de uma comunidade no Rio de Janeiro dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP). O conteúdo foi disponibilizado no Youtube na última segunda-feira (3) e, em quatro dias, já alcançou mais de 1,2 milhões de visualizações. Conforme apurado pelo DIA, todos os vídeos que chegam ao conhecimento da Polícia Civil são analisados.
Arab inicia o vídeo em questão segurando uma arma que, segundo ele, pertence ao líder do crime da comunidade. O youtuber afirma que conquistou a confiança da facção para gravar a rotina naquele local. “Esses caras confiam em mim o suficiente para eu vir até aqui. Eu poderia matá-lo, estou segurando a arma dele agora”, diz Arab. Entre os supostos criminosos entrevistados está um homem de 34 anos que diz ter iniciado a vida no crime aos 16.
Na conversa com Arab, o homem se mantém o tempo todo com um pano cobrindo o rosto para não ser identificado. Em uma outra rede social, o criador de conteúdo exibe com orgulho o vídeo e conta como foi a experiência de visitar a comunidade e conhecer os criminosos. “Eles me mostraram toda a operação, abriram as mesas do mercado de drogas no meio da rua, cortei meu cabelo ao lado de um viciado em cocaína, e pude entrevistá-los e ficar bem próximo do pessoal”, detalhou Arab.
Para evitar que o vídeo fosse removido da plataforma por causa das cenas, o criador de conteúdo borra a imagem toda vez que uma arma aparece. Ele também disponibiliza o mesmo vídeo, sem censura, em um outro site criado por ele mesmo. “Este vídeo destina-se a fins educacionais. O conteúdo foi alterado para se adequar às diretrizes do Youtube”, informa uma mensagem antes de começar o vídeo.
Arab, que também se intitula comediante, já tem mais de 700 vídeos publicados, gravados em vários lugares do mundo, e possui 615 mil seguidores. “Eu exploro os lugares mais perigosos do mundo e os documento”, diz ele na biografia do perfil.
No início de junho, o youtuber publicou um outro conteúdo polêmico, dessa vez em Paraisópolis, uma comunidade do estado de São Paulo. O título do vídeo é “Mantido em cativeiro na favela mais perigosa do Brasil”. No conteúdo, ele também aparece no interior da comunidade conversando com criminosos.
Questionado se o órgão de segurança pública também iria analisar o vídeo de Arab, e por qual especializada, o jornal não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Em maio deste ano, imagens do rapper britânico Central Cee e de seus amigos segurando fuzil e pistolas na Vila do João, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, viraram objeto de investigação na Polícia Civil do Rio. Um inquérito foi instaurado na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) para apurar se os armamentos que aparecem nas fotos são verdadeiros e se tem relação com alguma facção criminosa da cidade do Rio.
Quase dois meses depois do ocorrido, a Polícia Civil ainda não informou se o caso segue em investigação ou foi arquivado por falta de provas. O rapper saiu do país um dia depois das imagens viralizarem.
Também em maio, a DRE indiciou o blogueiro Rômulo Felipe Freire, de 47 anos, pelos crimes de apologia ao crime, estelionato e incitação ao crime, após levantamento de dados de inteligência. Segundo os agentes, ele trabalha como barbeiro na Zona Oeste do Rio e publicava vídeos na internet forjando estar em uma cela. A encenação acontecia em um “estúdio” nos fundos da barbearia.
Nos conteúdos do perfil do indiciado, com mais de 30 mil seguidores, Rômulo aparece usando uma linguagem peculiar de criminosos e fazendo apologia a diversos crimes. Na maioria dos vídeos ele relata como é a rotina de um prisioneiro no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio, fingindo estar nessas condições. Em um dos conteúdos ele conta uma história de como o dinheiro que entra na cela é dividido com o diretor da unidade: “O dinheiro é dividido com o diretor. O sistema é esse e todos ficam felizes”.
O blogueiro já ficou preso por três anos pelo crime de formação de quadrilha por ligação com a milícia. Procurada pela reportagem, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) informou, nesta sexta-feira (5), que os autos foram distribuídos para o 18º Juizado Especial Criminal do Rio, no Fórum Regional Campo Grande. Também será marcada uma audiência preliminar, sem data definida até o momento. Rômulo aguarda a audiência em liberdade.
Fonte: Nacional